Banda Afro-Sul lança álbum visual em comemoração aos seus 45 anos

Banda Afro-Sul lança álbum visual em comemoração aos seus 45 anos

Diretor musical do grupo, Paulo Romeu Deodoro, conta a história da banda que foi braço cultural do Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomodê

Leticia Pasuch *

Paulo Romeu Deodoro, o Paulinho, foi um dos fundadores da banda Afro-Sul e hoje está à frente do Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomodê junto a Iara Deodoro

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Próximo de completar 50 anos da sua criação, a Banda Afro-Sul, braço cultural do Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomodê, lança o álbum visual de 45 anos, que foi idealizado em 2019. Devido à pandemia de Covid-19, no entanto, o lançamento foi transferido para este ano. Nesta terça-feira, 2, às 20h, no YouTube Afro-Sul Odomode, será lançado o álbum “45 Anos Banda Afro-Sul”, com 17 músicas e participações. No último domingo, dia 30 de abril, houve o lançamento do álbum no Instituto, na avenida Ipiranga, com roda de conversa na presença de convidados especiais. 

O diretor musical do grupo Afro-Sul Paulo Romeu Deodoro, conhecido como Paulinho, conta bem-humorado, em uma tarde ensolarada, como surgiu a parceria que deu início à banda. Era 1974, quando Paulinho, de 17 anos, conheceu o maestro Marcos Farias na Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora. A dupla fazia um “som” nos eventos do clube. À época, no bairro Cristal, os bailes Black e o grupo Magia Negra eram atrações nas discotecas.

Paulinho carrega a experiência musical no DNA. Foi instruído por Neri Caveira, músico percussionista e mestre-de-bateria da Imperadores do Samba, mas principalmente pelo pai, Paulo Santos Deodoro, conhecido pelo “violão cinco estrelas”, como cita, e que tocou com Lupicínio Rodrigues.

O conjunto da época era inicialmente composto por Paulo, Marco e Antônio Carlos – conhecido como Sarrinho. O grupo, junto ao violão e percussão, passou a se apresentar em bares e festivais locais, com atuação ascendente na cena musical do Estado. Em 1977, os membros da banda embarcaram para São Paulo, para se desenvolverem com grandes clássicos da música brasileira. O grupo participou de shows com Luiz Vagner Guitarreiro, Bebeto, Claudio Fontana, e outros. Na época, se somaram novos integrantes, como Carlos Garcia e Álvaro Soares. Houve integração com o Pau-Brasil, grupo de samba criado em 1970 integrado por Jorge Moacir da Silva, o Bedeu.

Para Paulo, São Paulo foi um caldeirão de oportunidades. “Tocamos com um monte de gente da música popular brasileira, e a gente estava recém começando”, diz. “Eu nunca ia imaginar na vida tocar com o Ben Jor, que o Tim Maia iria nos ver tocar, que eu iria comer quindim com ele em uma padaria”, ri.

Raiz Afro-Gaúcha

A banda retornou à Capital em 1981. À frente no grupo com a esposa, a mestra Iara Deodoro, foram inseridos bailarinos no elenco, transformando-se no Grupo Afro-Sul de Música e Dança. Desse modo, as atividades se destacavam na dança, música e nos ritmos afros.

Apesar das influências musicais, a Banda Afro-Sul não tinha – e nunca teve – um gênero musical e ritmo definido. “Quando a gente subia no palco, nem a gente sabia definir”, diz Paulo. O objetivo era construir um estilo próprio, carregado de manifestações culturais de raízes afro-gaúchas e brasileiras, com influências do soul, jazz, black music e samba-rock, com instrumentos primitivos e milenares. “É uma força que a música e a dança tem como cultura, como um padrão social, de se mostrar e de ter protagonismo”.

Havia, de acordo com Paulo Romeu, um paradoxo entre o sucesso financeiro e a fidelidade às raízes ancestrais. Ser Afro-Sul era também não sucumbir às exigências do mercado musical. “Eu preferia ficar sem dinheiro e construir o Afro-Sul de 50 anos, com toda essa geração que a gente não sabia que teria”. Em 1981, o grupo começou a integrar a Escola de Samba Garotos da Orgia, que foi fundada em 1980 e levava ao carnaval da Capital temas e enredos da cultura afro-brasileira. Logo após, a agremiação foi assumida pelo Bloco Afro Odomodê. A Banda Afro-Sul gravou dois discos: “Florestas Auroras”, no início dos anos 2000, e “Gente Inteligente”, em 2007. Também colecionou cinco Prêmios Açorianos com seus espetáculos.

Formação

A composição da banda foi variando com o tempo, incluindo novos músicos e dançarinos. O grupo passou a ser imbricado pelo próprio Instituto Afro-Sul Odomodê, que atualmente ministra cursos de dança, música, maracatu, percussão feminina e outras atividades sociais de formação, desenvolvimento da autoestima e valorização da cultura afro-brasileira. “Afro-Sul é uma bagagem muito grande, e para nós é uma satisfação essa coisa de ter toda uma geração em volta de nós, que tem todo um respeito, todo um carinho com o nosso trabalho”, declara.

O projeto “45 anos banda Afro-Sul”, para o álbum visual, foi realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura, do Governo do Estado. Paulo destaca a música que abre o álbum, “A Pergunta”. Para ele, essa pergunta ainda está no ar. “Às vezes passo na rua cheia/Não és capaz de me olhar/ Nunca tentaste me ouvir e me entender/ Porque tu achas que és mais/ Vou esfriar a cabeça como os meus ancestrais/ Vou te propor um acordo/ Todos seremos iguais/ Porque depois da vida tem mais”, canta um trecho. Ele destaca, também, "Mãe Preta" e "Porongada", músicas que são "a cara do Afro-Sul", como cita. Até o início de junho, as músicas serão lançadas em todas as plataformas de áudio. 

Com uma energia sem igual, Paulinho tem história para contar dos quase 50 anos do Instituto, que segue em pé com a busca do resgate e difusão da memória cultural afro-gaúcha, como um espaço de resistência e construção de identidades.

* Supervisão de Luiz G. Lopes


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