Atenção do agro chega ao material escolar

Atenção do agro chega ao material escolar

Movimento criado por um grupo de mães e produtoras rurais durante a pandemia ganha força ao monitorar a qualidade do conteúdo didático sobre o agronegócio, repassado a crianças e jovens nas instituições de ensino

Por
Nereida Vergara

Na expectativa de criar uma imagem mais positiva diante da sociedade e da opinião pública de modo geral, as entidades voltadas ao agronegócio vêm trabalhando em várias frentes para contrapor, com base científica, as informações sobre o setor que consideram equivocadas ou contaminadas por viés político. Para apoiar a ideia, vem ganhando força no Brasil - já presente em 78 municípios de 13 estados - o movimento De Olho no Material Escolar. Liderado pela administradora e produtora rural do município de Barretos, localizado no interior de São Paulo (SP), Letícia Jacintho, o grupo tenta romper o sistema de confecção dos livros didáticos que, considera ela, traz referências desatualizadas sobre o setor, com base em fontes “não fidedignas” e que “não estariam mais de acordo com o que é a atividade agropecuária na segunda década do século 21”. A tarefa não é fácil, pois esbarra num sistema de produção editorial estabelecido há muito tempo e que obedece regras e critérios aprovados pelo Ministério da Educação. 

Letícia Jacintho se apressa em definir o movimento como apolítico e destinado, segundo ela, unicamente a qualificar o ensino das crianças e jovens, oferecendo uma visão real da principal atividade econômica do Brasil nos últimos anos. "Este sentimento de que o material didático tem falhas já vem de algum tempo, mas, com a pandemia, onde tivemos a oportunidade de ver de perto como os assuntos são tratados nos livros, e mais, como as aulas são dadas, bateu o desespero".

A produtora afirma que grande parte das referências ao agro, em conteúdos como Geografia, História e Ciências, por exemplo, estão baseadas em fontes da internet e que estão distantes de dados oficiais sobre preservação ambiental, uso de solos, posse da terra e do avanço que o agro vivenciou nos últimos 50 anos, inclusive do ponto de vista da legislação ambiental nacional, uma das mais rígidas e detalhadas do mundo. "A nossa intenção é oferecer aos professores uma ferramenta melhor de ensino, por isso focamos nosso trabalho no livro, na qualidade do livro", destaca ela.

Letícia Jacintho, líder do projeto 
De Olho no Material Escolar, participou de evento na sede da Farsul, durante a 45ª Expointer | Foto: Marco Quintana / Especial / CP

A ideia do grupo é que, para os próximos processos licitatórios de material escolar, sejam utilizadas fontes como o Instituto de Pesquisas Espaciais, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Cepea/Esalq-USP), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dentre outras. 

Letícia produziu uma apresentação na qual cita exemplos de informações que o grupo considera distorcidas, como atribuir à pecuária a culpa total pelas emissões de carbono, atrelar a morte de crianças indígenas ao avanço da agricultura no Centro-Oeste ou desconsiderar que a agricultura brasileira atende hoje uma legislação que obriga o agricultor a respeitar as Áreas de Preservação Permanente (APPs). "Não queremos interferir no conteúdo dos livros, nem queremos negar o que de fato aconteceu ou ainda acontece, mas queremos oferecer uma visão real para o aluno, não uma generalização", complementa.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895