A confirmação de uma supersafra de soja no Brasil, apesar das perdas causadas pela estiagem às lavouras do Rio Grande do Sul, e o baixo percentual de comercialização antecipada da produção no ciclo 2022/2023 vêm achatando os preços da oleaginosa no mercado interno. O declínio reflete a queda das cotações do grão na Bolsa de Mercadorias de Chicago, que na semana passada também foram influenciadas pela crise de confiança no setor financeiro global, segundo a economista Sílvia Bampi, da consultoria StoneX, de Passo Fundo.
Na quinta-feira (23), após iniciar a semana negociados a cerca de 15 dólares por bushel em Chicago, os contratos futuros de soja para entrega em maio recuaram para 14,19 dólares por bushel. Na sexta-feira, reagiram e fecharam a 14,29 dólares por bushel. “Estamos quase entrando para casa dos 13 dólares. O mercado de soja, que faz tempo via prêmios (de exportação), um dos formadores de preços, vem refletindo o tamanho da oferta brasileira”, explica Sílvia. A produção de soja na safra 2022/2023 no país foi estimada em março pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 151,4 milhões de toneladas, 20,6% acima do ciclo passado.
Na sequência da falência dos bancos norte-americanos Silicon Valley Bank (SVB) e Signature Bank, na semana passada também houve a compra do suíço Credit Suisse pelo grupo UBS e a queda nas ações do Deutsche Bank, da Alemanha. O temor de risco sistêmico levou investidores, que também operam no mercado de grãos, a liquidar de forma massiva suas posições em commodities agrícolas (sell-off). “Então, você somou prêmios caindo em Chicago com essa realização pesada do mercado. Por mais que o dólar tenha reagido, não foi capaz de segurar o movimento, e os preços da soja vieram para baixo”, diz Sílvia.
No mercado a termo, os preços da soja-balcão atualmente estão abaixo de R$ 150 a saca. “No mesmo período do ano passado, estávamos com o balcão ao produtor próximo de R$ 200. Estamos falando de mais de R$ 50 por saca, é bastante coisa”, compara Sílvia. Para a economista, esse cenário é preocupante porque os produtores tiveram custos mais altos com o plantio da soja, em razão da disparada dos fertilizantes, e optaram por protelar a venda da safra. “O que o produtor vendeu lá atrás é um percentual muito baixo, de 10%, 11%, 12%. E, agora, ele vai ter de comercializar a preços inferiores. Por mais que o mercado amenize essa situação de receio de crise, o fundamento de oferta existe e vai seguir pesando”, avalia a economista.
Outro fator de pressão sobre as cotações é a China. Principal destino da soja brasileira, o país asiático desacelerou suas importações justamente pela expectativa de grande disponibilidade do produto. “O Brasil, sozinho, teria capacidade de atender a toda a demanda chinesa, de 96 milhões de toneladas. A China está um pouco mais lenta, pois enxerga que, agora que o Brasil já ultrapassou 60% da colheita, ela vai comprar cada vez mais barato”, diz Sílvia.
Patrícia Feiten