Chuva de pedras musicais na alma roqueira

Chuva de pedras musicais na alma roqueira

Foram 46 anos de espera, meses de ansiedade e semanas de escuta de discos

Luiz Gonzaga Lopes

Mick Jagger com seu rebolado e os agudos “au”

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Foram 46 anos de espera, meses de ansiedade, semanas de escuta de discos, leitura de reportagens, livros e vídeos na internet. Nada assegurava que eu iria estar a alguns metros dos Rolling Stones, em contato íntimo e pessoal com uma das minhas 10 bandas preferidas.

Já cobri vários shows de outras preferidas, entre elas lembro Iron Maiden, Deep Purple, Black Sabbath, Scorpions e por aí vai. Mas Stones, meus amigos, é indescritível. Não me lembro de em outra oportunidade de ter chegado ao show, falando sem parar, brincando com os colegas jornalistas, assobiando as músicas do setlist, coração meio tambor de Simpathy for the Devil.

Show da vida
E realmente foi o show da vida (não aquele fake da TV). Tudo o que se sucedeu nas 2h10min de espetáculo é quase intangível e difícil de transpor em palavras, tento aqui timidamente escritura-lo. Quando às 21h2min, os dois telões mostraram a bandeira do Brasil e uma série de símbolos e imagens Stonicas, eu ainda estava na postura jornalista- ue-cobre-shows há décadas. Chuva tímida, quase garoa, etc. Quando Mick, Keith, Ron e Charlie cruzaram o limite o sonho e viraram realidade, começou a saltar um alien dentro de mim. Alguém que eu nem me lembrava. Aos primeiros acordes de “Jumpin´ Jack Flash”, a letra da música cantada em voz alta e o jornalista dançando alucinadamente e comentando coisas com os colegas de Correio do Povo, Carmelito e Júlia, passou a tomar conta, afinal é somente rock´n´roll, mas eu gosto, tradução da música subsequente.

Gauchês
Não vou ficar falando de todo o repertório apresentado e o que cada música significa para mim (isso já foi narrado aqui), mas quero falar do que vi. Mick Jagger - com seu rebolado e os agudos “au”, o vocabulário português cada vez mais afiado e, melhor, com o gauchês na ponta da língua, com os seus “bah!” ou “e aí, gurizada?” e com a energia de um guri - mostrou que um músico deve estar sempre no palco e contagiou a todos, mesmo a sua banda, quando ele achou que a cadência de “Out of Control” precisava de mais pegada. Mick começou a acelerar com a mão e com o corpo e os músicos responderam, tal qual aquele pit control que os DJs usavam no passado. A partir deste momento, a chuva estava fora de controle, assim como todos os quase 50 mil parceiros destes granizos musicais, pedras rolando em nossas cabeças, direto ao êxtase.

Ruby Tuesday
A cada música, uma surpresa agradável e um descontrole. Na canção escolhida pelo público, os Stones nos convidaram a passar a noite juntos. “Let´s Spend the Night Together”. E aí, eis que uma música inesperada surge, não prevista em nenhum dos setlists da Olé Tour. “Ruby Tuesday” composta em 1966 e lançada em 1967. Ela trouxe o frescor dos anos 1960, década que me trouxe ao mundo, e foi se materializando para os cinquentões, sessentões, setentões, mas também trazendo aos jovens um pouco do que foi aquela época. Em “Paint Black”, Mick chamou o coro de 50 mil vozes e o “oooooooôôô” ecoou em todo o Rio Grande do Sul.

Blues
Keith Richards assumiu os vocais e a blueseira em “You Got the Silver” e “Before They Make me Run”. É um belo guitarrista, dona de uma técnica que beija o blues e acaricia o rock. Ontem, talvez estivesse um ponto abaixo dos demais, pois Ron Wood foi mais eletrizante e mais técnico do que o velho parceiro de banda, mas todos foram gigantes, bem como o quase passivo Charlie Watts e os monstros da banda de apoio, entre eles a vocalista Sasha Allen, o baixista Darryl Jones, o tecladista Chuck Leavell.

Miss Simpathy
“Midnight Rambler” foi a música para mostrar o virtuosismo da banda e para Mick provar que não estava nem aí para chuva, indo para a plataforma molhar um dos seus cinco figurinos diferentes. Depois, eu até gostaria de exprimir em palavras o que foram as últimas sete das 18 músicas tocadas, mas o meu bloco de anotações encharcou, tirar fotos ou fazer vídeos com o celular parecia impossível e eu comecei a dançar alucinadamente quando os acordes de “Miss You”, “Gimme Shelter”, “Start me Up”, “Simpathy for the Devil”, Brown Sugar” foram acionados na memória afetiva pelo tempo presente. Em “Simpathy...” foi difícil não deixar a percussão tomar conta do lado sincrético-musical que todos nós temos. Extasiante.

Obrrrrigadouuuu!!!
O bis com “You Can´t Always Get What You Want” e as vozes do Coral da PUCRS, além de “(I Can´t Get No) Satisfaction” serviram para que eu parasse de dançar e voltasse a pensar no que estava acontecendo com as pessoas em volta. Sorrisos, músicas acompanhadas à risca, alguns que se passaram na bebida, umas trocas de comentários com os amigos e a volta à realidade para baixar a matéria do show para o jornal impresso com a colega Adriana, que estava na redação. Na sala de imprensa, era visível o êxtase dos jornalistas, até os mais experientes, como o Roger, da Zero, que já os viu ao vivo algumas vezes. Só posso terminar este texto com o título que dei para ele. O show dos Rolling Stones neste 2 de março de 2016 em Porto Alegre foi uma chuva de pedras musicais na minha alma roqueira. Como diria a música do Iron Maiden, “Remember Tomorrow”, eu vou lembrar deste show em todos os amanhãs até o fim dos meus dias. Obrrrigaadoouu, Mick, Keith, Charlie e Ron!

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