Composto pelo movimento populista ANO de Babis e pelo partido social-democrata CSSD, o governo só foi capaz de conquistar o voto de confiança graças ao apoio do partido comunista KSCM nostálgico do antigo regime. "Quem governa com os comunistas, desonra as vítimas da ocupação de 1968!", reclamava o cartaz de um manifestante. Cerca de 15 tchecos, em sua maioria jovens, morreram em 21 de agosto de 1968 em frente à Rádio Praga quando tentavam impedir desarmados a tomada do prédio.
Gritos de "Vergonha!" e vaias ensurdecedoras de centenas de manifestantes acompanharam o discurso de Babis, cercado de guardas-costas e acompanhado pelo chefe da Câmara Baixa, Radek Vondracek, membro do ANO. Os opositores criticam Babis por ter pertencido ao partido comunista e por supostamente colaborar com a polícia secreta StB antes de 1989. "Bures, fora!", gritaram igualmente os manifestantes, em referência ao supostos codinome do empresário na StB.
Precursor da "perestroica"
Precursor da "perestroica" de Gorbachev, a "Primavera de Praga" encarnada por Alexander Dubcek se traduziu principalmente por uma reforma política e econômica, a abolição da censura e uma liberdade de reunião e de associação. Na madrugada de 20 a 21 de agosto de 1968, cerca de 30 divisões soviéticas, apoiadas por unidades búlgaras, húngaras, polonesas e da Alemanha Oriental, acabaram com este sonho efêmero. "Há 50 anos, a invasão soviética da Tchecoslováquia esmagou a Primavera de Praga. Mas o desejo de liberdade e democracia sobreviveu e constitui a base do que une a Europa hoje", escreveu nesta terça-feira o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, no Twitter.
Várias cerimônias, shows e comícios acontecem em toda a República Tcheca. No final da tarde, um show está programado na Praça Venceslas, com vários astros da música pop, incluindo a cantora Marta Kubisova. Em 1968, Marta Kubisova defendeu abertamente a "Primavera de Praga". Na segunda-feira, vários manifestantes já haviam se reunido em frente à embaixada da Rússia em Praga, respondendo à convocação de ONGs locais.
Presidente pró-russo se cala
Ao longo de todo o dia, a televisão pública Ceska Televize (CT) exibe programas especiais, à espera, no final da tarde, de um discurso do presidente eslovaco Andrej Kiska. "Agosto de 1968 faz parte de um desses eventos que é preciso sempre recordar para as futuras gerações. Esses eventos marcaram cada família e continuam na memória de nossos familiares e avós", indicou o primeiro-ministro eslovaco Peter Pellegrini, nas colunas do jornal Hospodarske Noviny de hoje.
Em contrapartida, o chefe de Estado tcheco Milos Zeman, que é acusado por seus críticos de uma política pró-russa, decidiu manter-se em silêncio. A ausência de Zeman, um ex-comunista assim como Babis, nas cerimônias foi muito criticada pelos partidos da oposição de direita.
Segundo seu porta-voz Jiri Ovcacek, o presidente "já provou sua coragem ao se opor publicamente à ocupação em 1968". Na Eslováquia, que se separou da República Tcheca em 1993, o evento mais marcante será a inauguração em Kosice de um monumento em homenagem ao jornalista investigativo Jan Kuciak, assassinado em 21 de fevereiro com sua noiva. O aniversário da intervenção do Pacto de Varsóvia cai exatamente seis meses após a morte do repórter, segundo o autor do monumento Peter Kalmus.
AFP