Cineasta francês lança campanha #WeToo para homens que apoiam luta contra o assédio

Cineasta francês lança campanha #WeToo para homens que apoiam luta contra o assédio

Michel Hazanavicius afirmou que é fundamental que os homens se manifestam, porque são a voz dominante

Correio do Povo

Seu filme "O Artista" venceu cinco estatuetas no Oscar 2012

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Após reações controversas ao movimento #MeToo na França, o cineasta Michel Hazanavicius lançou a campanha #WeToo (NousAussi, no original) para homens que apoiam as mulheres no combate ao assédio sexual. O diretor de "O Artista", vencedor de cinco estatuetas no Oscar 2012, lançou o hashtag em uma carta publicada na revista Le Nouveau Magazine Littéraire, em resposta ao caso de Weinstein e ao controverso texto assinado pela atriz Catherine Deneuve e mais 99 mulheres, na qual elas defendem a "liberdade de importunar".

Em entrevista ao site Hollywood Reporter, Hazanavicius disse que não se trata de uma resposta a este manifesto - o qual ele acredita que se perderá com o tempo, caso as denúncias de assédio persistam - ou uma tentativa de causar polêmica em relação à atriz. "Eu costumo falar como um homem, mas eu senti que era realmente importante dizer que nós, como homens, concordamos com o movimento. Estamos fazendo nossa parte e isso é fundamental para mim", afirmou.

"Na França, temos a tendência de tentar estar na zona cinza e às vezes dizemos 'Não gostamos disso', o que pode ser interpretado como uma refutação total ao movimento. Nós concordamos com ele, mesmo que haja algumas coisas que às vezes não são perfeitas, mas ele é necessário", analisou. Ele acrescentou que é importante que as mulheres "sejam ouvidas" quando há acusações de assédio pelos homens. "As vítimas de assédio sabem agora que as suas vozes serão escutadas e para os caras que assediam as mulheres, eles devem saber que, se forem acusados, ouviremos as vítimas", disse. "Isto é o que é mais importante, porque até agora tem sido sua palavra contra a minha, e sempre foi o mais forte quem ganharia", resumiu.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de protesto no tapete vermelho do Prêmio César, que ocorre em 2 de março, Hazanavicius disse que é difícil que algo ocorra. "A economia (da indústria) é diferente", disse ele, referindo-se ao sistema de financiamento que permite mais oportunidades para diretores e jovens. "Temos um relacionamento com a igualdade, muito diferente dos EUA. Penso que é melhor para as mulheres, não só no negócio do cinema", explicou.

Leia na íntegra o texto escrito na Le Nouveau Magazine Littéraire:

"Desde o início do caso de Weinstein, o movimento #MeToo abalou a antiga dominação masculina do espaço público. Bom! Centenas de milhares de mulheres falaram, relataram agressões sexuais e assédio, compartilharam suas experiências e raiva. Nossa reação foi primeiro calar e ler do que ouvir o que elas tinham para nos contar sobre si mesmas, o mundo e nós. Desde o início do tempo, nossas palavras de homens estruturam o debate e isso pareceu óbvio para nós, essencial para participar da implantação desses discursos e das histórias dessas mulheres.

Então a questão das nossas liberdades dos homens - seduzir, irritar, flertar ou importunar- surgiu. E, portanto, isso fez sermos donos da palavra. não queremos essas 'liberdades' se elas se encaixarem em situações e estruturas de dominação: nos ensinaram que a nossa liberdade termina onde a dos outros começa e acreditamos que a liberdade das mulheres de não serem importundas aqui é a questão central.

Para afirmar que, longe de nos afligir, esse movimento de emancipação nos regozija porque não é uma revolta das mulheres contra os homens, mas uma luta comum contra as injustiças feitas às mulheres. Para garantir que, no horizonte do #MeToo, além dos problemas e da vertigem do momento, não vejamos o surgimento do puritanismo, mas uma libertação sexual, a possibilidade de seduzir e amar entre iguais e igualmente. Uma 'revolução do desejo', como Natalie Portman o nomeou.

Para reivindicar junto as mulheres que corajosamente o fazem, o fim de código de honra que dá importância ao silêncio e a impunidade para os agressores. Nós, também, queremos a igualdade que, por si só, nos tornará verdadeiramente livres,

Nous aussi (Nós também). We Too (Nós também)".

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