Pré-Carnaval com folia e história no Centro Histórico na Capital

Foi-se o tempo em que se dizia que o Carnaval é um fenômeno “alienante”. A uma semana da folia, a Praça Brigadeiro Sampaio, conhecida como Praça do Tambor, no Centro Histórico de Porto Alegre, recebeu o evento pré-Carnaval da cidade. Na programação, teve palestras, shows musicais, apresentações de capoeira e samba de roda. Mais que a alegria comumente associada à festa, o domingo na primeira praça da Capital foi de conscientização e resgate histórico.

Autor do livro “A alma do Carnaval no espelho: pesquisa psicanalítica”, o advogado, radialista e especialista no tema, Antônio Carlos Côrtes, com versou com o também psicanalista e escritor Gaio Fontella sobre a simbologia do reinado de Momo. “O Carnaval é o avesso, aquilo que é proibido no dia a dia, no Carnaval é liberado. A libertação deveria ser no ano inteiro, e não apenas em uma data. No Carnaval as pessoas tiram a fantasia que vestem o ano inteiro. Mas será que atrás desta máscara, há outra?”, questiona em tom de reflexão. Segundo ele, a presença do tambor – que, de fato, emite som – na praça não é por acaso. “Para os africanos, não era só um instrumento, mas uma forma de comunicação”, lembra Côrtes.

Gaio Fontella levou ao evento o conceito fundamental da psicanálise, a pulsão, muito versado por Jacques Lacan e Sigmund Freud. “O Carnaval é eminentemente pulsional, há muito sobre sexualidade nele, mas não só isso. O Carnaval tem muito de história de cultura, de africanismo, de sabedoria, no samba-enredo e nas alegorias. Reflete o que acontece na vida da sociedade”, explica. A costura musical ficou por conta do cantor e compositor Zé Caradípia, que é “vizinho” da praça e entoou sambas antológicos. “Músicas que gosto desde pequeno e continuo gostando até hoje”, disse o artista.

A prefeita da Praça Brigadeiro Sampaio, Marivane Anhanha Rogério, organizadora do evento, explanou a importância da atividade. “Tenho orgulho de ter esse local como quintal dos vizinhos do Centro Histórico. Moramos em apartamentos, então, não temos pátio. A praça é nosso pátio”, sorri. Ela lembra que o pré-Carnaval resgata uma prática de tempos antigos. “O pessoal se reunia para a roda de samba ou de capoeira e depois se reunião para alimentação todos juntos. É o que fizemos aqui”, conta, apontando para a tenda onde comes e bebes foram compartilhados aos visitantes, como se membros da família fossem, no evento deste domingo.

A atividade, que contou com o apoio da Secretaria Municipal da Cultura e Economia Criativa (SMCEC), ainda tinha na programação roda de capoeira e samba de roda, com participações do mestre de tradição Renato Bê-a-Bá, do grupo e escola do Bê-a-bá de Angola e das bandas Malta dos Guris e Gurias da Rua.