Corpo de Carlos Heitor Cony será cremado na terça-feira

Corpo de Carlos Heitor Cony será cremado na terça-feira

Escritor planejava lançar este ano a Operação Condor, reedição revista e ampliada de ''O Beijo da Morte''

AE

Carlos Heitor Cony morre aos 91 anos no Rio

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O escritor e jornalista Carlos Heitor Cony, que morreu na noite de sexta de falência múltipla de órgãos, aos 91 anos, será cremado na próxima terça-feira, no Memorial do Carmo, no Rio.

Cony deixou orientação por escrito, lavrada em cartório, para que seu velório e enterro fossem reservados aos familiares. Ele dispensou todo ritual ao qual, como membro da Academia Brasileira de Letras, teria direito na ABL.

Este ano, o escritor planejava lançar a Operação Condor, reedição revista e ampliada de ''O Beijo da Morte'', romance-reportagem em coautoria com a escritora e jornalista Anna Lee, sobre a morte de JK, Jango e Carlos Lacerda, de acordo com a Ediouro.

"Com a exumação do corpo de Jango, Anna colheu novas informações, viajou, entrevistou diferentes pessoas, pesquisou documentos e está finalizando o original para entregar à Nova Fronteira", informou a editora, em nota.

A Ediouro lamentou a morte de Cony, "um importante membro de nossa casa, que nos deixou na noite desta sexta-feira, 5, aos 91 anos, em decorrência de falência múltipla dos órgãos". "Sem dúvida, a literatura brasileira perde um grande escritor. E, nós, seus editores e companheiros, perdemos um amigo", lamentou Jorge Carneiro, presidente da Ediouro, no material divulgado à imprensa.

Trajetória

Membro da Academia Brasileira de Letras, Carlos Heitor Cony nasceu no Rio em 1926. Sua estreia na literatura se deu com os romances A Verdade de Cada Dia e Tijolo de Segurança. Lançados em 1957 e 1958, os dois livros receberam o Prêmio Manuel Antônio de Almeida - abrindo uma carreira de distinções literárias que mais tarde incluiriam o Prêmio Jabuti (em 1996, 1998 e 2000) e o Prêmio Machado de Assis, em 1996, pelo conjunto da obra, além da comenda de Artes e Letras concedida em 2008 pelo governo francês.

Antes da estreia na ficção, ele iniciara a vida profissional como jornalista - função que nunca abandonaria. Em 1952, entrou para o Jornal do Brasil e mais tarde foi redator do Correio da Manhã. Foi preso diversas vezes durante a ditadura militar. E, em 2004, o Ministério da Justiça concedeu a ele uma pensão vitalícia de R$ 23 mil, valor correspondente ao salário que receberia como redator-chefe de uma publicação. Após deixar o Correio da Manhã, entrou para a Manchete, onde atuou também no departamento de teledramaturgia, participando de projetos como as novelas A Marquesa de Santos e Dona Beija.

Em meados dos anos 60, Cony já tinha 8 livros publicados - além de ficção, coletâneas de crônicas. "Todos eram romances de forte afirmação do individualismo, numa época e num país com pouca tolerância para com individualismos. As esquerdas viam Cony com desconfiança, apesar de seus livros saírem por uma editora sobre a qual não restava a menor dúvida: a Civilização Brasileira, de Ênio Silveira, um homem ligado ao Partido Comunista. Ênio podia não concordar com Cony quanto à linha apolítica e alienada que imprimia a seus romances, mas não abria mão de tê-lo entre seus editados. Cony era talvez o maior escritor profissional do Brasil - produzia um romance por ano, firmara um público certo e não dava bola para os críticos", escreveu Ruy Castro sobre o autor no Estado no final dos anos 90.

Em 1967, no entanto, lançaria um livro seminal em sua trajetória: Pessach, a Travessia. A obra retrata um escritor carioca que, em pleno regime militar, rejeita qualquer tipo de posição política mais radical, assim como renega sua origem judaica. Pouco depois de completar 40 anos, no entanto, acaba se comprometendo, involuntariamente, com questões políticas. O livro continha crítica dura ao Partido Comunista. Em 1999, o autor voltaria ao tema com Romance Sem Palavras, no qual continuava a história do escritor Paulo.

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