Ava Rocha e Ian Ramil farão miniturnê no RS na próxima quinta

Ava Rocha e Ian Ramil farão miniturnê no RS na próxima quinta

Músicos lançaram discos novos em 2015

Susi Borges

Filha dos cineastas Glauber Rocha e Paula Gaitán, Ava também carrega na bagagem espaço para o cinema

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Falar em nova geração da música brasileira é um belo convite para sentir o gosto do experimentalismo, segurar o volume numa guitarra distorcida e abrir os ouvidos para um discurso novo, que ao mesmo tempo chega com um desabafo reivindicando o que já é antigo. Dois dos representantes desse movimento predominantemente independente, Ava Rocha e Ian Ramil, e seus respectivos discos lançados este ano, suscitam essa interpretação.

A carioca e o gaúcho iniciam uma miniturnê juntos no Estado na próxima quinta-feira com uma pretensão não anunciada, mas implícita em suas obras recentes: eles querem perturbar. Perturbação no melhor sentido que seu significado possa propor, aquela que tira da zona de conforto, que incomoda porque fala na cara — mas fala, que traz à tona a inquietação, seja oriunda da política ou de um romance rompido.

Ava Patrya Yndia Yracema”, título do segundo disco de Ava Rocha (e nome de batismo da artista), tem 12 faixas, que percorrem desde o romantismo sincero, suave e escancarado, como em “Você Não Vai Passar” (“Você não vai passar de um cara/ Que nunca tomou conta de mim”), até chegar à potência máxima de “Auto das Bacantes”.

Filha dos cineastas Glauber Rocha e Paula Gaitán, Ava também carrega na bagagem espaço para o cinema — e leva a teatralidade para o palco, em uma performance impressionante. A artista, que já dirigiu dois filmes e videoclipes, prefere definir essa pluralidade de experimentos como facetas naturais de sua personalidade, sem individualizar a linguagem de um ou outro. “Para mim, tudo se mistura, como numa alquimia”, decreta.

Essa faculdade múltipla também se acomoda à carreira de Ian Ramil, que compartilha em suas criações a influência do teatro, séries televisivas e filmes. Sem dó, o primogênito de Vitor Ramil chegou com os dois pés na porta de 2015. Se há um disco hermeticamente adequado ao latente desconforto político em que o país se resume hoje, esse trabalho chama-se “Derivacivilização”. Ian lançou em outubro o sucessor de seu álbum de estreia, homônimo, dando voz ao descontrole instalado. “Tenho escutado ótimos relatos, gente que se identificou de cara, gente que levou tempo para digerir, gente que descobre coisas novas a cada audição. É um disco condizente com o caos social que vivemos, cheio de camadas sonoras e poéticas”, explica.

A constatação desse panorama começa com o tapa na cara da boa “Coquetel Molotov” (“Eu tô sentado em casa vendo qualquer m*** na TV/ Há muito não entendo nada e sempre tenho o que dizer”), primeira canção do disco, seguida da faixa-título, acompanhada pelo timbre de Filipe Catto.

A sintonia fina dessa produção, cuja fase embrionária se deu em Pelotas, na casa onde Ian passou parte da infância e da adolescência, se estende até a cenografia do palco. Nos shows, o cenário é assinado também pelo artista em suas apresentações solo e, agora, na turnê com Ava Rocha no RS, cuja expectativa transborda: “Fazer essas noites com Ava vai ser uma alegria para fechar este ano desconfortável. Ava não tem medo de arregaçar a realidade e expor coisas que as pessoas geralmente lutam para ignorar. Me sinto em casa na música dela”, comenta Ian. O tour da dupla no Estado irá percorrer Pelotas, dia 16, no João Gilberto; Porto Alegre, 17, no Theatro São Pedro; e Novo Hamburgo, 18, no Pubis.

Seguindo o caminho de artistas que bebem da fonte dessa nova etapa da música brasileira, os discos de ambos foram lançados de forma independente e liberados para download gratuito em seus respectivos sites: avarocha.com e ianramil.com.

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