Artistas pioneiras da América Latina participam de megaexposição em Nova Iorque
Mostra reúne nomes que se destacaram na representação do corpo feminino
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A colossal exposição "Mulheres radicais: arte latino-americana 1960-1985", com obras de artistas latino-americanas e hispânicas nos Estados Unidos, não muito conhecidas mas pioneiras na forma como representaram o corpo feminino, começa nesta sexta-feira no Museu do Brooklyn, em Nova Iorque. A mostra foi organizada pelo Museu Hammer de Los Angeles, mas poderá ser vista no Brooklyn até 22 de julho. Em plena era do movimento #MeToo contra o abuso sexual e protestos na América Latina contra os trágicos números de feminicídios, a exposição apresenta cerca de 260 obras de mais de 120 artistas de 15 países que ampliaram o catálogo da arte contemporânea durante um período de grande agitação política e social e muita experimentação, com fotografias, vídeos, performances e instalações, assim como pinturas, esculturas e gravuras.
Machismo na arte
"Não há um tabu", comenta uma das curadoras, Cecilia Fajardo-Hill, que destaca a ideia do radicalismo. "Você pode falar do sangue menstrual, da tortura, ou fazer uma obra poética". Para a curadora, "estamos em um momento em que brigamos pelos direitos das mulheres" e nesse contexto a exposição "adquire uma significação maior" e inspira jovens artistas que lutam por seus direitos e só encontram referentes homens nos livros de arte.
A cocuradora Andrea Giunta afirma que há "muito machismo no mundo da arte". Ela, parte do movimento "Nós propomos", que busca demonstrar a invisibilidade das mulheres artistas nas coleções dos museus, conta que levou sete anos para montar a exposição, e que durante os primeiros quatro enfrentou uma dura oposição. Diziam-lhe que uma exibição deste tipo reforçaria "o estereótipo do machismo latino-americano", ou que não fazia sentido "porque as mulheres já foram valorizadas". Mas pesquisou, obteve estatísticas e conseguiu seguir em frente com seus planos.
Segundo Giunta, no melhor dos casos as mulheres representam 30% do mundo da arte. Mas a média é de 16% na arte contemporânea. Na mostra, dividida em seções como "Resistência e medo", "Feminismos" ou "Erótico", as artistas processam suas experiências, que incluem a prisão, exílio, tortura, agressão sexual, racismo e maternidade.
Embora a exposição inclua artistas conhecidas, como a brasileira Lygia Pape e a argentina Marta Minujín, a maioria das obras pertencem a criadoras menos conhecidas, como a venezuelana Ani Villanueva. Esta artista, que viajou especialmente de Caracas para a abertura da exposição, para em frente à sua obra, um vídeo de sua primeira performance pública, aos 28 anos. "Eu sou esse quadro móvel", diz, enquanto passam imagens dela totalmente coberta por um pano pintado por sua mãe, dançando. "Vejo tudo isso e penso que somos realmente mulheres universais, não só latino-americanas", explica esta bailarina de 63 anos, que prepara agora uma instalação sobre a esperança com "mulheres guerreiras" na Venezuela. "Eu sou uma sobrevivente da violência de gênero e de muitas coisas, mas estou tentando comunicar que você pode se elevar sobre a bondade ou da maldade e expressar sua liberdade interior de uma forma mais abstrata", comenta.