Diante disso, será dado seguimento ao inquérito civil aberto em 2015, no âmbito do Ministério Público, para investigar os efeitos da deriva do produto em outras culturas e a Secretaria da Agricultura dará início, na próxima semana, ao encaminhamento de uma regulamentação da aplicação terrestre dos agrotóxicos, em parceria com técnicos das entidades privadas.
Sem chegar a um entendimento, todos os lados saíram descontentes da reunião. "Esperávamos um consenso entre os setores. Já que não houve, vamos avaliar as provas técnicas juntadas aos autos e verificar se é o caso de judicialização ou não", disse a coordenadora do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais (Nucam), promotora de Justiça Anelise Grehs.
O presidente da Farsul, Gedeão Pereira, disse ser contrário a “proibição de qualquer princípio ativo” e entende que o "2,4-D é um produto de altíssima qualidade e absolutamente seguro". Ele defendeu o regramento do uso das tecnologias de aplicação do herbicida e acredita ser viável a legislação ser criada antes de junho, quando recomeça a aplicação do 2,4-D nas lavouras.
Danos
A Farsul e a Aprosoja/RS reconhecem a existência dos danos da deriva do 2,4-D. O presidente da Aprosoja/RS, Luis Fernando Fucks, declarou que concordar com a "profissionalização da pulverização" e até mesmo com a fiscalização das propriedades. “Não vemos a fiscalização com bons olhos, porque a presença de fiscais no meio rural sempre foi motivo de conflitos, mas antes de perdermos esta molécula talvez seja a alternativa”, afirmou, ao garantir que "não há substituto à altura do 2,4-D em termos de eficiência e de custo".
De outro lado, o conselheiro do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Helio Marchioro, ressaltou que o diálogo ficou "prejudicado" em função de os produtores de soja não cogitarem a suspensão do herbicida. "Estamos diante de um pretenso prejuízo de uma atividade (soja) contra a sobrevivência de várias outras como o mel, a horticultura e a fruticultura em geral", criticou.
"No nosso entendimento, o mínimo de bom senso indicaria suspensão do uso". Marchioro afirmou ainda não ser contrário à regulamentação do uso, mas que acha inviável liberar o produtor "até que não se tenham condições objetivas e tecnológicas que garantam que não vamos ter mais o dano ou continuidade do dano".
Cíntia Marchi