Divisivo, filme romeno "Touch Me Not" vence o Urso de Ouro na Berlinale

Divisivo, filme romeno "Touch Me Not" vence o Urso de Ouro na Berlinale

Uma obra entre ficção e documentário, longa de Adina Pintilie fala sobre sexualidade e intimidade

Correio do Povo

Longa é resultado de um projeto de pesquisa pessoal da diretor sobre os temas

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O drama romeno "Touch Me Not", da estreante Adina Pintilie, foi o grande vencedor da 68ª edição do Festival de Berlim. O filme venceu 18 concorrentes para levar para casa o cobiçado Urso de Ouro, troféu que a cineasta recebeu neste sábado, no Berlinale Palas. Uma obra a meio caminho entre ficção e documentário, baseadas em personagens que buscam penetrar a intimidade de maneiras inesperadas, é resultado de um projeto de pesquisa pessoal sobre sexualidade. "Queremos abrir no mundo o diálogo proposto no filme", ??disse a diretora de 38 anos.

"Touch Me Not" coloca personagens reais dentro de uma ficção. fragmentando-se em torno de figuras que buscam respostas para suas obsessões ou fobias ligadas ao contato com outros humanos. É o caso de Laura (Laura Benson), uma cineasta que não gosta que lhe toquem e Tómas (Tómas Lemarquis), que participa de terapia corporal com pessoas com deficiências congênitas.

Assim, mostra em detalhes as mais diversas formas de sexualidade humana, incluindo uma visita a um clube sado-masoquista e close ups de órgãos genitais. Isso fez com que muitos críticos consideraram as cenas de sexo excessivas e deixaram a sala durante a exibição do longa.  Este foi o segundo ano consecutivo que uma mulher ganhou o Urso de Ouro na Berlinale, a primeira grande mostra de cinema da Europa do ano. Em 2017,  "Corpo e Alma", a terna história de amor húngara ambientada em um matadouro e dirigida por Ildiko Enyedi, capturou o prêmio principal.

Vencedora do Urso de Prata - Grande Prêmio do Júro com "Cialo" em 2015, a polonesa Malgorzata Szumowskaso repetiu a dose neste ano com seu Twarz", calcificando o domínio feminino na mostra alemã. A trama narra a a história de um homem que é evitado por sua comunidade quando faz um transplante de rosto após um acidente horrível, em uma trama que examina tensões sobre identidade e exclusão na Europa Oriental. "Este filme tão importante reflete problemas não só no meu próprio país, mas na Europa e no mundo inteiro", comentou ao receber seu troféu.

O Urso de Prata de melhor diretor foi dado a Wes Anderson, por "Isle of Dogs", animação politizada que abriu a Berliane. O filme fala sobre uma cidade japonesa que deporta seus cachorros para uma ilha de depósito de lixo durante a eclosão de uma gripe canina. O ator Bill Murray, que dupla um dos animais, recebeu o prêmio para o cinesta. "Eu nunca pensei que eu iria trabalhar como cachorro e voltaria para casa com um urso", brincou.

Cinema latino premiado

A Berlinale também premiou a coprodução brasileira "Las herederas", do paraguaio Marcelo Martinessi, com o Urso de Prata de melhor atriz para Ana Brun e com o Urso de Prata Alfred Bauer, como filme que abre novas perspectivas. "Vivemos em uma sociedade conservadora e, se abrimos mentes e abrimos portas no Paraguai, esse filme contribuirá muito", disse Martinessi. A produção que retrata uma mulher homossexual burguesa já na idade madura em busca de um novo começo, fez história, já que foi o primeiro filme do Paraguai a participar do evento.

Emocionada, Ana, uma advogada de formação e que até agora tinha atuado principalmente no teatro, disse que vencer a competição nunca havia passado por sua cabeça. "Eu gostaria de dedicar este prêmio às mulheres do meu país, que são lutadores", celebrou a atriz. Ainda na fase de produção, a obra venceu em 2015 o Torino Film Lab, um encontro que premia com dinheiro os melhores projetos cinematográficos independentes, e recebeu verba do World Cinema Fund. Também foi selecionado pelo programa Résidence do Festival de Cannes, que oferece residência a doze cineastas estrangeiros que realizam seu primeiro ou segundo filme.

