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Verão

Especial

Fiocruz consegue provar que ondas de calor causam explosão de casos de dengue no País

Artigo publicado na revista Nature relaciona proliferação do mosquito ao desmatamento e à urbanização de pequenas e médias cidades

O mosquito Aedes aegypti se reproduz em temperaturas entre 18°C e 33°C, sendo que a faixa ideal para manter a transmissão do vírus é entre 21°C e 30°C | Foto: Guilherme Almeida / CP Memória

O interior do Brasil ultrapassou o litoral na incidência de dengue por causa do aumento das ondas de calor. A região costeira que vai de Santos, em São Paulo, até Belém, no Pará, tipicamente apresentava maior proporção de casos de dengue em comparação com sua população. Entretanto, o oeste do Paraná, o oeste de Santa Catarina, o oeste de São Paulo, o interior de Minas Gerais, uma parte do Tocantins, Goiás e Mato Grosso do Sul viram a transmissão da doença aumentar.

De acordo com o pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fiocruz e autor do estudo, Christovam Barcellos, a maior quantidade de dias de calor nessas áreas está relacionada ao desmatamento. Atualmente, o País assiste a um recorde de casos de dengue, o que tem feito cidades decretarem emergência e adotarem medidas de mitigação.

Publicado na renomada revista científica internacional Nature, o estudo da Fiocruz correlacionou o aumento dos casos de dengue na região com a maior frequência de dias com temperaturas acima da média, ou seja, ondas de calor. Outro fator que tem provocado o aumento de dengue é a urbanização desacompanhada de melhorias nos serviços oferecidos pela cidade.

Detalhamento

O mosquito Aedes aegypti se reproduz em temperaturas entre 18°C e 33°C, sendo que a faixa ideal para manter a transmissão do vírus é entre 21°C e 30°C. Essa média é padrão em grande parte do Brasil, mas em alguns lugares do Sul e do Planalto Central a temperatura média fica abaixo dos 18°C, em especial durante o inverno. Um clima mais quente nessas regiões pode viabilizar a reprodução do mosquito durante todo o ano, em vez de surtos sazonais.

O estudo constatou que apenas poucas áreas no extremo Sul do País permanecem sem incidência de dengue. No interior do Brasil, o verão está se estendendo ainda mais, segundo a pesquisa da Fiocruz.

"Em 2023, a gente começou a observar onda de calor no inverno, coisa inédita no clima. Isso disparou o processo de transmissão da dengue em diversas áreas já em outubro e novembro do ano passado", explica Barcellos.

O Sul, principalmente oeste de Santa Catarina e do Paraná, que apresentava baixa frequência de ondas de calor, passou a ter dez dias de temperaturas acima da média por mês. Já na região central, o número de dias com onda de calor varia entre 12 e 30 por mês. Barcellos ressalta que outros países que fazem fronteira com Estados do Sul e do Centro-Oeste, como Argentina e Paraguai, também começaram a apresentar surtos de dengue de forma inédita.

O estudo destaca ainda que áreas de alta altitude, que antes eram consideradas um fator limitante na transmissão do mosquito, agora se tornam zonas suscetíveis à proliferação da doença. O aumento dos dias de ondas de calor, por sua vez, tem entre seus fatores a retirada da vegetação do Cerrado, por exemplo.

"São áreas que estão se convertendo em pasto, grandes plantações. Isso envolve desmatamento", diz o pesquisador da Fiocruz, destacando ainda a perda de Mata Atlântica mais ao Sul. Segundo o artigo, o processo pelo qual o Brasil atravessa pode ser visto como um exemplo do que pode acontecer ao redor do mundo em regiões ainda mais frias, como a América do Norte e a Europa. Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores analisaram dados de demografia, clima e incidência de dengue dos anos entre 2000 e 2020.

Urbanização

A alta frequência de ondas de calor somada à urbanização de cidades pequenas e médias que tem ocorrido na região favorece a formação de ilhas de calor. O estudo constatou que regiões com alta incidência de dengue já tinham transmissão da doença, bem como alto grau de urbanização. O inchaço populacional de cidades muitas vezes não conta com a infraestrutura necessária para acomodar as mudanças demográficas.

Faltam boas condições de saneamento e habitação, por exemplo, diz Barcellos, o que favorece o aumento dos casos de dengue. Além disso, muitas dessas regiões não estavam acostumadas com os inúmeros casos de dengue. Por isso, profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros ou mesmo agentes de combate às epidemias, ainda precisam de capacitação para lidar com a doença e seus transmissores.

A expansão da transmissão da dengue parece ser irreversível. Os dados coletados apontam que poucas localidades conseguiram reduzir a incidência da virose após o vírus e o vetor serem introduzidos.

Estadão Conteúdo