Affonso Romano ministra curso sobre poesia no Festival de Inverno

Affonso Romano ministra curso sobre poesia no Festival de Inverno

Poeta, cronista e ensaísta mineiro concedeu entrevista exclusiva ao Correio do Povo

Luiz Gonzaga / Correio do Povo

Affonso Romano ministra curso de poesia no Festival de Inverno

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Com o tema "O Amor na Poesia Brasileira", o poeta, cronista e ensaísta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna inicia, nesta quinta-feira, um curso dentro da programação do 6º Festival de Inverno de Porto Alegre. As aulas serão ministradas no Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307). Ainda é possível fazer as inscrições, no local, ao custo de R$ 20. Mais informações estão no site do festival.

Após o primeiro dia de aulas, quinta-feira, ao meio-dia, Affonso lança o mais recente livro, "Ler o Mundo" (Editora Global), no qual fala sobre os seis anos que esteve à frente da Fundação Biblioteca Nacional, como presidente.

Com 74 anos, Affonso participou dos movimentos de vanguarda poética dos anos 50 e 60 e lançou livros fundamentais na poesia brasileira, como "Canto e Palavra" (1965), "Que País é Este?" (1980) e "Textamentos" (1999), além de dezenas de livros de ensaios e crônicas. Casado com a também poeta e tradutora Marina Colasanti desde 1971, Affonso é um conhecido polemista. Ele é um grande crítico do mundo acadêmico, das artes visuais e das instalações e videoarte, com livros como "Desconstruir Duchamp" (2003).

Nesta entrevista concedida com exclusividade ao Correio do Povo, o autor fala sobre o curso "O Amor na Poesia Brasileira", sobre que País é o Brasil atualmente, sobre a poesia brasileira neste século XXI e sobre a nova obra que está prestes a ser publicada, entre outros assuntos.

Correio do Povo - Como será a construção do curso "O Amor na Poesia Brasileira"?
Affonso Romano de Sant’Anna -
A questão do amor é intemporal, está em todas as literaturas, em todos os tempos. O que farei será um corte a partir da literatura brasileira, sobre o desejo e a interdição do desejo no imaginário masculino. Por que o universo masculino? Porque até recentemente a poesia era predominantemente masculina. Vou falar do imaginário dos poetas românticos, a mulher como caça, flor; dos parnasianos, a mulher como esfinge, devoradora de homens; dos simbolistas, a mulher inatingível; e de poetas como Manuel Bandeira e Vinicius de Moraes, a sobreposição da virgem e da prostituta, de Maria e da Madalena.

CP - No imaginário masculino e dos poetas, parece estar o medo sob várias formas.
Affonso -
A história do amor é o medo de amar, o medo do encontro, o medo da mulher castradora, o medo de se perder no seio da grande mãe, da proibição do desejo na cultura. Para abordar este tema, vou lançar mão de conceitos psicanalíticos, antropológicos e sociológicos. Falei muito sobre o tema em "O Canibalismo Amoroso" (livro de ensaios de 1990). Comer e possuir são sinônimos, comer e amar se misturam em todas as línguas. É a metáfora do canibal, da mulher como prato servido. Está no poema de Vinicius de Moraes "Receita de Mulher", está na música de Dorival Caymmi e Ary Barroso "O Que é Que a Baiana Tem?", está na obra de Jorge Amado "Gabriela, Cravo e Canela".

CP - Um dos seus principais poemas, "Que País é Este?", ainda é muito atual ao questionar as atrocidades cometidas em 500 anos de Brasil. Que País é este atualmente?
Affonso -
Ano passado eu corri o Brasil inteiro lançando a edição comemorativa de 30 anos pela Rocco de "Que País é Este?", com prefácio do historiador José Murilo de Carvalho. Foi uma boa oportunidade para comparar o País de 30 anos atrás com o de hoje. A pergunta atual deve ser ampliada, num mundo de globalização e desastres ecológicos: "Que Planeta é Este?". Os problemas hoje em dia são planetários.

CP - Por que a poesia, ao contrário do conto e do romance, não mostra renovação e uma nova geração com a força necessária de corrente ou movimento literário?
Affonso -
Para falar deste tema, temos que fazer uma revisão completa da poesia do século XX. Uma revisão dos modernistas, uma revisão da Geração de 45, massacrada por vir entre modernistas e vanguardistas dos anos 50. As vanguardas dos anos 50 e 60 ficaram velhas. Devem ser examinadas sem a paixão pelos grupos. Fui um dos parteiros da poesia marginal, levando em 1973 este movimento pela primeira vez para uma universidade, com a Expoesia, na PUC/RJ. A poesia marginal também tem que ser revista. Estão falando muito no Oswald de Andrade, mas não falam da imprecisão histórica e de informação da devoração do Bispo Sardinha. Foi em 1572, não em 1574. Novos estudos comprovam que não foram os índios que o devoraram, mas que ele desapareceu na luta por terra. Foi morto pelos brancos. A antropofagia de Oswald era primária. Com a globalização, todos devoram todos e todos serão devorados pelos chineses.

CP - Qual a nova obra sua que está no prelo?
Affonso -
Estou lançando nesta terça em Porto Alegre o livro "Ler o Mundo" (Global Editora), com ensaios dos seis anos como presidente da Fundação Biblioteca Nacional, entre 1990 e 1996, e alguma polêmica, como não poderia deixar de ser, com a publicação de uma carta inédita de José Saramago endereçada a mim, quando fui demitido pelo ministro Francisco Weffort. No próximo mês, devo lançar um livro inédito de poemas, "Sísifo Desce a Montanha", pela Rocco.

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