Grande parte do tesouro artístico guardado por Notre-Dame de Paris sobreviveu às chamas que queimaram a centária catedral, mas corre perigos. O grande órgão "não foi queimado" no incêndio que devastou o edifício, mas sua estrutura pode ter sido comprometida, informou um dos três organistas titulares da catedral mundialmente famosa. O instrumento, restaurado ao longo dos séculos e cuja parte principal da estrutura data do início do século 15, "está parcialmente preservado, mas está coberto por entulho, poeira e água", afirmou Philippe Lefèvre, que toca há 35 anos o instrumento. "Nos próximos meses, tudo isso vai secar e pode causar problemas estruturais", disse o senhor, entrevistado em Montreal, vilarejo de Aude (sudoeste da França) onde reside quando não está em Paris.
"Esperamos que sua estrutura permaneça estável e que, assim que possível, ele seja abrigado", acrescentou ele, observando que o instrumento é um dos maiores da Europa. "O pequeno órgão, que estava sob a torre em forma de flecha, foi danificado pelo fogo", disse ele. Ele expressou seu "temor" em vista da destruição infligida à catedral, onde ele tocaria nesta quarta-feira na missa crismal, celebrada durante a Semana Santa. "Mas o pior já foi evitado, Notre-Dame ainda está de pé, e o que é reconfortante é a reação unânime de todo o mundo", tentou tranquilizar-se, observando que "Notre-Dame vive com a vida das pessoas há séculos".
As estátuas monumentais que decoravam o teto da catedral escaparam por pouco da tragédia, depois que foram enviadas na semana passada ao sudoeste da França para um processo de restauração, mas o galo relicário que coroava a flecha (a torre do templo) queimou antes de ser enviado para a renovação. Ele seria retirado em junho e enviado para os ateliês da Socra (Restauração e Conservação de Obras de Arte e Monumentos Históricos). Este galo, também de cobre, abrigava segundo a Igreja relíquias de Santa Genoveva e St. Denis, assim como um fragmento da coroa de espinhos de Cristo, que deveria proteger os parisienses. A restauração das 16 estátuas "está suspensa no momento, adiada, esta não é a prioridade", afirmou Patrick Palem, ex-presidente e ainda conselheiro da Socra, a empresa responsável por restaurar os 12 apóstolos e os quatro evangelistas de cobre, que datam do século XIX e que na quinta-feira passada foram retirados de helicóptero do teto.
Esta obra de restauração das estátuas estava avaliada pela Socra em 400 mil euros. A devolução das obras aconteceria em 2022. "A prioridade é uma obra em maior escala, a reconstrução e a reforma de Notre-Dame, que pode durar entre 15 e 20 anos, provavelmente ao custo de centenas de milhões de euros", disse. As estátuas foram instaladas durante a reconstrução da flecha na catedral, lideradas entre 1859 e 1860 pelo arquiteto Eugène Viollet-le-Duc, que se fez representar como São Tomás. A flecha original foi construída em 1250 e depois desmontada nos anos 1786-1792.
Restarações no Louvre
As grandes pinturas de Notre-Dame de Paris, danificadas em particular pelos vapores do incêndio que atingiu a catedral, devem ser transportadas de sexta-feira ao Louvre para restauração, disse o ministro da Cultura, Franck Riester. "Elas não sofreram danos relacionados ao fogo, mas sim fumaça", disse ele à imprensa que o interrogou perto da catedral. "Eles podem ser removidos de sexta-feira presumivelmente e transportados com segurança para as reservas do Louvre, onde serão desidratados e restaurados", disse o ministro. Além disso, "as grandes Rosas aparentemente não sofreram danos catastróficos", afirmou, se referindo aos vitrais.
"Os arquitetos especializados estão mobilizados para garantir a segurança do local como um todo. Há pontos de vigilância, incluindo o trecho do transepto norte. É preciso ser muito cuidadoso. Há três buracos importantes. Os arquitetos estão definindo com os bombeiros de Paris os melhores arranjos a serem tomados para preservar o que está mais ameaçado", concluiu.
AFP