O governante catalão deve esclarecer se declarou ou não, na terça-feira passada, a secessão durante um discurso no Parlamento regional. Na ocasião, Puigdemont provocou um grande desconcerto, pois declarou unilateralmente a independência mas a suspendeu de modo imediato, como "gesto" de boa vontade para propiciar um diálogo ou uma mediação internacional. Caso ele responda na segunda-feira a Rajoy que declarou a independência, terá até quinta-feira para retificar: caso isto não aconteça, o governo espanhol está disposto a intervir na ampla autonomia da Catalunha, com o uso do artigo 155 da Constituição.
A medida, nunca aplicada em 40 anos de democracia na Espanha, pode resultar nos protestos de milhares de independentistas, que aguardam com ansiedade o desenrolar dos acontecimentos. Neste contexto, Junqueras afirmou neste sábado à direção do partido que preside, 'Esquerra Republicana de Catalunya', que "a melhor maneira de fazer a República, de fazer a independência, é poder fazê-la dialogando com todos, como mínimo com a comunidade internacional".
No entanto, "para que o diálogo tenha alguma expectativa de frutificar (...) precisa ter como referência a construção da República e nosso compromisso com a independência". Os independentistas se amparam no referendo de autodeterminação de 1 de outubro, proibido pela justiça espanhola. Apesar de não ter contado com as exigências habituais (ausência de comissão eleitoral e sem garantia de voto secreto), o governo catalão o considera valido e afirma que 90% das pessoas votaram 'sim' à independência, com uma participação de 43%.
Neste sentido, Junqueras manifestou o apoio de seu partido ao presidente Puigdemont para que cumpra "o mandato de 1 de outubro, que é o mandato de constituir a República Catalã". Para o partido de extrema-esquerda CUP, aliado chave do governo catalão, o diálogo com Madri é impossível. "Não há diálogo possível, não há mediação possível", disse à imprensa em Barcelona Núria Gibert, porta-voz do secretariado nacional da Candidatura de Unidade Popular. Ela criticou a estratégia do presidente regional.
Madri quer resposta clara
Puigdemont se encontra sob intensa pressão. Ele e seu governo são investigados pela justiça espanhola por supostos delitos como o de "desobediência". Ao mesmo tempo são pressionados pelos empresários catalães, que diante da incerteza política retiraram da região a sede social de empresas importantes, como Gas Natural ou os bancos Caixabank e Sabadell.
Entre 2 e 11 de outubro, 540 empresas mudaram a sede social. Ao mesmo tempo, a ala mais dura dos separatistas o incentiva a apresentar uma declaração formal e inequívoca de independência para fortalecer sua posição ante o Executivo central e a comunidade internacional.
Neste sábado, o ministro espanhol do Interior, Juan Ignacio Zoido, deixou claro que o governo de Rajoy não aceitará uma resposta confusa ao requerimento. "Se responder de modo ambíguo, isto significará que não quer o diálogo e, portanto, o governo da Espanha, o governo de Mariano Rajoy, que estendeu a mão de maneira muito sincera, terá que aplicar as medidas correspondentes", declarou o ministro.
Xavier García Albiol, líder do Partido Popular na Catalunha (que governa a Espanha mas é minoritário na região) se mostrou favorável a aproveitar o artigo 155 para intervir em competências delicadas, como a educação pública e a polícia regional catalã.
AFP