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Assembleia Legislativa realiza ato para “descomemorar” o golpe de 64

Representantes políticos, associações e familiares de pessoas que morreram durante o período relembraram os 60 anos do golpe

Ato teve como objetivo relembrar os 60 anos do golpe de 1964 | Foto: Fabiano do Amaral

O golpe de 1964 completou 60 anos no dia 1º de abril e, como parte das ações para relembrar a história, a Assembleia Legislativa recebeu um ato de “descomemoração” nesta quinta-feira. A solenidade teve iniciativa de 32 organizações da sociedade civil e reuniu deputados, vereadores e lideranças políticas, além de ex-presos políticos e militantes de Direitos Humanos.

O ato unitário ocorreu na Sala João Neves da Fontoura, Plenarinho da Assembleia Legislativa, e teve como um dos grandes objetivos relembrar a memória do tenente-coronel da Aeronáutica Alfeu de Alcântara Monteiro. Comandante da Base Aérea de Canoas, ele é considerado a primeira vítima fatal do golpe e foi morto, exatamente, no dia 4 de abril de 1964.

Uma das presenças mais ilustres do evento foi a do ex-deputado Aldo Arantes, que presidiu a União Nacional dos Estudantes (UNE), foi perseguido político, ativista e dirigente partidário. Ele discursou e relembrou sua gestão, que iniciou em 1961, após a renúncia do então presidente Jânio Quadros. Relatou que esteve ao lado do governador Leonel Brizola, na campanha realizada no Rio Grande do Sul, que almejava garantir a posse do vice-presidente João Goulart.

Arantes falou sobre os anos seguintes e defendeu o presidente da República em 64, João Goulart, que foi o primeiro a visitar a UNE. Depois, os dois se reencontraram no Uruguai, durante o exílio. Ele também citou um manifesto lido pelo presidente na época, que defendia a democracia e uma série de reformas estruturais. “Esse pronunciamento deixa clara a necessidade dessa reforma de base. E essa foi a razão do golpe naquele momento”, disse o ex-senador, que encerrou sua fala com o pedido de que um novo golpe “nunca mais se repita”.

Em homenagem à memória do aviador Alfeu de Alcântara Monteiro, dois familiares estiveram presentes para lhe representar. Além disso, o conhecido militante dos direitos humanos, Jair Krischke, contou a história do militar e a data de sua morte. “Dia 4 era um sábado. Ele foi chamado ao comando pelos interventores. Ele fardou-se. Foi a esta reunião fardado e lá foi assassinado”, lembrou.

Krischke também falou sobre o inquérito que apurou a morte do aviador, considerado por ele uma vergonha. Rechaçou a versão de que o coronel havia sido morto em uma reação por ter ido até a base armado. “Ele foi assassinado pelas costas e você, examinando o inquérito, se dá conta. Mas nós conseguimos. A Justiça Federal mandou alterar os registros e anotar que ele foi assassinado”, encerrou ressaltando que, depois de morte, Alcântara Monteiro passou a ser reconhecido como brigadeiro.

Neto de João Goulart, o advogado Christopher Goulart também foi ouvido. Embora tenha nascido em 1976 durante o exílio, ele afirma que, para contar sua história, precisa dizer que nasceu em 64, para que possa explicar o porquê de ter nascido na Inglaterra e ter mãe uruguaia.

Goulart também reforçou que, muitas vezes, as pessoas não imaginam o quanto o golpe desestabilizou as estruturas familiares das gerações subsequentes às vítimas. “Eu me sinto muito a vontade de falar sobre o Jango, porque eu senti dentro da minha família todo o drama que significa perder o meu avô com 57 anos”, disse ele.

Além das manifestações, que foram feitas também por representantes partidários e setores ligados aos direitos humanos, foram realizadas apresentações artísticas e culturais. Entre os artistas presentes, o músico João de Almeida neto cantou uma canção para relembrar sua infância que, segundo ele, “não pôde ser vivida, às sombras daquela época”.

Correio do Povo