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Verão

Especial

Uvas suficientes para as vinícolas

Setores da indústria gaúcha avaliam que é cedo para pensar em efeitos da seca nas videiras

Vinhedos atingidos pela estiagem ainda têm chance de recuperação, se houver chuvas regulares em janeiro | Foto: Diva Marcolin Flamia/Divulgação

Maior produtor de vinhos do Brasil, o Rio Grande do Sul inicia na segunda metade de janeiro a colheita das uvas destinadas à produção industrial. A safra da fruta, inicialmente estimada entre 700 e 750 mil toneladas, poderá ter a produtividade impactada se as chuvas em janeiro não forem regulares. No entanto, a hipótese de uma estiagem não preocupa as vinícolas, que esperam processar bebidas de ótima qualidade. Neste ano, a vitivinicultura contou com a combinação de baixas temperaturas à noite e sol durante o dia, o que garantiu bom brotamento das plantas e excelentes índices glucométricos (a doçura dos grãos). 

O presidente da União Brasileira da Vitivinicultura, Deunir Argenta, diz que ainda é prematuro falar em quebra na safra e que a produtividade, por enquanto, se mantém dentro da expectativa normal. "É até bom que haja um pouco menos de uva. Nós temos demanda para a fabricação de vinhos finos, mas é bem alto nosso estoque de sucos, cujas vendas pararam na pandemia", comenta.

O presidente da Associação Vinhos da Campanha Gaúcha, Valter Pötter, representante de 16 vinícolas, entre Itaqui e Candiota, responsáveis por 31% de todo o vinho tinto produzido no país, relata que na região os vinhedos estão em boas condições. "Devemos produzir 7 milhões de garrafas de vinho", afirma o dirigente. Segundo ele, como é necessário um quilo de uva para cada garrafa de vinho, o volume estimado de uvas a ser colhido na Campanha deve ficar em 7 mil toneladas, já considerando a perda de 25% nos parreirais atingidos pela deriva do herbicida 2,4-D. Pötter esclarece que o tempo seco não é motivo de grande apreensão para as vinícolas porque uvas submetidas a esta estas condições costumam resultar em bebidas de mais intensidade e sabor. 

O enólogo, vitivinicultor e diretor da Associação de Produtores dos Vinhos de Altos Montes (Apromontes), Felipe Bebber, também comenta que a uva em fase de maturação se beneficia do tempo seco. Bebber prefere não falar em perdas nos vinhedos das 12 indústrias associadas à entidade na Serra. “Os vitivinicultores trabalham com a expectativa de chuvas em janeiro e nova estiagem na sequência. Se for assim, teremos as condições ideais e vinhos de grande qualidade", conclui.

Produtor começa a se preocupar

Do lado do produtor, o sentimento é de menos otimismo. O presidente da Comissão Interestadual da Uva, Cedenir Postal, afirma que projetar perdas na safra da fruta no momento “é receita para errar”. Postal diz que a situação da cultura não se compara à dos grãos, mas aponta quebras em regiões produtoras, em especial na Serra. "Se chover o suficiente, o panorama pode mudar, mas não em todas as áreas", salienta. 

Enio Todeschini, agrônomo da Emater/RS-Ascar em Caxias do Sul, avalia que antes de 15 de janeiro é impossível fazer projeções, mas reconhece que o tempo seco favorece a sanidade das frutas e aumenta seu grau de açúcar, embora sacrifique as variedades de mesa. 

Com 16 hectares de uva plantados na comunidade de São Valentim/96, em Bento Gonçalves, a vitivinicultora Diva Marcolin Flamia calcula que, sem chuva significativa há semanas, a perda chegue a 50%. Em 2021, a família colheu 340 toneladas de uva, parte delas destinadas ao processamento de vinho e suco da agroindústria própria. "Se chover, talvez se recupere parte da área perdida, mas já calculamos um prejuízo enorme", constata Diva. Ela comenta que o preço mínimo do quilo da uva, estabelecido em R$ 1,31, é bom, mas vai se diluir na alta significativa dos custos do setor.

Nereida Vergara