"Não nos resta dúvida alguma de que este caso vá parar na comunidade internacional. Este caso vai acabar percorrendo cada país onde houver democracia", enfatizou o governador do estado de Miranda, derrotado por Maduro por uma diferença de 1,49%. O prazo para apresentar a impugnação termina na segunda-feira. A oposição anunciou sua iniciativa depois de o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ter anunciado uma auditoria dos resultados eleitorais, mas sem a revisão dos registros de votação, exigência importante da oposição para demonstrar supostas irregularidades.
Os opositores poderão recorrer à Corte Internacional de Direitos Humanos, da qual o governo venezuelano decidiu se retirar em setembro passado, mas que terá sua saída efetivada apenas no prazo de um ano. A oposição denunciou que alguns venezuelanos já mortos aparecem nos registros eleitorais. "Acomodaram a auditoria, uma auditoria mal feita", criticou Capriles, que acusa o CNE de estar a serviço do governo e chama Maduro de "presidente ilegítimo".
Duas marchas, duas Venezuelas
Capriles liderou uma manifestação opositora no leste de Caracas. Paralelamente a um ato chavista, um reflexo da divisão dos venezuelanos. "Estou na marcha pelo descontentamento que estamos vivendo no país, pelas eleições mal feitas. Sinto que meu voto foi roubado", destacou a funcionária da prefeitura da cidade de Chacao, Sara Clavico, de 60 anos.
Antes da passeata no oeste da capital, a funcionára do Ministério da Educação, Zoraida Castro, de 59 anos, culpou a oposição pelo ambiente de tensão no país. "O ambiente que vivemos no país é de ameaça das pessoas da direita. Há um ambiente tenso por causa de suas provocações, porque há um setor que não reconhece Maduro e um governo que o defende", disse.
Nos dias posteriores às eleições, protestos da oposição contra a eleição de Maduro deixaram nove mortos e dezenas de feridos. Em outro episódio violento registrado nesta terça, deputados chavistas e opositores trocaram socos durante uma sessão parlamentar, após os governistas aprovarem uma medida que nega a palavra à oposição por ignorar a eleição do presidente Nicolás Maduro.
"Não sou o único agredido, vários deputados apanharam e o responsável direto é o senhor Diosdado Cabello", presidente da Assembleia Nacional, "que exige nosso reconhecimento de Nicolás Maduro", salientou o legislador Julio Borges mostrando o rosto sangrando ao canal Globovisión. Já a deputada chavista Odalis Monzón disse que foi "atacada pela bancada opositora" e agradeceu seus companheiros por "defendê-la", em declaração à TV da Assembleia Nacional.
Os vídeos divulgados por deputados opositores - o canal oficial da Assembleia suspendeu a transmissão ao vivo da sessão - mostraram os momentos da confusão. O deputado chavista Elvis Amoroso afirmou que a oposição não foi a uma reunião prevista para esta quarta para tentar o diálogo. "Estes senhores mentirosos não foram à reunião. Se eles não reconhecem nosso presidente constitucional não temos por que reconhecê-los, já que também foram eleitos pelo mesmo sistema de votação", disparou Amoroso.
Os Estados Unidos manifestaram nesta terça a sua preocupação com a briga na Assembleia Nacional venezuelana e pediram que todas as partes mantenham a calma. "A violência não tem lugar em um sistema representativo, democrático, e é particularmente inapropriada dentro da Assembleia Nacional (venezuelana)", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Patrick Ventrell.
AFP