No Rio Grande do Sul, cerca de 1,8 milhão de pessoas residem em áreas rurais. No Brasil, esse número chega 29,9 milhões. Segundo a pesquisadora, é muito comum que as prefeituras não consigam enxergar a extensão além da zona urbana como sendo parte do município. “Então acabam não contemplando essas zonas nos seus planejamentos e fica a deficiência”, observa.
Para entender o que o saneamento engloba, Anelise enfatiza que não é apenas o tratamento de esgoto. “Há também o abastecimento de água. Muitas comunidades têm acesso a um líquido não potável, muitas vezes contaminado, com coliformes ou, mais grave ainda, por agrotóxico”, lamenta. Os problemas existem e são muitos. Principalmente por falta de um controle ou uma análise do abastecimento de certas regiões, fazendo com que boa parte da população tenha acesso a uma água que nem é conhecida pelos órgãos reguladores.
De acordo com a assessora técnica da área do Meio Ambiente da Famurs, Marion Heinrich, os municípios têm obrigação de elaborar o Plano Municipal de Saneamento e incluir tanto a área urbana quanto a área rural. “É feito o diagnóstico e, através de metas, executada a política municipal de saneamento”, explica. Segundo Marion, mesmo que o município seja o titular do serviço de saneamento básico, “é preciso que existam ações conjuntas, com o esforço das esferas municipal, estadual e federal, para que esses instrumentos da política de saneamento básico sejam implementados e para que os índices de saneamento mudem”. Marion destaca que a Famurs orienta os municípios sobre o planejamento e também promove eventos de capacitação para os técnicos da área. “Trabalhamos para que eles (municípios) façam o que precisa ser feito”, enfatiza.
Na Emater, conforme o presidente, Clair Tomé Kuhn, os produtores encontram orientação. “Vamos até as propriedades, chegamos ao agricultor e analisamos a área como um todo”, descreve. Após, os técnicos da Emater orientam o agricultor em relação aos problemas existentes e como ele pode encontrar as soluções. Segundo Kuhn, os técnicos se dedicam bastante à questão do reaproveitamento dos resíduos sólidos para compostagem e também orientam para o armazenamento correto do restante dos resíduos. “Indicamos ao agricultor que ele pode levar os resíduos à zona urbana, se for necessário”, disse.
Com relação ao esgotamento sanitário, Kuhn ressaltou que os técnicos da Emater aplicam tecnologias desenvolvidas pela Embrapa. Segundo ele, o trabalho da Emater é realizado com base nas ações que a Embrapa já pesquisou e validou. “Nos preocupamos muito com isso e pretendemos lançar uma campanha mais forte em cima disso (saneamento na área rural), envolvendo todo o Estado”, revela.
Segundo o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Nestor Bonfanti, a falta de saneamento nas áreas rurais preocupa a entidade. “O meio rural é bem diferente do meio urbano. Preocupa principalmente a proximidade das fontes de água com as fossas sanitárias, por exemplo”, destaca. Segundo Bonfanti, os agricultores têm acesso à informação e às orientações específicas sobre o saneamento, mas as ações “dependem de cada família”.
Para o dirigente da Fetag, o saneamento público não chega e nunca chegou ao campo. Bonfanti observa que os agricultores vão às reuniões que tratam do assunto e são orientados para terem cuidados com as fossas sanitárias e com os poços artesianos, “mas não têm nada de auxílio do poder público”. Afirma, ainda, que a Fetag basicamente orienta as famílias para que tenham um cuidado melhor com o abastecimento de água e com as fossas.
Jessica Hübler