A beleza sagrada e dionisíaca de uma guitarra elétrica
Introdução do instrumento causou na música assustou mentes apolíneas e conservadoras
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Momentos dionisíacos e revolucionários assustam mentes apolíneas e conservadoras em qualquer manifestação artística. Quando Thomas Edison produziu, em 1895, um pequeno filme com menos de um minuto chamado “O Beijo”, mostrando um casal trocando carinhos de um modo muito mais engraçado que erótico, a Liga das Senhoras Católicas de Nova Iorque foi para a rua e, com certo apoio popular, conseguiu interditar o filme. Foi o primeiro caso de censura da história do cinema. Muitos outros vieram depois, quase sempre relacionados à exposição de corpos e à manifestação de desejos. A indústria audiovisual soube contornar o problema fazendo com que estes corpos sofressem punições dramáticas nas histórias (depois de atrair os espectadores com cartazes provocantes, é claro) e que esses desejos fossem considerados pecados mortais. Apolo sempre dá um jeito de combater Dionísio.
Coisa parecida aconteceu com a introdução da guitarra elétrica na música popular brasileira. Algo bastante simples, a invenção de uma maneira de aumentar o volume e alterar o timbre de um instrumento de cordas tradicional (o violão), provocou protestos irados de artistas e músicos da MPB e da bossa-nova, que defendiam a suposta brasilidade de nossa música contra um instrumento importado, alienígena, capaz de deturpar manifestações legitimamente nacionais. Xenofobia pura. O patriotismo talvez não seja o último refúgio dos canalhas, como escreveu Samuel Johnson, mas com certeza é o primeiro refúgio dos caretas. O Juremir Machado da Silva me garantiu que Elis Regina participou desse movimento contra a guitarra elétrica, o que me surpreende. Logo ela, que, ao ver Nara Leão apresentando-s