"Museu", drama mexicano estrelado por Gael Garcia Bernal ganhou o Urso de Prata de melhor roteiro. O longa reconta a verdadeira história de um ousado assalto ao Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México, em 1985, por dois estudantes de veterinária. O diretor Alonso Ruizpalacios, dedicou o prêmio a "todos os mexicanos" e lembrou que o assalto ocorreu pouco depois do terremoto catastrófico que deixou cerca de 10 mil mortos no páis e que 32 anos depois, houve um novo tremor. "Nessas situações, nosso povo demonstra do que somos capazes", disse ele.

Jovem francês brillha como viciado em heroína

O francês Anthony Bajon foi recompensando com a o Urso de Prata de Melhor ator por seu trabalho em "La Prière". Ele protagoniza o drama do dirtro Cedric Kahn que narra o caminho difícil de Thomas, um jovem toxicodependente de 22 anos, para a recuperação. Sem mais opções, ele se interna em centro supervisionado por um sacerdote católico, no qual seus dias girarão em torno da oração regular, da solidariedade e do trabalho duro alpes franceses. "Rezei muito por ter esse Urso (risos), é totalmente incrível, é um sonho para mim. Eu realmente me sinto como uma criança que não pode controlar suas emoções", acrescentou, antes de se referir à sua empatia pelos viciados.

Documentário sobre impeachment de Dilma leva menção honrosa

Na seção Panorama, a segunda mais importante do festival, o Prêmio do Público para o Melhor Documentário foi para "El silencio de los otros", de Pedro Almodóvar. Rodado durante seis anos, o filme - que também conquistou o Prêmio da Paz - acompanha as vítimas dos crimes cometidos durante o franquismo em sua luta para que os culpados sejam processados e que se abram as fossas comuns na Espanha. Nessa categoria, o terceiro lugar foi atribuído a "O processo", documentário da brasileira Maria Augusta Ramos sobre os bastidores do impeachment da então presidente Dilma Rousseff em 2016.

Os prêmios foram anunciados na noite deste sábado, pelo júri presidido pelo cineasta alemão Tom Tykwer e composto pela atriz belga Cécile de France, o fotógrafo espanhol Chema Prado, a produtora norte-americana Adele Romanski, o compositor japonês Ryuichi Sakamoto e a crítica americana Stephanie Zacharek.

Confira os Vencedores:

Urso de Ouro de Mellhor Filme: "Touch Me Not", de Adina Pintilie (Romênia)
Urso de Prata - Grande Prêmio do Júri: "Mug", de Malgorzata Szumowska (Polônia)
Urso de Prata de Melhor Direção: Wes Anderson ("Isle of Dogs")
Urso de Prata de Melhor Atriz: Ana Brun, por "Las Herederas" (Paraguai)
Urso de Prata de Melhor Ator: Anthony Bajon, por "La Prière" (França)
Urso de Prata de Melhor Roteiro: Manuel Alcalá e Alonso Ruizpalacios, por "Museo" (México)
Urso de Prata de Melhor Documentário: "The Waldheim Waltz", de Ruth Beckermann (Áustria); com menção honrosa para "Ex-Pajé", de Luiz Bolognesi (Brasil)
Urso de Prata Alfred Bauer: "Las Herederas", de Marcelo Martinessi (Paraguai)
Urso de Prata Alfred Bauer por Contribuição Artística: Elena Okopnaya, pela direção de arte e o figurino de "Dovlatov" (Rússia)
Melhor Filme de Estreia: "Touch Me Not", de Adina Pintilie (com menção honrosa para "An Elephant Sitting Still", de Hu Bo, da China)
Curta-metragem: "The Men Behind The Walls", de Ines Moldavsky (Israel)
Prêmio da Crítica: "Las Herederas", de Marcelo Martinessi (Paraguai)

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