Búfalos arrastados pelas cheias geram dificuldades e incerteza para o futuro da atividade

Búfalos arrastados pelas cheias geram dificuldades e incerteza para o futuro da atividade

Pecuaristas relatam drama de perdas de rebanho com enchentes que assolam o Rio Grande do Sul

Itamar Pelizzaro

Vários animais arrastados foram resgatados em Porto Alegre

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A força avassaladora e mortal das águas desestruturaram propriedades rurais no Estado e exterminaram, de forma ainda imensurável, rebanhos de diferentes espécies. Um dos segmentos pecuários atingidos foi o de criatórios de búfalos, com cerca de 50 mil cabeças no território gaúcho. Nos últimos dias, vários animais foram resgatados em Porto Alegre, depois de serem arrastados por rios. A comunicação de búfalos encontrados pode ser feita nas redes sociais da Associação Gaúcha de Criadores de Búfalos (Ascribu), em @bufalo_ascribu ou na rede pessoal da presidente da entidade, Desireé Möller, em @desimoller.

Desireé administra a Fazenda O Butiá, em Itapuã, e tem abrigado animais que foram arrastados até Porto Alegre. Ela conta que 18 animais foram resgatados, 12 deles já abrigados em Guaíba e seis na propriedade. São exemplares de um único proprietário da Ilha do Lajes, em Porto Alegre. “Ele tinha média de 200 animais na ilha, e o rio levou”, conta Desireé. A criadora diz que os animais são salvos muito cansados e estressados.

Perda total

Outro caso de perda total do rebanho envolve o produtor Bernhard Rudolf Schroers, que mantém criatório e a agroindústria Bufalera, em Venâncio Aires. A propriedade sofreu a terceira enchente seguida, depois de registrar perdas em setembro e novembro de 2023.

“Tudo o que tem na fazenda foi projetado baseado pela enchente de 1941. Como tudo mudou, essa escala já não funciona mais”, disse o produtor.

A residência na propriedade ficava 1,5 metro acima da cota da enchente de 41, mas foi engolida pelos 4 metros de água este ano. A agroindústria também ficou submersa.

O aterro feito para os animais foi insuficiente. “Em setembro, perdemos 90 cabeças na enchente. Em novembro, a gente já estava se organizando, conseguimos reter os animais, mas perdemos em torno de 15 cabeças. Essa última agora foi descomunal, e do restante do rebanho, de 74 cabeças, não ficou nenhum dentro da propriedade”, narrou. O empresário diz que foram identificadas 10 dos búfalos desaparecidos, espalhados por Porto Alegre, Triunfo, Taquari, General Câmara, Mariante e Bom Retiro do Sul. O resgate ainda não foi possível por falta de acessos. “Já sabemos que alguns animais foram abatidos”, contou.

Animais da Bufalera foram fotografados um dia antes de sumirem de propriedade em Venâncio AIres | Foto: Bernhard Rudolf Schroers / Arquivo Pessoal / CP

Boa vontade

Para recompor o plantel, Schroers diz que é preciso contar com a boa vontade das pessoas em um cenário em que o abigeato é uma ameaça contínua, mesmo em meio à catástrofe das cheias.

“Infelizmente, identificamos animais que eram nossos. O pessoal ficou de guardar. Quando viramos as costas, enfiaram-se no caminhão e levaram para outro município”, afirmou.

Com a repetição da história de apropriação de animais, a incerteza em relação à continuidade da atividade pecuária com búfalos ganha corpo. “A incógnita que fica para nós agora é a segurança para voltar a produzir, porque da primeira vez ainda restou animais para retomar a produção, na segunda se manteve o que se tinha, perdeu-se pouco”, desabafou.

A propriedade da família foi iniciada pelo pai em 1970. “A gente fica meio perdido. Que altura de aterro vamos fazer, que precauções tomar? Simplesmente buscar qualquer alternativa com riscos dessa magnitude tornam inviável voltar a produzir”, justificou. A Bufalera operava na zona urbana de Lajeado e mudou-se há cerca de um ano para Venâncio Aires com a intenção de fazer um projeto imersivo na propriedade, mas as enchentes inviabilizaram os planos de erguer o prédio. Por enquanto, a empresa deve contar com parceiros para produzir até definir o futuro. Com as cheias, toda a estrutura de equipamentos ficou submersa. A prioridade é organizar a sede da propriedade para a família voltar, com a expectativa de ficar 30 dias sem luz e sem água. “A gente não sabe ainda como e quando vai retomar”, contou.

Alguns animais foram resgatados por pescadores | Foto: Ascribu // Divulgação / CP

Como identificar animais

Os animais desaparecidos da sede da Bufalera são de três criatórios e podem ser identificados com marcação a fogo T ou O. Outras búfalas mochas têm brinco com numeração a mão e tatuagem dentro da orelha. Há ainda novilhos e novilhas com brincação amarela a laser com prefixo FC, de Fazenda Chafariz, e numerações. Há ainda terneiros que ainda não haviam sido identificados.

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