Diretor e compositor falam da construção de "Amy"

Diretor e compositor falam da construção de "Amy"

Filme estreia no Brasil neste final de semana

AE

Documentário mostra a juventude da cantora

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Numa entrevista por telefone, de Londres, o diretor Asif Kapadia contou que "Amy" não nasceu como um projeto dele. "Foi meu produtor no filme sobre Ayrton Senna quem me propôs esse outro documentário. A parceria havia sido muito boa, estávamos contentes um com o outro. Só que, a partir do momento em que aceitei, o projeto passou a ser meu. É como trabalho, com comprometimento intenso e total". 

Debruçando-se sobre a figura mítica de Amy Winehouse, Kapadia admite que não sabia direito por onde começar. E aí, por meio do primeiro empresário da artista, ele teve acesso a um material raro que Nick Shymansky vinha guardando de olhos indiscretos.

Diferentes fases da vida de Amy documentadas por amigos e por ela mesma desenharam para Kapadia o perfil da jovem talentosa cuja vida, à medida que ascendia na carreira, começou a sair dos trilhos. O resultado exigiu aquela montagem criteriosa e lenta que o diretor gosta de fazer. Mas compensa - Amy, ou o retrato da artista quando jovem (já que morreu aos 27 anos), revela uma figura dilacerada. Ela não cantava daquele jeito por acaso.

O filme vem ganhando admiradores desde que passou, fora de concurso, no Festival de Cannes, em maio. Também teve sessões no In-Edit, Festival do Documentário Musical, e estreia no Brasil neste sábado. Como em "Senna", Kapadia usa entrevistas sem mostrar os entrevistados. E, na parte final, depois de fazer o retrato íntimo da mulher, ele mostra como era vista a estrela. Essa Amy que se autodestrói é vista pelos olhos dos papparazzi que a caçavam, e ela certamente não estava preparada para aquilo.

Em seu estúdio em Higienópolis, o compositor Antônio Pinto afirma: "Não tive nada a ver com a seleção musical do filme. Nem palpitei. Mas toda a parte final é puro Antônio Pinto". Irmão da diretora e cenógrafa Daniela Thomas, ele foi o compositor de Walter Salles durante uma fase da trajetória do cineasta brasileiro.

O trabalho com Salles e Fernando Meirelles deu-lhe projeção internacional, e Pinto fez a trilha de "Colateral", grande longa de Michael Mann com o astro Tom Cruise. A carreira de sucesso em Hollywood entrou em parafuso com a crise de 2009. Pinto renasceu com Asif Kapadia.

"Fiz para ele a trilha de 'Senna' e as coisas voltaram a acontecer." Pinto lembra-se do que lhe disse Kapadia: "Parte do material de arquivo que estava usando no filme não tinha uma grande qualidade técnica e ele precisava do som e da música para que o público emergisse nas imagens. Deu-me carta branca. Foi uma experiência estimulante", conta.

No caso de "Amy", a música tinha de preparar o público para o inferno. "A Amy era uma menina normal que virou Madonna e foi tragada pela vertigem do sucesso. Entro para ser o som desse inferno na vida dela". Multi-instrumentista, Antônio Pinto tem uma queda pelos solos de piano, como os que criou para sublinhar a ligação de Fernanda Montenegro e do garoto Vinicius Oliveira em "Central do Brasil".

Naquela fase da vida e da arte, ele era muito influenciado por Philip Glass. Lembra que tinha 17 anos quando viu um show do compositor e ficou vidrado. "Descobri minha vocação", diz. Depois, ele minimizou o piano para valorizar outros instrumentos. Está retomando o piano "sem pudor'. Pinto tem várias trilhas a caminho - no estrangeiro, as de "McFarland dos EUA", com Kevin Costner, e "Self/Less", com Ryan Reynolds.

No Brasil, a do policial Operações Especiais, de Thomas Portella, com Cléo Pires, que estreia dia 15. E só lamenta que "Trash", de Stephen Daldry, para o qual também criou a trilha, tenha sido praticamente ignorado no país. "Um filme tão sensível, tão bonito", comenta. Pinto espera que a estreia norte-americano corrija o que, para ele, "é uma
injustiça".

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