Autor de filmes polêmicos, Pasolini tem seus poemas traduzidos no Brasil

Autor de filmes polêmicos, Pasolini tem seus poemas traduzidos no Brasil

Novo livro com obra do escritor e diretor será lançado nesta quinta no país

AE

Morte de Pasolini completa 40 anos em 2015

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Os 40 anos de morte do poeta, cineasta, ensaísta e pintor italiano Pier Paolo Pasolini, assassinado na praia de Ostia, perto de Roma, no dia 2 de novembro de 1975, serão lembrados no Brasil com o lançamento de "Poemas: Pier Paolo Pasolini". A edição bilíngue da Cosac Naify reúne excertos dos sete livros de poesia publicados em vida pelo escritor, além de textos que apareceram em obras ensaísticas já publicadas aqui, entre ele "Empirismo Herético e Escritos Corsários".

A tradução é de um especialista na obra de Pasolini, o professor de literatura italiana Maurício Santana Dias, que trabalhou um ano na versão dos primeiros poemas de juventude, escritos em dialeto friulano de Casarsa, como
os do livro "A Melhor Juventude" e os derradeiros, reunidos no volume "A Nova Juventude", publicado no ano da morte do autor.

Homossexual que não se integrou ao movimento gay, mas afirmou sua condição desde os primeiros poemas, Pasolini causou escândalo por seu comportamento insubmisso, sendo, inclusive, expulso do Partido Comunista italiano após ser acusado de corrupção de menores e atos obscenos em lugar público. O choque sempre esteve ligado a sua figura, dos primeiros poemas ao último filme - "Saló", transposição de "Os 120 Dias de Sodoma", do Marquês de Sade, com cenas de tortura realistas transferidas para a Itália fascista, em 1944.

Seu testamento cinematográfico provocou escândalo onde foi exibido. Em contrapartida, seus poemas, mesmo tratando de temas igualmente polêmicos, parecem longas meditações registradas num diário, em que a modernidade de Pasolini dialoga com formas poéticas arcaicas, como a "terza-rima" de Dante, sua referência constante. Como observa Berardinelli, o caráter híbrido da produção intelectual fez dele "o exemplo mais vistoso de intelectual engajado: um intelectual herético que punha a si mesmo e a sua experiência no centro de todo discurso público".

Seus primeiros poemas em friulano estão povoados de mães e "ragazzi" de Casarsa - e declarações apaixonadas, tanto edipianas como homoafetivas. Curioso é que Pasolini aprendeu o dialeto por ser a língua materna, o que representa não só um tributo à origem como uma espécie de renascimento no mundo camponês e arcaico - que ele tomava, em sua visão romântica, como contraponto da degeneração do subproletariado urbano, contaminado, segundo ele, pela ânsia consumista burguesa.

Pasolini não falava o dialeto da mãe. Aprendeu o friulano como "uma espécie de ato mítico de amor, como os poetas provençais". Esse ato mítico deriva também da leitura radical que ele faz da obra do grego Parmênides, o poema "Sobre a Natureza", para desenvolver o conceito de sacralidade natural, tão bem explorado no prólogo de seu filme "Medeia", em que um centauro tenta explicar a um menino duas visões de realidade que se dissipam com o passar dos anos (ao envelhecer, ele não mais verá o centauro, criatura fantástica que desafia a razão). Para ele, não existia nada de natural na natureza. Tudo era sobrenatural, como para nossos ancestrais. Não sem razão, era o homem exato para contar a vida de Cristo, o que fez em seu "O Evangelho Segundo São Mateus", talvez o mais belo filme sobre a vida do Messias.

Já primeira poesia do escritor, especialmente a dialetal, tem uma forte carga erótica e, ao mesmo tempo, uma doentia obsessão pela morte, a tal ponto que num poema do livro "O Rouxinol da Igreja Católica", ele parece antever sua tragédia final. Ele foi espancado e mutilado na praia de Ostia, supostamente por Giuseppe Pelosi, um garoto de programa, hoje fora das grades - negou ser o autor do crime em 2005, afirmando que três homens sicilianos participaram do assassinato, insultando o escritor e diretor com a palavra "comunista" seguida de outros adjetivos (essa é a versão contada por Abel Ferrara no filme "Pasolini").

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