Pela correta abordagem do agro na educação

Pela correta abordagem do agro na educação

Associação de Olho no Material Escolar promove mobilização nacional com objetivo de desfazer visão negativa atribuída ao setor em documento referência ao Plano Nacional da Educação (PNE), que vai vigorar por 10 anos

Itamar Pelizzaro

Grupo de alunos foi levado à feira, em março

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Alvo de opiniões negativas, descoladas de embasamento científico e disseminadas em livros didáticos brasileiros, conforme atestou um estudo acadêmico feito pela Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA/USP), o agronegócio brasileiro está se posicionando para corrigir uma visão equivocada sobre o setor e o futuro da educação nacional. Fundada a partir da constatação de que os filhos estudantes estavam sendo ensinados com conteúdos falsos, um grupo de pais fundou em São Paulo a Associação De Olho no Material Escolar, que se ramifica pelo Brasil e agora tem como principal enfrentamento a elaboração do novo Plano Nacional da Educação (PNE), que terá vigência de 10 anos, substituindo a política em vigor desde 2014. A entidade diz que o segmento produtivo não teve participação nos debates prévios.

A base de referência ao PNE foi construída pela Conferência Nacional de Educação (Conae 2024) e considerada pela associação como “bastante crítico” em relação ao agronegócio. “O documento diz que os ‘ruralistas atacam os avanços da democracia, do reconhecimento e respeito à diversidade, dos direitos humanos e da justiça social’. Além disso, diz que o Estado precisa se contrapor aos grupos que desejam promover o agronegócio por meio da educação”, afirma a presidente da associação, Letícia Jacintho.

A pesquisa feita pelo instituto da USP corroborou a iniciativa dos pais na defesa da verdade sobre o agro. Segundo a entidade, o estudo analisou dezenas de obras didáticas e constatou que 60% das menções ao agronegócio eram negativas e que 96% se configuraram como pontos de vista dos autores, sem base científica. A partir dos dados, a associação tem trabalhado em todo o país, com voluntários. No Rio Grande do Sul, fez mobilizações durante a Expodireto Cotrijal, em março, em Não-Me-Toque, levando sua mensagem a produtores e dirigentes e conduzindo cerca de 400 estudantes da rede pública regional para vivenciar a prática do setor, com visitas a empresas, buscando conectar campo e cidade, escola e produção, teoria e realidade.

“A associação quer conversar. Muitas pessoas estão dando informações erradas não porque querem, mas por desconhecerem o setor. Precisamos ajudar, abrir nossas propriedades, levar escolas para visitar nossas empresas”, conclamou Michele Birck, que representa o movimento no RS. Esta semana, a associação participou da feira Norte Show, em Sinop (MT), e estará na Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), de 29 de abril a 3 de maio.

Letícia Jacintho diz que o foco está centrado em garantir que o PNE, que será discutido e aprovado no Congresso Nacional, tenha participação de toda a sociedade. “Estamos vivenciando um ponto de inflexão na história da educação”, afirma. De a presidente, administradora de empresas, produtora rural, analista do setor uma das 100 Mulheres da “Forbes Agro”, o governo tem pressa em aprovar nova a lei instituindo o PNE. “Pela sua capacidade de afetar invariavelmente a vida de todos os brasileiros, não há outra maneira de encarar o PNE senão como uma política pública de Estado, acima de interesses político-partidários, que deve servir à nação como um todo”, analisa Letícia.
A entidade acredita que o setor pode e deve colaborar na construção da educação ambiental, pois tem pessoas que vivem do campo e conhecem a realidade da produção.

Conforme Letícia, esse público tem interesse direto em garantir a proteção dos recursos naturais, dos quais são dependentes para garantir a sustentabilidade dos negócios. Segundo a associação, o documento da Conae ainda critica o uso de metas baseadas em medidas de desempenho, sejam nacionais, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), ou internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).

O Pisa mede o desempenho dos estudantes de 15 anos em matemática, leitura e ciências. Na edição de 2023, conforme divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil aparece como 64º lugar em matemática, 52º em leitura, 61º em ciências, entre 81 nações avaliadas. Conforme Letícia, a proposta da Conae não sugere diretamente que o país deixe de aplicar o Pisa, mas ataca a validade de avaliações externas padronizadas. “Para quem não é do âmbito educacional, é realmente difícil acreditar que existam pessoas que sejam contrárias às avaliações como forma de medida de desempenho e resultados, desdenhando desses importantes instrumentos para a realização de uma educação de verdadeira qualidade”, afirma. De acordo com Letícia, em todo o mundo a melhora da educação é constatada pela performance das crianças em exames como o Pisa, o Pirls e o Timss.

Além de ser visto de forma negativa, o setor agro não conseguiu representação para a Conae, cujo documento pouco versou sobre aprendizado em seu documento, mas teve destaque para temas como LGBTQIAPN+, gênero, orientação sexual, conservador e extrema direita, conforme detalhou a associação durante a Expodireto, apresentando as palavras mais citadas pela Conae.

Segundo Letícia, havia previsão de participação de entidade representante de movimentos sociais do campo na Conae. “Conforme a Portaria MEC nº 1.775/2023, contam como titular a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e como suplente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)”, esclarece. O MST foi membro da Comissão Especial de Mobilização e Divulgação (Cemd). “Não houve qualquer representação do setor agropecuário. É visível que os textos produzidos pela Conae carregam a visão dessa organização sobre o setor, de forma negativa.”


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