Moscou reagiu imediatamente às declarações, afirmando que o governo britânico deveria se desculpar com a Rússia e a comunidade internacional. "O governo de Theresa May e seus representantes terão de se desculpar por tudo que fizeram, tanto com a Rússia, quanto com a comunidade internacional. Isso virá mais tarde, mas virá", declarou aos jornalistas a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova.
A Rússia também pediu à Polícia britânica que não se envolva "nos sujos jogos políticos". "Pedimos às forças da ordem britânicas que não cedam aos sujos jogos políticos iniciados por certas forças em Londres e que cooperem, nessa investigação, com as forças da ordem russas", acrescentou Zakharova. O ministro britânico do Interior, Sajid Javid, por sua vez, cobrou da Rússia explicações após o novo incidente. "Está na hora do Estado russo explicar exatamente o que está acontecendo", declarou diante do Parlamento, reiterando as acusações contra Moscou. E o secretário de Estado para a Segurança, Ben Wallace, indicou à rádio BBC que as autoridades trabalham com a hipótese de que as duas pessoas "foram vítimas das consequências do primeiro atentado, ou de algo mais, mas não eram alvos diretos".
O responsável pela unidade antiterrorista da polícia britânica, Neil Basu, explicou que a "possibilidade dos dois casos estarem ligados é claramente uma das linhas de investigação". Na quarta-feira à noite, a polícia indicou que os testes realizados revelaram que o casal foi exposto ao Novichok, um agente neurotóxico militar desenvolvido pela União Soviética durante a Guerra Fria. Wallace insistiu que os russos estavam por trás do atentado contra os Skripal. Em Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, afirmou à imprensa que o caso "é muito preocupante, mas que não dispunha de informações sobre quais substâncias foram usadas ou como foram usadas". "Desde o início, a Rússia se propôs a conduzir uma investigação conjunta com a britânica, e a oferta segue sem resposta", afirmou Peskov.
"Baixo risco"
Basu insistiu que o risco para a população é baixo, e considerou que se alguém tivesse sido exposto à substância "já teria mostrado sintomas". No entanto, ele admitiu que ainda não há indicações de onde o veneno poderia estar e pediu às pessoas que não tocassem em nada sem saber o que é. Basu afirmou que não há nada que sugira que o casal "fosse um alvo". O vizinho Sam Hobson, de 29 anos, relatou à AFP que era amigo do casal e que esteve com eles quando adoeceram.
"Fui à casa de Charlie pela manhã e havia muitas ambulâncias do lado de fora, e eles levaram sua namorada", explicou. "A mulher havia reclamado de manhã que sentia dor de cabeça, foi tomar banho e lá começou a sofrer um ataque, com espuma saindo de sua boca". Por volta das 9h15, ela foi hospitalizada, e Hobson e Rowley foram a uma farmácia e depois Rowley reclamou que não estava se sentindo bem. "Suava muito, babava, não conseguia falar", narrou Hobson. "Fazia barulhos estranhos, se balançava para frente e para trás, não respondia e nem sabia que eu estava ali. Era como se estivesse em outro mundo".
Hobson chamou uma ambulância por volta das 14h30. O amigo explicou que o casal havia estado em Salisbury na sexta-feira e especulou que "poderiam ter tocado em algo contaminado". A princípio, a polícia acreditou que o casal havia consumido drogas adulteradas, mas acabou por enviar amostras ao laboratório militar de Porton Down. Os dois seguem em estado crítico no Hospital de Salisbury, o mesmo que cuidou dos Skripal. As autoridades visitaram vários locais por onde o casal passou, como um parque, um albergue de Salisbury, além da farmácia, a igreja e a casa de Amesbury.
Em 4 de março, Serguei e Yulia Skripal foram encontrados inconscientes e hospitalizados em estado crítico em Salisbury depois de tomar uma cerveja em um pub e almoçar em um restaurante italiano. Eles foram tratados por semanas e finalmente se recuperaram e receberam alta médica. Londres acusou Moscou de estar por trás do ataque contra Skripal, um ex-coronel dos serviços secretos militares russos condenado por traição por transmitir segredos a Londres, e acabou se estabelecendo na Inglaterra após uma troca de espiões.
AFP