"Comboio de Sal e Açúcar" mostra a maior produção cinematográfica de Moçambique

"Comboio de Sal e Açúcar" mostra a maior produção cinematográfica de Moçambique

Filme resgata período da guerra civil no país nos anos 80

Adriana Androvandi

Atriz Melanie de Vales Rafael interpreta uma enfermeira durante guerra civil

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Nas salas de cinema, é raro se ter a oportunidade de assistir a um filme realizado em certos países da África. E Porto Alegre recebe, neste final de semana, a chance de ver “Comboio de Sal e Açúcar”, rodado em Moçambique, em exibição no Espaço Itaú do Bourbon Country (av. Tulio de Rose, 80, 2º andar) e Guion Center (rua Lima e Silva, 776). Trata-se de uma adaptação do livro homônimo escrito pelo próprio diretor, Licínio Azevedo, gaúcho radicado em Moçambique há mais de 30 anos.

O longa-metragem é a maior produção cinematográfica já realizada em Moçambique, trabalho da Ukbar Filmes (Portugal) em coprodução com a Ebano Multimídia (Moçambique), Le Films de LÈtramger (França), Urucu Media (África do Sul) e Panda Filmes (Brasil), sendo que esta última tem sede em Porto Alegre. Outra participação gaúcha é a do profissional Kiko Ferraz, que assina a Edição de Som. A distribuição no Brasil é da Livres Filmes. Licínio esteve em Porto Alegre na semana que passou para uma sessão de pré-estreia realizada na Cinemateca Capitólio, com sala lotada e com a presença de moçambicanos que estão vivendo aqui, seja por motivo de estudo ou trabalho.

A narrativa se passa em 1988, quando o país sofre com a guerra civil. O ponto de partida é uma viagem de trem de carga que é escoltado por militares e transporta também funcionários da ferrovia. Civis, na maioria mulheres sem outras condições de trabalho, resolvem arriscar a vida na travessia dentro do trem até a fronteira com o Malawi para trocar sal por açúcar - produto escasso à época.

Entre os civis, está a enfermeira Rosa (Melanie de Vales Rafael), que se desloca para trabalhar em um hospital. Por entre os vagões, ela conhece o tenente Taiar (Matamba Joaquim), com quem viverá um romance. “É uma história de amor no meio do desespero”, resumiu Licínio em debate com o público. Ele entrevistou pessoas e pesquisou sobre o período da guerra para criar a narrativa. “Para falar do presente, gosto dos documentários. Mas para falar do passado, fico mais à vontade com a ficção”, explica. Desta forma, a trama é baseada em fatos reais, mas com personagens fictícios.

No trem, o medo de ataques é constante. Mas este não será o único problema a ser enfrentado. Oponentes não apenas atiram com armas de fogo contra o comboio, como sabotam a ferrovia. Por isso, o trem por vezes precisa parar por dias até que a trilha seja consertada. E os conflitos não são apenas dos militares contra os oponentes. Os inimigos podem estar ao lado, como no caso de mulheres subjugadas em crimes sexuais.

O comboio é ameaçado por um grupo paramilitar liderado por homem que, segundo uma lenda, se transforma em macaco. “Em Moçambique, não são apenas dois lados em guerra. Os elementos mágicos estão sempre presentes”, explica Licínio. Sendo um país sincrético, convivem o cristianismo com religiões locais, como o respeito aos ancestrais. A figura do comandante da tropa, conhecido como Sete Maneiras (Antonio Nipita), que acredita ser um “protegido”, sintetiza esta característica do país. O filme resgata, portanto, um período difícil de Moçambique, ainda não totalmente superado.

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