Best-seller mundial narra a espetacular história do livro

Best-seller mundial narra a espetacular história do livro

O livro "O Infinito em um Junco", da escritora espanhola Irene Vallejo, foi traduzido para mais de 30 idiomas

AE

Em sua escrita, Irene convida o leitor a fazer uma jornada para desvendar a origem dos livros e todas as tentativas, ao longo dos anos, para multiplicá-los e também aniquilá-los

publicidade

Quando decidiu refletir sobre as origens e o destino do livro ao longo dos séculos, a jovem escritora espanhola Irene Vallejo entrou em um mundo fascinante não apenas pela forma de compreensão da inteligência humana, mas também pelas deliciosas histórias que colecionou que envolvem desde a disputa entre imperadores por bibliotecas até a discreta fofoca de que o mais célebre discurso proferido por Péricles, proeminente político da Grécia Antiga, foi escrito por sua mulher, Aspásia de Mileto.

"Acredito que a literatura é capaz de explorar a realidade com uma profundidade palpitante que raramente ocorre em nossos relacionamentos, por trás das fachadas e máscaras atrás das quais nos refugiamos. A humanidade muitas vezes escreve o que não ousaria dizer. Essas revelações, essas confidências, essas buscas profundas nos aproximam de pessoas que viveram séculos atrás, nas quais nos reconhecemos", conta Irene ao Estadão, em entrevista sobre o livro "O Infinito em um Junco" (Intrínseca), que chega agora ao Brasil carregado de glórias: traduzida para mais de 30 idiomas, a obra foi eleita uma das melhores de 2020 pelo jornal americano The New York Times.

CONVITE

Em sua escrita, Irene convida o leitor a fazer uma jornada para desvendar a origem dos livros e todas as tentativas, ao longo dos anos, para multiplicá-los e também aniquilá-los. "Quais obras foram queimadas com ódio e quais foram copiadas de forma mais apaixonada?", questiona. As respostas vêm em uma narrativa que flui com facilidade, quando ideias são emendadas com fatos de forma natural.

E, como cita inúmeras obras clássicas, a autora espanhola ouviu comentários de que a Bíblia é pouco lembrada. "O livro tem um fio condutor que pode parecer livre e digressivo, mas é muito pensativo. Escolho as obras que menciono por sua relação com os temas que quis explorar neste ensaio", comenta ela. "Portanto, a Bíblia aparece nos contextos em que explica mudanças e desenvolvimentos na história do livro como formato. Por exemplo, dedico um capítulo para discutir a fascinante história da tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego em Alexandria e também discuto a importância do cristianismo no sucesso dos livros como os conhecemos."

CÓDICE

Segundo Irene, os cristãos defendiam o códice, ou livro de páginas, como uma ruptura simbólica com o judaísmo e com o paganismo, que preferiam os pergaminhos. "A razão é que os códices favorecem leituras furtivas, escondidas dos olhos do poder. Vítimas de perseguição por parte das autoridades pagãs durante séculos, obrigados a procurar esconderijos e interromper abruptamente seus encontros, organizaram-se em pequenas comunidades clandestinas. O livro de bolso era mais fácil de esconder às pressas nas dobras da túnica e era conveniente para transportar sorrateiramente nas viagens apostólicas.

Eram vantagens enormes para os leitores que tinham que manter seus textos em segredo. Não devemos esquecer que o livro de páginas teve sucesso em grande parte porque favoreceu a leitura clandestina, negada, não consensual."

O livro foi originalmente publicado antes da pandemia da Covid, mas, durante o período de isolamento social, Irene Vallejo abasteceu seus fãs pelas redes sociais com evocações de clássicos que descrevem situações semelhantes: desde a "Ilíada", "Édipo Rei", e a praga de Atenas em "Tucídides" e "Lucrécio", a "Decameron", "Romeu e Julieta" (a quarentena que atrasa o mensageiro), os namorados de "Manzoni" ou o "Amor nos Tempos do Cólera", de García Márquez.

"Senti que naqueles momentos era reconfortante insistir que não é a primeira vez que enfrentamos uma pandemia e que coletivamente sempre sobrevivemos", observa. "Acredito que a consciência de nossa fragilidade compartilhada pode nos ajudar a entender a necessidade de colaborar e fortalecer as comunidades que garantem esse apoio mútuo."

A situação atual, marcada por radicalismos em vários países, é, segundo a autora espanhola, uma oportunidade para se comprovar que a leitura faz parte da preparação necessária para se viver em uma democracia.

"Desde que os gregos o criaram há milênios, esse sistema é o mais exigente e incrível que já experimentamos. Pretende criar uma convivência que não se sustenta na força, mas se baseia em uma delicada urdidura de acordos e uma conversa incessante."

As ficções sempre sofreram com a acusação de espreitar o perverso, mas é aí que reside seu poder. "Graças à imaginação, exploramos em território seguro os dilemas e conflitos que a vida nos lançará."

O livro "Infinito em um Junco" é da autora espanhola Irene Vallejo, com tradução para a língua portuguesa por Ari Roitman e Paulina Wacht, editora Intrínseca; são 496 páginas.


Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta sexta-feira, dia 26 de abril de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895