Além de apontar gargalos externos que precisam ser resolvidos para que o agronegócio brasileiro tire proveito do acordo entre Mercosul e União Europeia – como redução de tributos e de burocracia –, lideranças do setor reconheceram a necessidade de também aprimorar questões dentro da porteira. O assunto pautou audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, do Senado Federal, coordenada pelo senador Luis Carlos Heinze, durante a Expointer, nesta sexta-feira.
“Ainda não alcançamos alguns padrões sequer para atender o mercado interno e para acessar os nichos de mercado da comunidade europeia vamos ter que provar a qualidade dos nossos produtos com sanidade, com certificações”, alertou o coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro/Ufrgs), professor Júlio Barcellos.
Barcellos colocou a Ufrgs à disposição para ajudar os setores, como o do leite, a resolver os problemas enfrentados. O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado federal Alceu Moreira, reforçou a fala do professor. “Temos que, definitivamente, parar de olhar universidades com viés ideológico, temos que buscar as expertises, oconhecimento técnico e científico dentro delas”, ressaltou. O secretário da Agricultura, Covatti Filho, concordou. “Não adianta brigar para defender o leite se ainda temos brucelose e tuberculose. Depois que resolvermos a questão da vacinação de febre aftosa, vamos trabalhar fortemente para resolver problemas sanitários como estes e aumentar a qualidade dos nossos produtos”, informou Covatti Filho, ao considerar “positivo” o acordo entre os blocos.
Algumas das entidades presentes, como Ocergs, Farsul, Fetag, cobraram apoio do Congresso Nacional para corrigir problemas históricos como o peso dos tributos, as assimetrias do Mercosul e melhoria da infraestrutura logística. Para o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, o grande atributo do acordo é que obrigará os países do Mercosul a se modernizarem. “E os deputados e senadores têm papel fundamental para eliminar esta pecha do custo-Brasil”, cobrou.
Heinze diz que a principal preocupação em relação ao acordo é a desigualdade em termos de subsídios. Ele lembrou que, em 2018, os produtores europeus receberam 126 bilhões de dólares em subsídios, enquanto que os brasileiros R$ 7 bilhões em subvenções embutidas no crédito e seguro rural. Representando o setor do vinho, o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Deunir Argenta, reivindicou que o governo federal esclareça informações sobre o fundo que pretende dar suporte ao setor que é sensível ao acordo. “Mas este fundo é ainda só uma promessa verbal”, disse.
O secretário de Agricultura Familiar do Ministério da Agricultura (Mapa), Fernando Schwanke, comentou que o Mapa está à disposição de todas as entidades para discutir ponto a ponto do acordo. Ressaltou que setores como o do tabaco, suinocultura, avicultura, café, se tornaram competitivos a partir da inserção no mercado internacional.
Cintia Marchi