Carolina Aguilar, de 52 anos, disse marchar porque está "cansada de um governo que mata impunemente". "Não podemos viver com um assassino, com um escorpião que dia a dia está nos matando. Daria o meu sangue para que isso acabasse. Se é o que quer: me mate! Mas deixe o povo livre", declarou à AFP.
A opositora Aliança Cívica pela Justiça e Democracia, que reúne grupos da sociedade civil, aumentou com esse protesto a pressão, que inclui uma greve nacional na sexta-feira (a segunda durante a crise) e uma caravana no sábado pelos combativos bairros orientais de Manágua.
As manifestações começaram em 18 de abril contra a reforma da Previdência, mas se estenderam à exigência de saída do poder de Ortega, que governa desde 2007 pelo terceiro mandato consecutivo, e que é acusado de criar uma ditadura junto com sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo. "Sabemos que os propósitos terroristas de um pequeno grupo de nicaraguenses obstinados no ódio não prosperariam, não prosperaram e não prosperarão", disse Murillo.
O governo intensificou nas últimas semanas as operações em que policiais e paramilitares derrubaram barricadas com as quais manifestantes bloqueavam as vias , agravando a violência. Para responder à estratégia opositora, o governo fará na sexta-feira, dia da greve, a chamada "retirada", uma caravana que anualmente Ortega lidera por esta data até Masaya, 30 quilômetros ao sul de Manágua, para recordar um gesto da Revolução Sandinista de 1979.
O anúncio do governo colocou em alerta máximo o aguerrido bairro indígena de Monimbó, no sul de Masaya, onde seus moradores se mantêm entrincheirados atrás de grandes barreiras de pedras. "Nunca vão entrar, a menos que matem todos", assegurou em uma dessas barricadas um homem com o rosto coberto, de gorro e camisa verde oliva.
Ortega, ex-guerrilheiro sandinista de 72 anos que lutou na insurreição popular para derrubar o ditador Anastasio Somoza, intensificou nos últimos dias as operações nas quais policiais e paramilitares derrubam os bloqueios de vias, agravando a violência. "Estamos demostrando ao regime que não temos medo. Tiramos Somoza e vamos tirar Ortega. Temos que tirá-lo porque este homem disparou contra o povo que o elegeu", expressou Fernando Callejas, médico de 67 anos.
Um dia antes da marcha, o secretário executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Paulo Abrão, pediu ao governo, ao apresentar um relatório ao conselho permanente da OEA em Washington, para "garantir protestos pacíficos" e "acabar com a repressão". O governo de Ortega considera os manifestantes opositores como "criminosos", "golpistas" e "terroristas". O chanceler Denis Moncada qualificou o relatório da CIDH de "apressado", "preconceituoso e carente de objetividade".
AFP