Aluno da Escola da Ospa lança financiamento coletivo para viabilizar curso na Bélgica

Aluno da Escola da Ospa lança financiamento coletivo para viabilizar curso na Bélgica

Renato Oliveira tem 19 anos e é trompetista

Carlos Corrêa

Jovem foi selecionado para curso de oito meses na Bélgica

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Era primeiro semestre de 2015. As aulas de Teoria e Percepção na Escola de Música da Ospa (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) decorriam havia um mês, quando Risomá Cordeiro Lopes acessou a sua conta no Facebook e percebeu que lá havia uma mensagem para ele. Era de um dos alunos. Aliás, de um dos mais empenhados nas primeiras semanas. Portanto, foi com certa surpresa que o professor leu que Renato Oliveira não era exatamente um aluno. Bem, não pelo menos nos termos burocráticos.

“As aulas começaram em março. Eu cheguei lá e perguntei para o professor Risomá: ‘Posso entrar e assistir à aula?’ Ele disse que sim. Só não sabia que eu não era aluno, que não estava inscrito. Mas eu pedi, né?”, lembra o trompetista, à época com 17 anos. Agora, aos 19, inscrições não faltam ao músico. Além das aulas na Escola da Ospa, o garoto recebeu convite para um curso de oito meses na Bélgica. Faltam, no entanto, os recursos para bancar a ida, o que, se tudo der certo, será viabilizado com uma vaquinha organizada pela Internet. Não seria a primeira vez em que os desafios seriam deixados para trás por Renato.

Natural de Porto Alegre, o trompetista mora com a família em Alvorada. Mais exatamente no bairro Umbu, conhecido como o mais violento da cidade e no qual a quase totalidade das ruas carece de pavimentação. A música, contudo, transporta o garoto para um mundo bem diferente. O começo, diga-se de passagem, se deu quase por acaso. Convidado a tocar na banda marcial da escola Mário Quintana, aceitou por um motivo muito simples: não queria ficar em casa sem fazer nada. Apresentado ao trompete pelo professor Vagner Masera, o encantamento com o instrumento foi imediato. “Lembro como se fosse agora. O instrumento até não era de grande qualidade, mas para mim era a coisa mais preciosa que eu já havia pego”, recorda.

Nem tão imediato assim foram as primeiras notas musicais. E uma vez que o som do treinamento de quem está começando a aprender trompete pode ser um tanto quanto, digamos, pouco agradável, Renato ganhou o mais inusitado dos presentes do padrasto: uma Kombi. O veículo, que estava deixado de lado no pátio, não serviria como meio de locomoção, mas como estúdio. E foi lá que o trompetista aprendeu a tocar a primeira música, “When the saints go marching in”, hino gospel norte-americano, mais famoso pela gravação de Louis Armstrong, em 1938. Daí em diante, o guri de Alvorada não parou. Na banda marcial da escola, participou de uma série de apresentações e concursos. Até que decidiu entrar para a Escola da Ospa, o Conservatório Pablo Komlós.

Já devidamente inscrito, Renato começou a chamar a atenção dos professores por dois aspectos. Primeiro, pela extrema dedicação. “Ele tem isso, essa vontade de ser um grande trompetista. Sabe onde quer chegar e busca um nível de excelência”, conta o professor de trompete da Ospa, Tiago Linck. Segundo, pela velocidade com que absorve as informações e as transforma em aprendizado. Assim, alcançou em dois anos um nível que, na média, os demais alunos levam entre quatro e cinco.

O horizonte belga, portanto, não surgiu por acaso. Quando veio à Capital para se apresentar junto com a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, o trompetista Dominique Bodart também ministrou algumas aulas para a turma da Escola da Ospa. Ao final, participou de um recital na Biblioteca Pública de Porto Alegre com os alunos. “Ele gostou muito. Pediu para traduzirem o que estava me dizendo. Que havia gostado do som e da forma como eu toco. E me convidou para fazer parte da academia dele”, conta Renato.

O convite do músico belga foi acompanhado da garantia de custear 1,5 mil dos 3 mil euros, valor do curso. O financiamento coletivo lançado na internet estabeleceu como meta pouco mais de R$ 33 mil, necessários não apenas para o restante do valor das aulas, como também para despesas como alojamento e alimentação – todas devidamente justificadas no site da campanha.

Menos de dez dias após o lançamento da vaquinha, já foram arrecadados mais de R$ 8 mil. A esperança de todos os envolvidos é que a partir da divulgação, e compartilhamento em redes sociais, um público ainda maior seja atingido e a meta alcançada a tempo. Otimismo da parte de Renato é o que não falta. “Tenho que estar otimista. Se eu não estiver, quem vai estar, né?”.

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