Aplicativos, softwares, sensores, drones, monitoramento em tempo real, inteligência de dados, sistema de posicionamento global (GPS) e, claro, smartphones. Essas ferramentas fazem parte do glossário básico do conceito de agricultura 4.0 e foram tema da palestra do agrônomo Eduardo Leonel Bottega, na programação da Expodireto Cotrijal desta quinta-feira, em Não-Me-Toque. Professor do curso de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), campus de Cachoeira do Sul, Bottega detalhou os equipamentos e recursos envolvidos na agricultura digital em todas as fases da produção e apontou as barreiras que ainda precisam ser vencidas para incorporá-la ao dia a dia das propriedades rurais.
Em sua explanação, o palestrante comentou dados da pesquisa “Agricultura digital no Brasil: tendências, desafios e oportunidades”, realizada em 2020 pela Embrapa em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O estudo revelou que 15,9% dos agricultores não usavam nenhuma tecnologia e 84% usavam ao menos alguma ferramenta tecnológica no processo produtivo. Dos entrevistados, 70% afirmaram usar a internet para atividades gerais ligadas à produção.
Segundo Bottega, a pesquisa detectou que a maioria dos produtores gostaria de usar tecnologias digitais para obtenção de informações e planejamento da propriedade, mas há dificuldades de acesso às ferramentas. Quando questionados sobre os maiores entraves, 61,7% citaram os custos da tecnologia, 47,8% mencionaram problemas ou falta de conexão nas áreas rurais e 44% apontaram os gastos para contratação de profissionais especializados. “O valor do investimento para aquisição de máquinas e aplicativos é o principal gargalo”, disse Bottega.
A falta de conhecimento sobre tecnologias apropriadas é outro dilema, relatado por 40,9% dos agricultores. “Não é preciso ser um expert em tecnologia, mas (o produtor) tem de estar por dentro do que está acontecendo no campo”, destacou Bottega. Do lado das empresas e dos prestadores de serviço entrevistados no levantamento, a falta de conectividade no campo foi mencionada por 61% como a maior barreira no caminho da agricultura digital.
Para Bottega, a adoção da tecnologia 4.0 em grande escala depende de três grandes esforços. O primeiro é garantir a padronização tecnológica entre máquinas e sistemas inteligentes, para que o produtor tenha liberdade de escolha e possa reduzir os gastos na hora da compra dos equipamentos. O segundo desafio está no conhecimento técnico do produtor e dos prestadores de serviços, e o terceiro é a busca de pluralidade tecnológica, para que os avanços não fiquem restritos às grandes propriedades e possam chegar aos pequenos produtores. As instituições de ensino, afirmou o professor, têm papel importante nesse processo. “Nós, da academia, (precisamos) nos empenhar mais na divulgação das tecnologias com os nossos projetos de extensão”, disse.
Patrícia Feiten