Após dias de silêncio, duramente criticados, Zuckerberg acabou por se desculpar na noite de quarta-feira (21): "Trata-se de um abuso significativo de confiança e estou realmente preocupado", declarou o maior dirigente das redes sociais. O Facebook, que conta com 2 bilhões de usuários, ainda tinha uma capitalização de mercado de 500 bilhões de dólares na semana passada, mas cerca de 50 bilhões a menos na noite de quinta-feira (22). Esse pedido de desculpas não é o primeiro.
O jovem multimilionário já admitiu outros erros nos últimos meses em meio a polêmicas que movimentaram o grupo, acusado de divulgar informação e notícias falsas, de ameaçar a democracia, de provocar um vício que atrofia o cérebro, etc. Mas, mesmo com a sucessão de polêmicas, promessas e desculpas, "ele parece alguém que não sabe para onde vai", afirma Bob Enderle, analista do setor. "Eu comecei o Facebook, sou responsável pelo acontece na plataforma", disse Zuckerberg na quarta-feira, colocando-se ainda mais na mira dos analistas, especialistas e políticos. Zuckerberg, que continua vestindo camiseta e jeans, apesar de uma fortuna avaliada em 70 bilhões de dólares, "não soube atacar o problema", acredita a revista Wired, que em seu último número mostra-o cheio de hematomas como se tivesse recebido uma surra.
Acusado de reagir muito tarde, de pensar que consegue resolver tudo sem ajuda externa, o ex-aluno de Harvard, inserido no universo da programação desde os 11 anos, reflete uma imagem de executivo inexperiente e um pouco arrogante a qual soube mascarar até poucos meses atrás a ponto de a imprensa lhe atribuir intenções presidenciais. "Sua falta de experiência se revela novamente", disse Enderle, quem afirmou que Zuckerberg deveria ter buscado ajuda para solucionar a crise.
"Ingênuo" e apressado
"Não é o herói que muita gente via nele, sua reputação e sua imagem foram fortemente afetadas", considerou o analista, que ainda disse que "se o Facebook fosse uma empresa tradicional, já teria falido". "Acredito que ele é sincero e motivado por seu desejo de aproximar (as pessoas), mas aparentemente cada vez mais frustrado pelas inesperadas consequências de sua ingênua ambição", escreveu o escritor e jornalista Devin Coldewey na revista TechCrunch. "Penso somente que se chegou a um ponto em que a melhor maneira de conseguir o que quer é sair".
Para muitos, o Facebook de alguma forma escapou do controle de seu criador, que muito jovem lançou o que até então não se passava de um conjunto de fotos da universidade e que logo se converteu na fórmula mágica que o deixaria rico: os dados pessoais dos usuários. Esse modelo econômico, de uma eficácia assustadora, atrai anunciantes publicitários em massa, ávidos por detectar as características dos membros da rede. Mas o modelo é frágil: baseia-se na confiança, agora duvidosa.
A empresa perdeu muitos pontos na Bolsa nos últimos dias, evidenciando a inquietação dos investidores. Os primeiros anos de Facebook já haviam sido agitados, com Zuckerberg na defensiva após ser acusado por dois ex-parceiros de ter roubado deles a ideia do Facebook, episódio abordado no filme "The Social Network" (David Fincher, 2010).
AFP