Cineastas brasileiros distribuem carta na Berlinale pedindo apoio ao audiovisual

Cineastas brasileiros distribuem carta na Berlinale pedindo apoio ao audiovisual

Documento também fala em "crise institucional" e diz que ganhos dos últimos anos estão em risco

AE e Correio do Povo

Festival é conhecido por ser um dos mais politizados

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Depois de "Aquarius" fazer protesto político contra o impeachment de Dilma Rousseff, em Cannes em 2016, outro importante evento cinematográfico ganhou status de palanque. Circula no Festival de Cinema de Berlim uma carta pedindo apoio à comunidade internacional para a manutenção de políticas públicas de audiovisual no Brasil. Assinado por diretores e produtores brasileiros de 11 dos 12 filmes que participam da mostra - o único a não participar é o documentarista João Moreira Salles -, o documento também fala em "governo ilegítimo" e "crise institucional".

O tom de início já denuncia o descontentamento: "O Brasil está vivendo uma crise constitucional. Sob esse governo ilegítimo, direitos adquiridos nas áreas da educação, saúde, e trabalho estão sob ataque. O cinema brasileiro, especialmente o de autor, está particularmente ameaçado por esses ataques. A diretoria da Ancine (Agência Nacional de Cinema) está agora em processo de substituição de dois de seus quatro membros, e muita coisa está em jogo com essas nomeações". A carta segue dizendo que o país "tem orgulho de ser uma gigantesca fusão étnica, racial, cultural, religiosa e de gênero. A consciência dessa pluralidade é fundamental na hora de planejar os programas educacionais, econômicos, culturais e de saúde do nosso paí", se lê no arquivo, entregue em inglês para jornalistas e cineastas de outros países. 

"As políticas de cinema e outras artes visuais têm muita consideração por esse fator. Nos últimos anos, a Ancine tem direcionado sua atenção a esses muitos Brasis, ampliando os mecanismos de fomento, que hoje atingem segmentos diversos, do cinema autoral ao videogame; das séries de TV aos filmes com perfil comercial; do desenvolvimento de roteiro à distribuição de uma variedade de trabalhos culturais". Os responsáveis também apontam que o resultado é visível, ressaltando que neste ano, filmes brasileiros conquistaram uma participação expressiva em festivais internacionais, totalizando 27 participações em Sundance, Rotterdam e Berlim.

O documento destaca duas iniciativas que fortaleceram o setor nos últimos anos: a lei que prevê que as emissoras de TV a cabo exibam programação brasileira por pelo menos três horas e meia e o estabelecimento do Fundo Setorial do Audiovisual. "Nós acreditamos fortemente na continuidade e na força dessa visão comum que nos trouxe até aqui, e acreditamos com firmeza que ela nos pode levar ainda mais longe", diz a carta. Como resultado dessas ações, o crescimento do setor audiovisual alcançou 8,8% em 2016, gerando um valor agregado de 0,54% no PIB nacional.

"O progresso ainda deixa muito espaço para melhorias, como políticas afinadas para gerar um impacto maior na representação racial e de gênero, bem como para permitir que uma amostra mais inclusiva da população esteja envolvida na cadeia de produção. Outra melhoria muito necessária é um maior investimento no sempre crescente acervo audiovisual do país, para melhorar tanto o acesso quanto a conservação", escreveram. "Nós acreditamos fortemente na continuidade e na força dessa visão comum que nos trouxe até aqui, e acreditamos com firmeza que ela pode nos levar ainda mais longe".

Eles também apontam que chegaram "tão longe graças ao esforço conjunto de servidores públicos, produtores, diretores, distribuidores, exibidores, programadores, artistas e líderes sindicais, e precisamos proteger essas conquistas a todo custo. Sobretudo, queremos garantir que quaisquer mudanças nessas políticas sejam debatidas abertamente no setor e na sociedade brasileira como um todo". No final, pedem às instituições, produtores e cineastas de todo o mundo por apoio à luta para proteger essas políticas.

Em entrevista para a AFP, o diretor Marcelo Gomes descreveu a carta como um "alerta ante a crise democrática que estamos vivendo", depois de ler um texto para a imprensa, assinado por 300 personalidades e trabalhadores do cinema, em sua maioria brasileiros.  O governo de Temer "fez mudanças terríveis na área social e educacional. Os avanços que tinham sido feitos ele retiraram, e agora vai acontecer o mesmo (com a cultura) se não gritarmos", acrescentou o cineasta, cujo filme, "Joaquim", concorre ao Urso de Ouro.

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