Cena polêmica de "O Último Tango em Paris" causa revolta em Hollywood

Cena polêmica de "O Último Tango em Paris" causa revolta em Hollywood

Diretor do clássico afirmou que atriz Maria Schneider não sabia de todos os detalhes

AE e Correio do Povo

Na trama de 1972, Maria e Marlon Brando viviam os amantes Jeanne e Paul

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Desde o último sábado, uma discussão antiga em Hollywood ganhou novo fôlego quando a revista americana "Elle" recuperou um vídeo do diretor italiano Bernardo Bertolucci em que ele admite que a atriz Maria Schneider, morta em 2011, não sabia de todos os detalhes sobre a famosa cena de "O Último Tango em Paris", clássico de 1972 gravado quando a artista tinha apenas 19 anos. Bertolucci admitiu que o impacto da cena deve-se ao fato de Maria haver sido pega de surpresa e ainda comentou que Marlon Brando, na época com 48 anos, e ele tiveram a ideia na manhã da gravação.

Imaginaram que o personagem de Brando usaria a manteiga como lubrificante anal, mas mantiveram o segredo entre eles, contando com a reação "espontânea" da atriz. Bertolucci conta que se sentiu muito mal por não haver instruído Maria, mas reconhece que, para o filme, foi melhor. Por conta da repercussão negativa, o diretor italiano divulgou um comunicado na segunda-feira, argumentando que Maria não sabia apenas da parte da manteiga.

"Há alguns anos, alguém me perguntou detalhes sobre a famosa cena da manteiga. Eu disse que decidi, junto com Marlon Brando, não informar Maria de que usaríamos a manteiga. Queríamos sua reação espontânea àquele uso impróprio. O equívoco nasce aí. Muita gente pensa que Maria não tinha sido informada sobre a violência contra ela. Falso! Maria sabia de tudo porque tinha lido o roteiro, onde estava tudo escrito", afirmou Bertolucci. Além disso, ele salientou que é "ingênuo" acreditar que o que se passa na tela corresponde à realidade.

Atriz afirma que se sentiu humilhada e estuprada:

Em 2007, quatro anos antes de morrer, Maria afirmou ao jornal britânico "Daily Mail" que se sentiu humilhada e "um pouco estuprada" durante as filmagens de "O Último tango...". A atriz contou que a cena não estava no roteiro original e que foi informada sobre o conteúdo pouco antes da filmagem, mas disse que não houve sexo real, porque não havia nenhum sentimento entre eles, e Marlon lhe lembrava mais um pai do que um parceiro sexual. "Marlon me disse: 'Maria, não se preocupe, é só um filme'. Mas durante a cena, mesmo que o que Marlon estava fazendo não fosse real, eu estava chorando lágrimas de verdade", lembrou.

Na oportunidade, ela também criticou a conduta do companheiro de cena e do cinesta após a gravação da sequência. "Eles não me consoloram nem pediram desculpas. Felizmente, houve apenas uma tomada. Eu estava com tanta raiva. Eu deveria ter ligado para o meu agente ou ter pedido que meu advogado fosse ao set porque você não pode forçar alguém a fazer algo que não está no roteiro, mas na época eu não sabia disso". A atriz disse que o acontecido mudou sua vida e sua carreira, porque foi tratada como um símbolo sexual, mas queria ser reconhecida pelas suas atuações.

Toda a conjuntura, afirmou, "me deixou louca. Eu me envolvi em drogas - maconha e depois cocaína, LSD e heroína - era como uma fuga da realidade. Era os anos setenta e naquela época, tudo estava acontecendo. Eu tomei comprimidos para tentar e cometer suicídio, mas eu sobrevivi porque Deus decidiu que não era o momento para eu partir". Depois do acontecido, ela nunca mais conseguiu gravar uma cena de nudez no cinema, mesmo que inúmeros diretores lhe tenham oferecidos papeis do teor.

Sobre a relação com o diretor ela foi enfática: "Bertolucci é superestimado, nunca fez um grande filme depois de 'O último tango'. Ele era gordo, suado e manipulava, tanto a Marlon quanto a mim, e faria certas coisas para obter uma reação de mim. Algumas manhãs no set ele era muito legal e dizia olá e em outros dias, ele não dizia nada". Já sobre Brando, ela comentou que eles permenaceram amigos durante muito tempo mas nunca conseguiram conversar sobre o filme e o que se passou na cena. "A melhor coisa que aconteceu foi eu ter o conhecido, embora eu realmente não o tenha perdoado pela maneira como ele me tratou", disse. Ela ainda contou que, quando encontrou o ator em Tóquio, anos depois, simplesmente o ignorou.

Hollywood reage com fortes críticas:

A polêmica não fugiu dos holofotes da própria indústria cinematrográfica. Atores, atrizes e profissionais do cinema se manifestaram sobre o tema, repudiando a atitude de Bertolucci. Pelo twitter, Jessica Chastain, de "A Hora mais Escura", escreveu: "Para todas as pessoas que amam esse filme, vocês estão vendo uma mulher de 19 anos sendo estuprada por um homem de 42. O diretor planejou. Me sinto mal".

Pela mesma rede social, Jenna Fischer, que já atuou em vários filmes, incluindo "Escorregando Para a Glória" e "Walk Hard: The Dewey Cox Story" , mas é mais conhecida por interpretar Pam Beesly na série da NBC "The Office", disse que "todas as cópias desse filme devem ser destruídas imediatamente. Ele contém um estupro de verdade e abuso sexual".

Chris Evans, o Capitão América, disse que nunca mais vai olhar para esse filme, Bertolucci ou Marlon Brando do mesmo jeito de novo. "Isso é muito além do nojento. Sinto raiva", twittou. 

A estrela da série "Westworld", Evan Rachel Wood, que na última semana contou que foi duas vezes estuprada, em carta aberta publicada no Twitter também se manifestou.Em 140 caracteres, ela mostrou seu repúdio à conduta de Bertolucci e Brando: "Isso é de partir o coração e revoltante. Os dois são indivíduos muito doentes de pensar que isso era ok".



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