Cortejo de milhões parou São Paulo por Ayrton Senna

Cortejo de milhões parou São Paulo por Ayrton Senna

“A morte do Senna arrancou todo mundo do lugar, precisava sair e ver”

Bernardo Bercht

Cortejo percorreu ruas desde Guarulhos até o Ibirapuera

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O velório de Ayrton Senna da Silva teve o gigantismo do tricampeão e de São Paulo. Mais de 2 milhões de pessoas estiveram no entorno da Assembleia Legislativa, no entorno do Parque do Ibirapuera, e muitas outras deram um jeito de assistir ao cortejo em carro de bombeiros desde o aeroporto de Guarulhos. Sem conseguir chegar no local do velório, que teve direito a honras de chefe de estado, o publicitário José Mauro Trevisan acordou cedo para ir do subúrbio à área central com amigos.

“Não lembro o trajeto com detalhes, mas vi o carro de bombeiros descendo a Consolação, rumo ao Centro. Eu morava em Pirituba, a uns 30 quilômetros. Foi uma peregrinação. A gente se mobilizou para ficar perto do Ibirapuera”, lembra. Ao chegar, a expectativa de estar perto do ídolo a última vez começou a ser dividida com as centenas de milhares de pessoas que já tomavam as calçadas, numa atípica e paralisada São Paulo.

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Um contraste total com o frenesi usual de um lugar que se dá raros momentos para respirar. “Era como um desfile de time campeão, mas ao contrário. Todo mundo na rua, um negócio arrebatador, mas todo mundo triste”, descreve Trevisan. “Ninguém da minha idade tinha passado por um trauma desses. Foi o impacto de uma ou duas gerações, um cara que era herói para todo mundo”, define.

Senna | Foto:

Além do choque do luto, ver São Paulo estagnada impressionou. “Tudo em São Paulo é exacerbado, e imagina uma cidade dessas parada? Não tem quem não se afete. Parou tudo, era o acontecimento”, pondera. “A morte do Senna arrancou todo mundo do lugar, precisava sair e ver, meio que para acreditar.”
Trevisan logo volta as lembranças para o dia da colisão. “Eu sempre fui muito empático para coisas assim, e me pegou muito forte a notícia de que o Senna morreu. O Kurt Cobain morreu na mesma época e as duas fatalidades foram baques”, conta.

“A gente queria continuar vendo as notícias. E eu passei o domingo inteiro encolhido e chorando, enquanto aquilo passava na TV”, recorda. Por conta disso, acompanhar o cortejo foi a chance de assimilar. “Era a história acontecendo, para ter outro cara nesse nível a gente sabia que ia demorar muito tempo. Tanto que nunca mais teve. Dentro de toda a conjuntura do país, ainda descobrir que o Senna era mortal.”


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