Agosto Laranja na Câmara Municipal começa com exposição

O dia, a noite, o som da música, uma paleta de matizes diferenciadas. Como tudo que não é concreto, a definição do que é perceptível varia de acordo com o conhecimento, a capacidade e a sensibilidade de cada um. Neste contexto, o espaço T Cultura Tereza Franco da Câmara Municipal de Porto Alegre recebeu, nesta quarta-feira, a vernissage da exposição “O mistério do abstrato trazendo a energia das cores”, primeira atividade do Legislativo lembrando o Agosto Laranja, mês de Informação e Conscientização Sobre Altas Habilidades/Superdotação na Capital.

Ao todo, dezessete obras em tinta acrílica, nanquim e aquarela, assinadas pelas artistas Marilu Mourão Pereira e Gabriella Santos Resende, podem ser conferidas no segundo piso da Câmara, até 12 de agosto, de forma gratuita, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. “A arte faz parte da minha vida há muitos anos, mas de forma informal. Trabalho com pessoas com deficiência e, também, com as altas habilidades”, contou Marilu, fisioterapeuta de formação. O nome da exposição reflete a intenção de mostrar a diversidade de olhares por meio da admiração de cada cor. “Cada pessoa vê da sua forma. Há um mistério nisso tudo”, conta.

Porto Alegre é a primeira capital brasileira a instituir o Dia Municipal das Pessoas com Altas Habilidades/Superdotação, em 10 de agosto. A lei 12727/2020 é de autoria do vereador Alvoni Medina (Republicanos), que instalou na Câmara, um ano antes, a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos das Pessoas com Altas Habilidades/Superdotação. O objetivo, segundo ele estabelecer uma discussão e criação de políticas públicas para identificação dessa parcela da população, a fim de ampliar o atendimento nos aspectos emocionais e pedagógicos, pelos profissionais de educação e/ou pelos familiares. “Essa exposição é o começo dos trabalhos que lembrarão o Agosto Laranja, que terá a abertura oficial na cidade na prefeitura, na próxima quarta-feira, dia 10”, adiantou.

Medina destacou a atenção necessária a crianças, jovens e adultos, muitas vezes, incompreendidos dentro das salas de aula. “Queremos que a lei incentive a Secretaria Municipal de Educação a capacitar professores para que possam cuidar destes alunos”, frisou. O caso que chamou a atenção do parlamentar e o inspirou a criar a lei foi o do estudante Guilherme da Silva Rodrigues, filho da presidente da Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades/Superdotação (Agaahsd), Lexandra Rodrigues. “Ele era discriminado, sofria bullying, passou por mais de dez escolas. Achavam que ele era antipático porque se destacava demais nas disciplinas. Chegou um ponto em que pensou em tirar a sua própria vida porque não era compreendido. São jovens com grandes ideias, mas não que são aproveitadas”, lembrou o vereador.

A família de Lohan Cortes, sete anos, fez questão de apreciar a vernissage. O menino e seus pais Susana e Wagner estiveram no espaço T Cultura Tereza Franco e encontraram outras situações de precocidades que já se tornaram comuns no seu cotidiano. “Aprendeu cedo a ler e escrever, fazer cálculos matemáticos e falar inglês com três anos de idade. Mas o que ele gosta é da área de Exatas”, conta a mãe, orgulhosa. “Eu quero trabalhar com programação”, exclamou o pequeno. Segundo Susana, as escolas em geral padronizam as crianças de uma forma que acaba excluindo os diferentes, como os estudantes mais desenvolvidos precoces. “Querem que eles sejam pacotinhos. O Lohan não é pacotinho”, garante.

Estima-se que, no Brasil, há cerca de 6 milhões de pessoas com altas habilidades e superdotadas (PAH/SD). A programação do Agosto Laranja na Câmara foi desenvolvida pela Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos das Pessoas com Altas Habilidades/Superdotação de Porto Alegre, Agaahsd, Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para PcD e PcAH no RS (Faders), Coordenadoria da Pessoa com Deficiência da Secretaria da Igualdade, Cidadania, Direitos Humanos e Assistência Social, e também conta com apoio da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg).