Circo ganha novos ares para manter interesse do público

Circo ganha novos ares para manter interesse do público

Investimentos em conforto, tecnologia e ilusionismo são um dos artifícios

Eric Raupp

O circo Tihany é um dos exemplos de renovação e está em cartaz em Porto Alegre pela segunda vez

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Estruturas cobertas por lonas listradas e coloridas, picadeiro ao centro, atrações às vezes um tanto bizarras e animais ferozes sendo os protagonistas do espetáculo. Conseguiu identificar um circo aí? Pois agora esqueça esse cenário e imagine cadeiras aveludadas, piso forrado com tapete vermelho e, ao invés do picadeiro, um palco.

Essa é a imagem mais próxima que podemos formar sobre os circos de hoje, que estão muito mais afinados com o teatro. Em uma época de fácil acesso ao entretenimento, as companhias tiveram que se reinventar para atrair o público e desafiar o paradigma de que os espetáculos circenses são uma atividade ultrapassada. Para isso, apostam na qualidade das apresentações e das instalações.

Sem animais
É verdade que a ausência de um de seus principais atrativos que aguçavam a curiosidade do público encorajou essa atualização veloz. A participação de animais em espetáculos já é proibida em 31 países, enquanto outros dez têm legislações em nível estadual. É o caso do Brasil, onde 11 estados – incluindo o Rio Grande do Sul – já baniram a prática.

Há ainda, um projeto de lei que visa estender a proibição nacionalmente. A razão principal é mau tratamento que eles recebem. “Eu acho que animais não deveriam fazer parte de nenhum tipo de entretenimento, há coisas muito mais interessantes. Nós tínhamos dois tigres que participavam de mágica, mas eles recebiam uma atenção excelente, com um trailer próprio e com ar-condicionado”, elucida Francis Demarteau (foto à direita), diretor artístico e de coreografia do Tihany Spectacular, circo que está em cartaz com o show “AbraKdabra” até este domingo em Porto Alegre.

As performances, cada vez mais, fazem uso intenso de efeitos especiais e de uma iluminação que dita o tom das apresentações. “Se continuarmos mudando o show e nos adaptando à tecnologia, as pessoas sempre vão vir”, entende Demarteau, que tem uma trajetória voltada para a dança: é ex-integrante da seleção belga de patinação artística e trabalhou durante 22 anos como dançarino e diretor do Holiday on Ice.


Para o diretor-geral e ilusionista do Tihany, o argentino Richard Massone (foto à esquerda), o circo continua em pé porque é diferente das demais formas de diversão às quais temos acesso. “É ao vivo, tudo na sua frente, sem a possibilidade de replay. Por isso as pessoas continuam vindo”, argumenta.

Onde o glamour tem vez
Tudo começa pelos figurinos. De um lado, roupas que trazem luxo e esbanjam referências a boates e cabarets - no Tihany, por exemplo, as peças exclusivas dos guarda-roupas foram confeccionadas com 14 mil plumas parisienses, 30 mil cristais de swarovski e 150 mil pedras brilhantes.

Do outro, trajes que permitem a elasticidade e buscam se confundir com o corpo de dançarinos e acrobatas, figuras cada vez mais presentes nos circos modernos. Eles desafiam os limites do corpo em números que exigem extremo preparo físico, como a maca russa, que consiste numa espécie de pêndulo, no qual após pegar impulso, os artistas saltam em colchões sustentados por colegas.

Ao todo, são mais de 60 participantes no show, de 25 nacionalidades: acrobatas, dançarinos, mágico, equilibristas, palhaço e assistentes. Eles têm os dias livres, mas precisam cumprir uma carga de oito horas semanais de ensaio para que a execução no palco seja impecável. 

Outro ponto forte e que capta a atenção da plateia são os números de mágica. “Os atos de ilusionismo têm qualidade como os shows de Las Vegas – a única diferença é que não estamos lá”, brinca Massone. O argentino diz que as performances estão cada vez mais impressionantes, como a aparição de um helicóptero no palco.

Os shows trazem, ainda, um personagem que sobreviveu às mudanças impostas pelo tempo, o palhaço. “É difícil fazer o trabalho. Não é algo engraçado, é muito sério. Você está sozinho no palco e tem que enfrentar um público diferente a cada dia, tem que buscar um estilo que faça todos se sentirem bem”, desabafa o venezuelano Henry Ayala (foto ao centro), que está há seis anos na companhia e tem o desafio de arrancar gargalhadas do público.

Nascido na quinta geração de uma família de artistas circenses, Ayala acredita que um verdadeiro circo não pode se eximir da presença do palhaço. Para ver o sorriso solto dos espectadores, o artista busca inspiração nos clássicos, como Charles Chaplin, “porque eu gosto do estilo de trabalhar sem falar nada, da simplicidade”.

15 anos
O show “AbraKdabra”, que já passou por Porto Alegre nos meses de abril e maio, está em temporada na Capital até o domingo, na avenida Grécia, 1310. O diretor-geral do circo, o argentino Richard Massone, explica que uma turnê nas Américas leva aproximadamente 15 anos – “AbraKdabra” estreou em 1990 –, por isso é raro retornar a uma cidade com o mesmo espetáculo. “Nossa estada aqui foi um sucesso, por isso resolvemos repetir a dose", afirma.

Todas as informações para curtir os últimos dias de temporada você confere aqui.

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