Sete grandes operações, nos últimos meses, resultaram na prisão de 17 pessoas ligadas a movimentos neonazistas pela Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância, da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil de Santa Catarina. Segundo o delegado Arthur Lopes, o trabalho investigativo demonstra que se trata de um problema nacional, com células espalhadas por outros estados, como Rio Grande do Sul e Paraná. “Aqui as investigações têm revelado esse problema, tanto que a maioria dos nossos indiciados presos são de fora de Santa Catarina”, observou.
Em novembro do ano passado, o trabalho policial resultou, por exemplo, na prisão de oito criminosos, sendo três gaúchos, três catarinenses, um paranaense e um mineiro, que estavam reunidos na área rural de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis. No local, os agentes também recolheram provas robustas, como revistas, panfletos e outros objetos com símbolos nazistas, que não deixaram dúvidas sobre o envolvimento do grupo com ideais extremistas. Outros dois integrantes deste grupo, também gaúchos, foram detidos posteriormente em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Todos permanecem presos.
O delegado Arthur Lopes contou que o grupo tinha um sistema rigoroso de recrutamento e buscava novos integrantes pela internet. “Eles faziam parte de um braço de um grupo armado de supremacia branca e neonazista fundado nos Estados Unidos”, afirmou.
Outro caso que repercutiu foi a prisão em março deste ano de um jovem extremista, em Porto Belo, que fazia apologia ao nazismo e disseminava ódio contra negros e judeus na internet.
“As investigações revelaram os crimes raciais e de apologia ao nazismo praticado pelo indiciado, bem como a sua inclinação ao extremismo, visto que a todo o momento procurava, consumia e difundia conteúdo de ódio, demonstrando especial interesse por ataques terroristas de lobo solitário”, disse o delegado. No histórico criminal do jovem de 19 anos, constam casos de violência na escola, como a agressão a uma professora com um soco na boca, e inúmeras publicações racistas e antissemitas há vários anos. Ele também não aceitava ter aulas com um professor negro.
“O jovem indiciado é um produto do mais recente modelo de recrutamento de grupos neonazistas”, avaliou. Como muitos adolescentes, ele era viciado em jogos eletrônicos. “O que muitos pais ignoram ou desprezam é que esses jogos eletrônicos permitem conversas em grupo enquanto acontecem. É aí que entram os neonazistas. Eles formam pequenos grupos de hábeis jogadores que, eventualmente, permitem que outro jogador participe de seus jogos. Aqui estamos falando de jogadores muito novos, pré-adolescentes ou adolescentes, sempre meninos”, enfatizou o delegado Arthur Lopes.
O delegado titular da Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância assinalou que não é raro descobrir nos computadores desses rapazes imagens de pedofilia e zoofilia. “Elas são enviadas pelos mentores neonazi para que esses jovens, que já tem uma certa representatividade nas redes sociais, publiquem em seus perfis. Os recrutadores, também não raramente, são pedófilos e por isso a facilidade de conseguir esses vídeos”, explicou.
O delegado Arthur Lopes disse que a prisão do jovem indiciado tem um efeito colateral pedagógico e preventivo. “Hoje ele não é inocente, nem por um segundo. Foram escolhas que ele fez em nome da vaidade, para ser reconhecido como um diligente neonazista”, destacou. O pedagogismo advém de conhecer o caminho dele e impedir que outras crianças sigam essa mesma jornada. “Os recrutadores do jovem indiciado devem estar extremamente satisfeitos com o sucesso do produto que criaram. Devem usar a prisão dele como forma de transformá-lo em herói da causa. O que eles ignoram, é que o caso de sucesso deles, também vai ser a queda da bolha em que eles se encontram”, assegurou.
Ele lembrou que ninguém é anônimo em chats de plataformas como Discord, Telegram e Playstation. “Acham que seus passos não são acompanhados. A repressão às condutas deste jovem indiciado é o começo de uma repressão contra toda uma bolha neonazista. É uma lição que não tem nada de agradável em ser aprendida, mas que precisa ser ensinada. Em toda casa, em toda escola, em todo o Brasil”, concluiu o delegado Arthur Lopes.
“Santa Catarina é o estado que mais combate o movimento neonazista no Brasil. E isso aparece nos números do trabalho realizado pelos nossos profissionais. Somos protagonistas no combate aos movimentos extremistas”, declarou o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel. Na opinião dele, a identificação dos integrantes das células neonazistas não é uma tarefa fácil, pois não existe um perfil comum. “Encontramos extremistas de todas as idades e ocupações, variando a forma como se associam e promulgam essas ideias neonazistas”, ressaltou o delegado Ulisses Gabriel.
Correio do Povo