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Índios afirmam que filha adotiva de Damares foi levada irregularmente, diz revista

Reportagem da Época conta como a ministra teria pego uma criança da aldeia Kamayurá sem autorizações

Índios afirmam que filha adotiva de Damares foi levada irregularmente, diz revista | Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Índios da aldeia Kamayurá, no centro da reserva indígena do Xingu, no norte do Mato Grosso, afirmaram à revista Época que a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, levou Kajutiti Lulu Kamayurá, à época com seis anos, irregularmente da tribo. Ela apresenta a garota, hoje com 20 anos, como sua filha adotiva, mas a adoção nunca foi formalizada legalmente, conforme a própria já admitiu em entrevista. Segundo os índios, Lulu deixou a aldeia levada pela amiga e braço direito da ministra, Márcia Suzuki, sob o pretexto de fazer um tratamento dentário na cidade, mas nunca mais voltou.

Os relatos contam que a mãe biológica da criança não tinha condições de cuidar dela e que Piracumã, o tio da menina, teve a ideia de deixá-la aos cuidados da vó paterna, Tanumakaru. A aldeia, no entanto, sofria com escassez de comida e remédios, e Lulu chegou a ficar desnutrida. Ela foi levade de avião por servidores que cuidam da saúde dos indígenas na região e se recuperou, mas ficou com a dentição torta pelo uso de mamadeira. "Chorei, e Lulu estava chorando também por deixar a avó. Márcia levou na marra. Disse que ia mandar de volta, que quando entrasse de férias ia mandar aqui. Cadê?", disse, em tupi, a avó, hoje quase octogenária. Questionada se sabia que a meninas não mais retornaria, respondeu: "nunca".

Márcia e Damares fundaram a ONG Atini, cuja bandeira é salvar crianças indígenas do infanticídio. "Márcia veio na Kuarup (festa tradicional em homenagem aos mortos), olhou os dentes todos estragados (de Lulu) e falou que ia levar para tratar", contou Mapulu, pajé kamayurá e irmã do cacique. Em resposta a questionamentos da revista, a ministra afirmou que a família biológica da a visita regularmente. Perguntada porque a criança não voltou à aldeia após o tratamento dentário, Damares disse que Lulu retornou ao local para visitas. "Ela deixou o local com a família e jamais perdeu o contato com seus parentes biológicos".

Os índios, por sua vez, dizem que a primeira visita de Lulu só aconteceu há cerca de dois anos. A questão sobre não ter adotado formalmente a menina foi ignorada pela ministra. Segundo a revista, para estar de acordo com a lei, a adoção de uma criança indígena precisa passar pelo crivo da Justiça Federal e da Justiça comum. A adoção, ou mesmo a guarda ou a tutela, também dependem do aval da Funai. No processo, uma equipe de estudos psicossociais deve analisar se há vínculos entre a criança e o adotante e se a família mais extensa corrobora a adoção. No caso dos indígenas, deve ser ouvida a aldeia.

Em diversas ocasiões, a ministra fez críticas aos costumes indígenas. Em 2013, em um culto, Damares disse que além de Lulu ter sido salva do infanticídio e ter sido maltratada pela miséria dos kamayurás, a menina seria escrava do próprio povo. As acusações de infanticídio e maus-tratos feitas pela ministra são rebatidas pelos kamayurás. "Quem sofreu mesmo, quem ficava acordada fazendo mingau, era a vovó Tanumakaru, não a Damares. Ajudei a buscar leite nessa época", disse a pajé Mapulu. Os índios, porém, não negam que sacrificavam crianças no passado. No caso de Lulu, foi Piracumã, o tio da criança, quem insistiu para a mãe não enterrar o bebê. "Antigamente, tinha o costume de enterrar. Hoje, a lei mudou", completou Mapulu.

AE