1967: o ano psicodélico, um não ao establishment
Período foi decisivo para o rock, para a contracultura, para os hippies e para a revolução comportamental que mudaria o mundo
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No verão de 1967, no dia 15 de abril em Nova Iorque, aconteceu a passeata que ficou conhecida como “Verão do Amor”, reunindo mais de 300 mil pessoas e que teve o apoio de músicos, pintores e ativistas políticos. O emblema era protestar contra a morte estúpida de jovens no Vietnã e contra um sistema que tinha no preconceito boa parte do seu fundamento. Sobre o lema de “paz e amor”, várias caravanas partiram na sequência para a Califórnia, mais especificamente para a cidade de São Francisco. Era o surgimento dos hippies. E é em meio ao “Verão do Amor” que acontece o emblemático Monterey Pop Festival, reunindo The Mamas and The Papas, The Who, Janis Joplin e o mago da guitarra Jimi Hendrix.
1967 aponta para a contracultura exatamente porque esses movimentos contrastavam com a realidade política internacional. Enquanto jovens eram mortos no Vietnã, Mao-Tsé Tung liderava a Revolução Cultural na China, Che Guevara era fuzilado na Bolívia, no Brasil, o ex-presidente ditador Castello Branco morria vítima de um acidente aéreo em circunstâncias obscuras, assumindo o general linha dura Costa e Silva, dando início ao que ficou conhecido como os “anos de chumbo”. Na França, as movimentações nas universidades eram constantes e o protesto ia muito além de questões políticas, as estruturas sociais estavam sendo questionadas.
Em 1967, na Inglaterra, os Beatles lançam o álbum mais revolucionário do planeta, o emblemático “Sgt. Pepper’s Lonelty Hearts Club Band”. Neste mesmo ano três bandas lançam seus primeiros álbuns: Pink Floyd, The Doors e Velvet Underground. No Brasil, Glauber Rocha ganhava reconhecimento mundial com o filme “Terra em Transe”, e a Tropicália desafiava os padrões estéticos da música nacional. 365 dias alucinantes... A morte da tripulação do programa Apolo I, onde três astronautas norte-americanos morreram num incêndio durante um dos testes que os levaria para o espaço, é considerada uma das maiores tragédias da história da corrida espacial.
No Oriente Médio, o mundo assistia “A Guerra dos Seis Dias”, um conflito armado entre Israel e os países árabes vizinhos, que mudou o cenário geopolítico da região. A guerra terminou com a ocupação israelense da península do Sinai, de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia. O mais famoso pugilista do mundo, Muhammad Ali, perdeu o cinturão mundial no dia 9 de maio de 1967 e teve sua licença cassada, ficando proibido de atuar por três anos e meio por ter se recusado a lutar no Vietnã. Neste período, Ali chegou até a ser condenado à prisão.
No Brasil, com a ditadura dando as cartas, a esquerda cobrava dos artistas posições políticas engajadas. Os princípios anárquicos dos hippies eram vistos como alienantes por boa parte desta esquerda nacional, que vaiava artistas como Caetano Veloso, que naquele ano lançava “Alegria, Alegria”. A letra fo
Foi também em 1967 que Frank Sinatra curvou-se ao gênio de Tom Jobim e dividiu um disco inteiro com ele. Na ciência acontece o primeiro transplante de coração, realizado pelo médico sul-africano Christian Barnard. Ele transplanta o coração de uma jovem de 25 anos para um homem de 55 anos. Surge também a pílula anticoncepcional, desencadeando a revolução sexual.
Por aqui, numa quinta-feira, em 21 de setembro, Porto Alegre era tomada pelas águas do Guaíba. O Centro Histórico foi invadido, ainda sem a proteção do Muro da Mauá. A água chegou à Praia de Belas e os moradores da Padre Cacique tiveram as suas casas inundadas. 1967 foi marcado pelo clímax da psicodelia, pelo experimentalismo e por disseminar o ideal de “paz e amor”. O grande barato era a heterogeneidade de posições, o debate sobre tudo, a criatividade e a busca da liberdade. Cinquenta anos depois segue a mesma luta, o mesmo desafio. “Paz e amor” ficou bem para trás e ainda estamos em busca da liberdade.