Coordenador da FestiPoa propõe modelo de biblioteca pública contemporânea

Coordenador da FestiPoa propõe modelo de biblioteca pública contemporânea

Fernando Ramos sugere experimento nas proximidades da orla do Guaíba e do parque Marinha

Correio do Povo

Biblioteca é inspirada nos Cafés Literários de árques no chile e em bibliotecas-parque de Bogotá e Rio de Janeiro

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“O Brasil ainda não possui alvará de funcionamento.” É difícil contestar essa frase do poeta Sérgio Vaz, porque o “habite-se” do país parece que está em trâmite permanente.Por que as cidades brasileiras, sobretudo as capitais, carecem de “alvará de funcionamento”? Porque, e Porto Alegre inclusive, não oferecem planos e programas educacionais efetivos para a sua população. Assim, a consolidação da cidadania resta prejudicada. E, sem cidadania, a política de nossa cidade sofre de anemia crônica.

Política enfraquecida e cidadãos desinteressados dos rumos da cidade são faces do mesmo sintoma. Somos incapazes de nos envolver de fato com o processo político, o que influencia fatalmente o desenvolvimento de nossa cidade. A leitura tem um papel fundamental para a construção da cidadania e para o reconhecimento de valores culturais. Ela está intimamente ligada ao potencial de imaginação e, portanto, criativo de qualquer sociedade. A leitura deve estar no centro de todo o sistema de educação. Instrumento civilizador por princípio, o livro é fundamental para concretizar o processo cultural da sociedade. Todo cidadão tem o direito e o dever de reivindicar acesso amplo à leitura e a bibliotecas públicas.

Há tempos a capital gaúcha anda carente de biblioteca atualizada, equipada e acessível à população. É inadmissível uma cidade complexa e em expansão feito Porto Alegre não dispor de um espaço cultural dedicado ao livro e à formação de leitores, capaz de atender satisfatoriamente à sua população. Se nos considerarmos cidadãos de fato, devemos exigir uma nova biblioteca pública para a cidade. E devemos reivindicar agora, protestar e exigir dos administradores públicos a abertura de debate para tratar desse assunto. É urgente. A Festa Literária de Porto Alegre — FestiPoa Literária quer colaborar com o início desse diálogo da sociedade com a administração pública a respeito dessa pauta tão necessária. Na abertura da sétima edição da FestiPoa Literária, no dia 19 de maio, divulgamos o Experimento para uma Biblioteca Pública em Porto Alegre, que está disponível no site do FestiPoa, realizado em colaboração com a Empática arquitetura e o Octo coletivo.

Pretendemos com a iniciativa tocar a sensibilidade da população, chamando-a para o debate, compartilhando ideias e sugestões para uma possível biblioteca pública para a cidade. Pensamos em localizar esse experimento nas proximidades da orla do Guaíba/parque Marinha do Brasil, aproveitar o entorno natural do Guaíba e do parque. Para tanto, utilizamos as diretrizes da orla do Guaíba, disponíveis no site da Secretaria de Urbanismo, e vimos que as diretrizes para o setor 06 (grande espelho d’água, para cuja continuidade é sugerido o Píer Cidade de Porto Alegre), que prevê espaço de convívio — social e cultural —, sintonizavam com o que estávamos pensando para esse experimento, no qual uma das edificações que pode vir a ser instalada seria uma nova biblioteca pública de Porto Alegre.

Pensamos no conceito de biblioteca mix de centro cultural e biblioteca-parque, ou café literário, para delinear a ideia do experimento. A sugestão do parque Marinha indica também o fácil acesso e a possibilidade de convívio da população com a cidade e a cultura. Lygia Fagundes Telles disse, na década de 60 do século passado, que, para não necessitar de tantos hospitais e presídios, o país deveria implantar sólidos programas de leitura. Mais livros e leitura, menos presidiários e doentes, alertava a escritora. Daquela época para cá, a situação da educação e da saúde mudou, talvez para pior: parece que o país precisa cada vez mais de presídios e hospitais, com o acréscimo de que cemitérios, clandestinos ou não, crescem assustadoramente. Só poderemos sonhar em obter o “alvará de funcionamento” no momento em que nos reconhecermos como cidadãos, reivindicarmos as condições para o exercício pleno da cidadania e, sobretudo, quando fizermos a nossa parte no trabalho de construção de nossa cidade.

Porto Alegre só crescerá se por ela trabalharem cidadãos cientes de sua cultura e de sua capacidade criativa. Somos os responsáveis pelo “habite-se” da Capital. Somente chegaremos a ele, porém, com o desenvolvimento de nossa imaginação.

Desconfio que o acesso à leitura poderá contribuir muito para isso.Porto Alegre, a exemplo de grandes cidades brasileiras, possui diversas bibliotecas comunitárias, algumas a cargo de pontos de cultura e ONGs. Trata-se de iniciativas da própria população, muitas vezes a partir do esforço de abnegados cidadãos que doam grande parte de seu tempo para a realização desse trabalho. A sugestão de uma nova biblioteca para a cidade pode partir da própria população.

Pode ser tocada coletivamente. Pode ser construída pela iniciativa privada e poder público juntos. Mas, acima de tudo, deve ser construída com a participação dos cidadãos. Senhor governador, prezado prefeito, caros empresários, vamos começar o trabalho?

Fernando Ramos - Idealizador e Coordenador da Festa Literária de Porto Alegre - FestiPoa Literária 


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