Alessandro Castro: entre estradas e livros

Alessandro Castro: entre estradas e livros

Agente da Polícia Rodoviária Federal conta em entrevista ao Caderno de Sábado sobre a sua carreira de escritor

Luciana Espíndola*

Alessandro conta que o livro de crônicas "Buenas!" será lançado na primeira quinzena de outubro, pela Lisbon Internacional Press, distribuído no Brasil e Portugal

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Alessandro Castro nasceu no município de Santo Ângelo, também conhecido como a “Capital das Missões”, há 49 anos, em uma família com quatro filhos, sendo três meninos e uma menina. A mãe era professora de Matemática e gostava de ler, já o pai não teve a oportunidade de avançar nos estudos e acabou parando no ensino fundamental.

Conta que a leitura sempre esteve entre suas atividades prediletas e lia tudo o que podia, de rótulos a livros. E que um sentimento de urgência o acompanhava, como se não pudesse desperdiçar o seu tempo. Assim, ele passava a maior parte do tempo lendo, inclusive, enquanto caminhava. E, entre suas certezas, acreditava que somente o conhecimento lhe daria uma vida melhor.

Aos 12 anos de idade, Castro decidiu assinar o Correio do Povo, pois, segundo ele, desejava estar bem informado e sentia muita satisfação em receber o impresso em sua casa. Assinaturas de revistas educativas, que trouxessem novidades sobre o que acontecia ou surgia no mundo, também faziam parte de sua rotina e o mantinham com foco no aprendizado.

Em suas lembranças remotas estão os incentivos do avô para que os netos estudassem. Embora ele tivesse estudado até o primário, por questões das dificuldades encontradas em sua época, gostava de ler. O progenitor fez um esforço e garantiu aos netos acesso à Enciclopédia Mirador Internacional. A cada novo exemplar que recebiam ficavam extremamente felizes: “O que tínhamos para estudar eram as enciclopédias, e valorizávamos muito isso. Sempre fui frequentador assíduo de bibliotecas da escola e as públicas. Não tínhamos as facilidades de hoje, como o Google, por exemplo”, lembra.

E todo o esforço acabou rendendo frutos, pois ele e os irmãos, que estudaram em escolas e universidades públicas, conseguiram realizar o sonho de seguirem as profissões que almejavam. Um é formado em Ciências Contábeis, o outro em Economia e a irmã formou-se em Direito. Alessandro direcionou-se para Letras, e é Mestre em Literatura Brasileira, com ênfase em Machado de Assis e História. Os meninos seguiram os seus destinos, um tornando-se agente da Polícia Rodoviária Federal, e o outro é oficial do Exército Brasileiro.

Alessandro Castro em ação pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) | Foto: Alina Souza / CP

Há 28 anos como agente da PRF, por quase 15 anos esteve na função de Chefe da Comunicação da instituição. Acredita que a leitura e a atividade como professor o ajudou muito para desenvolver este trabalho.

Castro sempre foi um contador de histórias nato e toda a vez que precisou recitar poemas ou apresentar os trabalhos em aula, fazia com toda a emoção que pudesse expressar. Colocava todo o seu amor pela Literatura à frente do objetivo e agia com a sua natural desenvoltura. Foi em uma apresentação de trabalho na Ufrgs, em uma de suas entregas de corpo e alma para as letras, que foi aplaudido fervorosamente pelos colegas e o professor Sergius Gonzaga teve a ideia de convidá-lo a lecionar.

Desta forma, Alessandro assumiu o ofício de ser professor paralelamente ao seu trabalho na PRF. Conta que, de tudo o que acabou vivenciando na carreira, a literatura acabou funcionando como uma “válvula de escape”, que sempre o ajudou a manter a saúde mental e a leveza. E, nesses anos todos, foi alimentando o seu repertório de histórias a partir de suas vivências e observações do cotidiano. Assim, ele foi registrando o que lhe inspirasse e que pudesse compartilhar com as pessoas.

Parou de lecionar com a chegada da pandemia, e viu a oportunidade de desengavetar alguns projetos. Selecionou materiais e, em 2021, lançou o livro de contos “Vértex ou o livro do conhecimento”, editora Chiado, com distribuição no Brasil e em Portugal. 

A partir deste período, passou a publicar crônicas semanais no jornal A Plateia, onde trata sobre o cotidiano, história e literatura. Deste material publicado, entre 2020 e 2021, foi feito uma coletânea que deu origem ao seu livro de crônicas “Buenas!”, pela editora Lisbon Internacional Press. Por isso o subtítulo: “Ponderações sociais e literárias em tempos pandêmicos”.

Foto: Guilherme Almeida / CP

O escritor, neste momento, está trabalhando em um livro para contar a história da PRF no RS e, também, em um romance histórico ambientado no Renascimento europeu, que deverão ser lançados em 2023.

Atualmente, Alessandro reside na Rua dos Andradas, no Centro Histórico de Porto Alegre, que também considera um sonho realizado. A capital gaúcha sempre foi a sua segunda casa, e uma grande inspiração. Sempre que possível, viaja para algum lugar do mundo, na tentativa de renovar as energias e obter ainda mais materiais e assuntos para utilizar em suas criações.

Considera-se um homem muito ligado às questões familiares, suas raízes e tradições. Tem dois filhos, a Luísa, com 18 anos, e o João Vitor, com 22. O filho, que é surdo, chegou à família com 3 anos de idade através da adoção; e Alessandro aprendeu Libras, a linguagem dos sinais, para se comunicar adequadamente com ele.

Questionado sobre como é ser pai, ele comenta que foi, e continua sendo, um grande desafio; talvez o maior enfrentado em sua existência, mas que foi uma das melhores decisões já tomadas.

* Supervisão de Luiz G. Lopes


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