Angústias em tempos de isolamento tematizam espetáculos

Angústias em tempos de isolamento tematizam espetáculos

A mistura de linguagens com possibilidade de interação é o mote de “Porco Solidão”, enquanto o Balé da Cidade de SP estreia as coreografias “A Casa” e “Transe”

Correio do Povo

"Porco Solidão" aborda as inquietações dos tempos atuais

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Transitando entre o teatro e o vídeo, "Porco Solidão" é uma cocriação de Aline Andrade, Jeane Doucas, Marcelo Miyagi e Roberson Nunes que aborda as inquietudes e angústias dos tempos atuais, desta quinta até sábado, às 20h. Os ingressos gratuitos estão disponíveis na plataforma Sympla, com possiblidade de contribuição espontânea, dado o caráter independente do trabalho.   

A montagem trata da condição transitória e solitária do ser humano frente às situações que parecem comuns, mas que revelam a estranheza que atravessam o nosso turbulento cotidiano. Com essa percepção, os artistas se lançaram em uma espécie de redemoinho de ações, sentimentos e pensamentos, procurando reinventar a solidão existencial de cada um, sobretudo neste momento histórico, marcado por uma pandemia mundial. Ela é fruto da surpreendente situação a qual todos fomos acometidos: estarmos todos “presos” involuntariamente, por um motivo de força maior, completamente inesperado, um vultoso tormento, que nos fez voltar literalmente para dentro. Dentro de nossas próprias casas, dentro de nós. Em contato muito próximo com quem vive conosco. Ou completamente sozinho, para quem vive só. Um exagero daquilo que você mesmo é. Uma sobrecarga de trabalho remoto para muitos – situação na qual o trabalho vem para dentro de casa e não há mais distinção entre os tempos e espaços. 

Em outros casos, pessoas sem condições de trabalhar ou sobreviver frente a tanta ausência: do outro, de trabalho, dinheiro, comida, lar, de si mesmo e de sentido. Com a falta de tantas coisas, “Porco Solidão” busca a desconstrução como proposta de se ver e ver o outro sob óticas diferentes (por vezes divergentes), reinventando o dia-a-dia. A obra busca abrir as entranhas das solidões dos performers, de modo curioso e inusitado, entre a trágica realidade e a comicidade. “O nome surgiu como brincadeira. É um nome que o Roberson sempre se referiu fazendo alusão à música “Porto Solidão”, de Jessé. Mas durante o processo, entendemos que o nome se relacionava diretamente com o que estávamos propondo: o porco como metáfora da condição animal do homem, encarcerado e visto como um produto, e a solidão frente às situações aparentemente comuns, mas que revelam a estranheza e os absurdos que atravessam nosso cotidiano hoje”, conta Jeane Doucas.

Após um ano longe dos palcos, o Balé da Cidade de São Paulo, que está completando 53 anos, retorna com a estreia de duas criações: “A Casa” de Marisa Bucoff e “Transe” de Clébio Oliveira. A temporada presencial vai de hoje, às 20h até domingo, no Theatro Municipal de SP, com protocolos de segurança. A coreografia “A Casa” será transmitida gratuitamente neste sábado, às 20h e “Transe”, domingo, 17h, ambas ao vivo, pelo canal do Youtube do Theatro Municipal. 

O elenco estará dividido em dois grupos fixos, utilizando-se de máscaras no figurino. “A Casa” teve como ponto de partida o isolamento social e o período que estamos vivendo. A vulnerabilidade em que estamos lançados perpassa a montagem, que colocou no palco uma casa representada ora de maneira literal, com algumas poucas mobílias, ora de maneira simbólica, numa referência ao filme “Dogville” de Lars von Trier. No contraponto, “Transe” parte da indagação: "O que seria o ideal de um mundo perfeito? O que seria uma vida ritualizada? O que seria uma aventura de viver? Seria possível um mundo onde pudéssemos apenas celebrar a vida através da dança e da música?". O coreografo e bailarino convidado, que já flertava com a companhia há 15 anos, começou a conceber o espetáculo pensando no Balé da Cidade em 2006, inspirado no festival Burning Man, realizado no deserto de Nevada, EUA. Por conta da inspiração no festival, que cria em suas edições uma espécie de lugar utópico e um universo paralelo, Clébio Oliveira foi profético ao já imaginar, naquela época, uma montagem onde os bailarinos dançavam de máscara e óculos, por conta das tempestades de areia que surgem no local.

 


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