Aluno da Escola da Ospa lança financiamento coletivo para viabilizar curso na Bélgica
Renato Oliveira tem 19 anos e é trompetista
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“As aulas começaram em março. Eu cheguei lá e perguntei para o professor Risomá: ‘Posso entrar e assistir à aula?’ Ele disse que sim. Só não sabia que eu não era aluno, que não estava inscrito. Mas eu pedi, né?”, lembra o trompetista, à época com 17 anos. Agora, aos 19, inscrições não faltam ao músico. Além das aulas na Escola da Ospa, o garoto recebeu convite para um curso de oito meses na Bélgica. Faltam, no entanto, os recursos para bancar a ida, o que, se tudo der certo, será viabilizado com uma vaquinha organizada pela Internet. Não seria a primeira vez em que os desafios seriam deixados para trás por Renato.
Natural de Porto Alegre, o trompetista mora com a família em Alvorada. Mais exatamente no bairro Umbu, conhecido como o mais violento da cidade e no qual a quase totalidade das ruas carece de pavimentação. A música, contudo, transporta o garoto para um mundo bem diferente. O começo, diga-se de passagem, se deu quase por acaso. Convidado a tocar na banda marcial da escola Mário Quintana, aceitou por um motivo muito simples: não queria ficar em casa sem fazer nada. Apresentado ao trompete pelo professor Vagner Masera, o encantamento com o instrumento foi imediato. “Lembro como se fosse agora. O instrumento até não era de grande qualidade, mas para mim era a coisa mais preciosa que eu já havia pego”, recorda.
Nem tão imediato assim foram as primeiras notas musicais. E uma vez que o som do treinamento de quem está começando a aprender trompete pode ser um tanto quanto, digamos, pouco agradável, Renato ganhou o mais inusitado dos presentes do padrasto: uma Kombi. O veículo, que estava deixado de lado no pátio, não serviria como meio de locomoção, mas como estúdio. E foi lá que o trompetista aprendeu a tocar a primeira música, “When the saints go marching in”, hino gospel norte-americano, mais famoso pela gravação de Louis Armstrong, em 1938. Daí em diante, o guri de Alvorada não parou. Na banda marcial da escola, participou de uma série de apresentações e concursos. Até que decidiu entrar para a Escola da Ospa, o Conservatório Pablo Komlós.
Já devidamente inscrito, Renato começou a chamar a atenção dos professores por dois aspectos. Primeiro, pela extrema dedicação. “Ele tem isso, essa vontade de ser um grande trompetista. Sabe onde quer chegar e busca um nível de excelência”, conta o professor de trompete da Ospa, Tiago Linck. Segundo, pela velocidade com que absorve as informações e as transforma em aprendizado. Assim, alcançou em dois anos um nível que, na média, os demais alunos levam entre quatro e cinco.
O horizonte belga, portanto, não surgiu por acaso. Quando veio à Capital para se apresentar junto com a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, o trompetista Dominique Bodart também ministrou algumas aulas para a turma da Escola da Ospa. Ao final, participou de um recital na Biblioteca Pública de Porto Alegre com os alunos. “Ele gostou muito. Pediu para traduzirem o que estava me dizendo. Que havia gostado do som e da forma como eu toco. E me convidou para fazer parte da academia dele”, conta Renato.
O convite do músico belga foi acompanhado da garantia de custear 1,5 mil dos 3 mil euros, valor do curso. O financiamento coletivo lançado na internet estabeleceu como meta pouco mais de R$ 33 mil, necessários não apenas para o restante do valor das aulas, como também para despesas como alojamento e alimentação – todas devidamente justificadas no site da campanha.
Menos de dez dias após o lançamento da vaquinha, já foram arrecadados mais de R$ 8 mil. A esperança de todos os envolvidos é que a partir da divulgação, e compartilhamento em redes sociais, um público ainda maior seja atingido e a meta alcançada a tempo. Otimismo da parte de Renato é o que não falta. “Tenho que estar otimista. Se eu não estiver, quem vai estar, né?”.