Documentário "Olha Pra Elas" apresenta realidade de presidiárias

Documentário "Olha Pra Elas" apresenta realidade de presidiárias

Filme se apresenta como um dos mais importantes lançados neste ano no Brasil

Adriana Androvandi

Documentário entrevistou dezenas de presidiárias para apresentar um painel da situação

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A dupla de jornalistas e documentaristas gaúchos Tatiana Sager e Renato Dornelles já havia mostrado a realidade do Presídio Central de Porto Alegre, destinado a homens, no longa-metragem “Central” (2017). O segundo filme dos mesmos diretores que chegou aos cinemas há poucos dias é “Olha pra Elas” (2023), desta vez com registros da realidade de presidiárias. O filme apresenta cenas rodadas em seis unidades prisionais femininas do Rio Grande do Sul e de São Paulo.

Entre as diferenças entre o público carcerário masculino e feminino, está o abandono por parte de familiares. É visível que a maioria das mulheres não recebe visitas, salvo raras exceções, como aparece em uma sequência no início do filme em que um homem, que está do lado de fora do presídio com a filha pequena no colo, fala através de uma janela com grades com a companheira, que está lá dentro. Mas, neste caso, o homem assume que também atuou no crime e que “deixou aquela vida”, mostrando que, de certa maneira, ambos foram cúmplices. Este é um relato recorrente. Muitas presas contaram que se envolveram com atividades ilícitas por influência de um namorado ou companheiro, por necessidade de obter dinheiro ou mesmo desespero, especialmente se eram usuárias de drogas. Algumas poucas recebem visitas dos filhos ou filhas, mas outras nem sequer sabem onde eles estão. Esta é uma das questões-chave que chama a atenção no documentário: a maternidade.
A maioria das detentas já era mãe solo quando ainda não tinha sido presa. Quando a mãe vai para a prisão, a estrutura familiar, antes já difícil ou precária, se torna extremamente vulnerável. 
As presas grávidas ou lactantes, que podem conviver com seus bebês por determinado período, são separadas depois de seus filhos pelas regras existetes, tornando a prisão ainda mais dolorosa emocionalmente pela ruptura da convivência. São várias as que relatam, em lágrimas, que o que mais desejam é ver os filhos. As crianças geralmente ficam com parentes, mas as que não têm familiares dispostos a assumi-las são destinadas a abrigos ou, quando maiores, acabam em situação de rua e repetindo a trajetória das mães após crimes como roubo, furto ou tráfico de drogas.

Uma das entrevistadas, com aparência jovem, conta que nasceu no presídio, enquanto sua mãe cumpria pena. Como a mãe não tinha ninguém para criar a criança, a menina ficou com uma amiga da mãe quando a bebê não pôde mais ficar na prisão. Depois de adulta, a filha seguiu o caminho da ilegalidade e terminou também no presídio. Além da questão humana e emocional, esta realidade se mostra uma das mais preocupantes exibidas pelo documentário, porque é prova de que é necessário ajudar estas famílias se não se quiser que as histórias se repitam.
O longa-metragem apresenta uma realidade complexa. O Estado tem suas leis e a sociedade pede que elas sejam cumpridas. Mas o que se apresenta no filme é que o Estado destina muito pouco recurso para a sobrevivência e recuperação das apenadas. Faltam, por exemplo, desde materiais de higiene, como absorventes, até um número maior de defensores públicos que possam ouvir e defender as necessidades destas mulheres. Aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, o filme convida a uma reflexão e ação conjunta em busca de alternativas. 
“Olha pra Elas” é um filme que apresenta uma realidade dura e difícil, que não parece contar sequer com uma luz no fim do túnel. Situação que a equipe de Tatiana e Renato conseguiu exibir com sensibilidade, mostrando que ganhou a confiança das entrevistadas e que, através do cinema, faz um alerta social. É uma obra que denuncia questões de direitos humanos que têm graves consequências para as atuais e as próximas gerações. Tudo isto faz com que este seja um dos filmes mais importantes lançados neste ano no Brasil até agora.


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