Carolina tem o olhar para a economia criativa

Carolina tem o olhar para a economia criativa

Coordenadora do RS Criativo trabalha com o desenvolvimento da economia criativa no Estado

Caroline Guarnieri *

Carolina já atuou no Farol Santander e na Fundação Vera Chaves Barcellos | Obra “Sem título” (2012), de Itelvino Jahn

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Carolina Biberg foi uma daquelas crianças que faziam arte. Natural de Porto Alegre, ela frequentava o Centro de Desenvolvimento da Expressão (CDE), estrutura da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac/RS), responsável por oferecer cursos e oficinas de formação artística. Lá ela experimentou com madeira, teatro e artes visuais. A atual coordenadora do programa RS Criativo conta que busca conciliar a gestão pública com a sua maior paixão no mundo das artes, a ourivesaria. 

Ela me recebeu no hub público de criatividade e inovação do programa, localizado no terceiro andar da Casa de Cultura Mario Quintana. O local oferece espaço de trabalho para os artistas e empreendedores vinculados ao RS Criativo, selecionados via edital. Os ornamentos que preenchem as paredes do chão ao teto fazem parte do acervo do Museu de Arte Contemporânea do RS (MACRS). Da sala onde estávamos, cercada por paredes de vidro, era possível ver a obra “Sem título” (2012), de Itelvino Jahn (foto), além de mesas ocupadas por gestores de cultura em reunião.

“Quando eu era pequena, sempre ia muito bem nas matérias de artes, era uma coisa que eu gostava muito, e ia meio que deixando todo o resto de lado”, lembra Carolina. A preferência fez ela largar a faculdade de arquitetura para fazer artes visuais na Ulbra, de onde se formou em 2006. Desde o início da carreira, ela percebeu que também levava jeito para a área de administração, por isso buscou uma segunda graduação em Gestão Cultural, além de uma especialização em Museografia e Patrimônio Cultural.

O convite para trabalhar com a Secretaria Estadual da Cultura veio da própria secretária da pasta, Beatriz Araujo, em julho de 2019. O RS Criativo é o braço da Sedac que procura trabalhar de maneira estratégica e transversal para desenvolver a economia criativa no Estado. Essa área tem como foco a criatividade e a cultura; portanto tem tanto valor econômico quanto cultural. 

Carolina explica que, enquanto as outras instituições, como o CDE, trabalham com a formação técnica dos artistas, a equipe do RS Criativo oferece auxílio para fazer da arte um negócio. “A gente entende que a pessoa já tem o talento, já desenvolveu essa técnica, então agora ela precisa incubar isso para alavancar o seu negócio”, conta. “Ela precisa pensar na gestão de finanças, em marketing, em recursos e fomento para sua área”. 

O foco principal do programa é a cultura. A criatividade, porém, abarca diversos tipos de produções, não só culturais. Também existem as áreas de tecnologia, mídias e criações funcionais. Então pertencem a esse grupo da economia criativa atividades como: artes, música, fotografia, gastronomia, artesanato, criação de jogos, pesquisas acadêmicas, edição de livros e jornais, audiovisual, publicidade, arquitetura, moda, design e muitos outros.

O programa capitaneado por Carolina se propõe a fomentar a cultura, formar e qualificar profissionais da área, promover iniciativas sustentáveis e levar todas essas ações para as demais regiões do estado, a fim de atingir os 497 municípios gaúchos. Ele foi oficializado por decreto em 2013, mas funciona de forma mais ativa desde 2019. 

A gestora diz que, para dar conta destes objetivos, o setor é organizado em cinco eixos: capacitação e residência; observatório; promoção e investimento; mercado e circulação, e territórios criativos. Eles selecionam empreendedores, por meio de editais, para receberem consultorias, workshops, capacitações e networking, além de poderem usar a infraestrutura do programa livremente. 

Essa iniciativa, chamada de residência criativa, já aconteceu duas vezes, uma com cinco meses de duração e outra em 12 meses. No último ciclo, encerrado em janeiro deste ano, o programa incubou 20 empreendimentos.

Carolina: "Quando eu era pequena, sempre ia muito bem nas matérias de artes, era uma coisa que eu gostava muito, e ia meio que deixando todo o resto de lado" | Foto: Mauro Schaefer

Trajetória

Carolina já estava acostumada a trabalhar com projetos desde antes da Sedac. Ela trabalhou no Farol Santander Porto Alegre por nove anos, divididos em duas gestões. Suas funções na instituição foram desde agente cultural até os setores de comunicação, projetos e educação. Entre os períodos no Farol Santander, Carolina passou 11 anos atuando na Fundação Vera Chaves Barcellos, onde também focou em projetos, acervo, documentação e pesquisa. 

Desde a adolescência, ela pinta e produz peças de cerâmica. Sua vivência de trabalho a levou a conviver mais com a arte contemporânea e com o mercado artístico em geral, o que, ao contrário das suas expectativas, a afastou das suas próprias produções. “Eu parei de fazer o que eu fazia de arte porque, como eu via muito essa estética da arte contemporânea, eu achava que eu não me encaixava naquilo”, confessa. “Eu meio que me tolhia por conta do mercado, eu pensava ‘não, eu não tenho esse perfil, eu acho que isso não é para mim’”. Foi quando ela saiu do Santander pela segunda vez que a saudade se tornou forte demais.

Em busca de se reconectar com o seu lado mais artístico, Carolina começou a estudar ourivesaria, a arte de trabalhar com metais preciosos para produzir joias e ornamentos. “Eu sempre quis fazer isso, sempre gostei muito de moda e acessórios”, revela. Seu principal material até agora tem sido a prata. Ela relata que usa as próprias joias para testar sua funcionalidade, mas no momento em que conversamos, ela usava outros produtos queridos. Até sua roupa, com estampas de pedras preciosas, revelava seu gosto.

“Na ourivesaria eu me achei, é isso que eu quero”, admite. Hoje, ela tem a oportunidade de trabalhar com artistas e empreendedores para criar negócios sustentáveis − e rentáveis − para a carreira de cada um. Ela reconhece que tem “um olhar muito social”. Carolina Biberg sempre fez arte, e agora também ajuda os outros a fazê-la.

* Sob supervisão de Luiz Gonzaga Lopes


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