Cinema: Homem cordial e mulheres presas

Cinema: Homem cordial e mulheres presas

Novo filme de Iberê Carvalho e documentário dos mesmos diretores de "Central" chegam às telas

Marcos Santuario

Longa com Paulo Miklos foi premiado no Festival de Gramado e em Marsele, com temas contemporâneos

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Duas estreias nacionais ganham destaque a partir desta quinta-feira nas salas de cinema. Uma delas é do longa-metragem “O Homem Cordial”, dirigido pelo cineasta Iberê Carvalho, o mesmo de “O Último Cine Drive-in”. A outra é do documentário “Olha Pra Elas”, com direção de Tatiana Sager e Renato Dorneles. O primeiro coloca Paulo Miklos no papel do líder de uma banda de rock fictícia, Instinto Radical, e que traz em suas músicas questões sociais. Aliás, Miklos, no último final de semana, esteve em show com os Titãs em Porto Alegre e “lavou a alma” dos fãs em meio a uma noite chuvosa. Hoje, ele retorna, agora nas telas de cinema, vivendo o personagem da banda, concebida como se fosse uma das muitas que mergulharam no rock, fazendo sucesso nos anos 1980 e 1990 no Brasil. 

Com poucos acordes, refrão “pegajoso” e discurso político sem tanta profundidade, o universo das bandas era repleto de adolescentes brancos, de classe média ou média-alta, com o privilégio de poder falar o que queriam, pois o Brasil já estava saindo do período ditatorial. Miklos vive Aurélio, que acaba se envolvendo num incidente, no qual um policial morre. O vídeo viraliza na internet e o “cancelamento”, coloca em risco vidas verdadeiras. Este é um dos pontos no qual o filme conecta passado e presente, quase que de forma premonitória. 

Sociólogo por formação, Iberê Carvalho escreveu o roteiro em parceria com o uruguaio Pablo Stoll, do cultuado “Whisky”. Estavam movidos pelo desejo de criar uma história que ocorre em uma única noite, tratando de forma crítica questões sobre a sociedade brasileira atual. O título do filme é uma provocação e um convite para uma reflexão sobre nossa identidade e os outros temas centrais que traz é o racismo, abordando a branquitude como uma raça; e a própria cidade de São Paulo.

MÃES

Já o documentário “Olha Pra Elas” reúne novamente o olhar e a sensibilidade de Tatiana Sager e Renato Dorneles para as temáticas humanas e sociais que emergem dos presídios. A dupla já foi premiada por seu outro longa, “Central - o Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil”, de 2017, que revelou as entranhas do Presídio Central de Porto Alegre. Agora, em “Olha Pra Elas”, em pouco mais de uma hora, a dupla coloca lentes e olhares sobre seis unidades prisionais femininas do Rio Grande do Sul e de São Paulo. Através de depoimentos, apresentam o cotidiano de mulheres que, em comum, compartilham o fato de serem mães e viver longe dos filhos. Aprisionadas, elas revelam histórias que, mesmo com suas especificidades, representam uma questão de gênero e identidade de mais de 40 mil brasileiras. 

O que se revela a partir da narrativa do longa é um universo de prisões precárias, abandono e desestruturação dos lares, como principais problemas enfrentados pelas apenadas. Cada uma das histórias de vida contadas, mesmo individualizadas, acabam representando questão de gênero e a realidade de mais de 40 mil mulheres brasileiras


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