Dos livros ao Facebook: a poesia que pode ser fácil

Dos livros ao Facebook: a poesia que pode ser fácil

Caderno de Sábado fala sobre a importância do texto lírico

Júlia Endress

Drummond e Quintana, a representação pública da poesia na Praça da Alfândega

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Historicamente vista como um gênero literário difícil, a poesia vem ganhando nova "roupagem" a partir de uma geração que a percebe em sua simplicidade, algo que até então poderia ser imperceptível para muita gente. Para alguns dos novos expoentes, o segredo está em percebê-la como algo fácil.

Esse é o pensamento do professor e poeta Guto Leite, 33 anos. Segundo ele, a poesia vive atualmente em um cenário acuado, onde não se dissemina porque não se enquadra no padrão de leitura do mundo interconectado. Hoje, ler é uma tarefa realizada, muitas vezes, enquanto se faz outras coisas. Porém, isso não funciona com poemas, que precisam de atenção redobrada para serem compreendidos em toda sua extensão. 

E por mais que haja muita complexidade escondida em suas linhas, eles podem ser analisados, de forma geral, por sua essência mais simplista. “Se entendermos a poesia como uma forma de se relacionar com a linguagem, com o mundo e consigo, a sensação de estranhamento diminui”, diz Guto, acreditando que tal fórmula ajuda os jovens, principalmente, a se identificarem com o gênero.

Tal identificação, aliada à capacidade de sentir, é justamente um dos pontos que fazem a estudante Camila Maccari, de 22 anos, encantar-se com o texto lírico. “De você acabar de ler algo e pensar ‘é isso mesmo’, pensar, mesmo que momentaneamente, que algo em você mudou. Perceber, mesmo que timidamente, um pouquinho mais do mundo lá fora, sair um pouco de si”, expressa, definindo um pouco do que é sentir-se poeta. A guria, que escreve desde os seis anos, com incentivo dos pais e o sonho de ser como os grandes escritores do estilo, cresceu dividindo a atenção entre diversos tipos de leitura, mas guardou um espaço especial para a poesia em sua vida.

Apesar disso, ela confessa não saber o que a fez gostar da modalidade desde cedo. “Talvez seja automático transformar algo em poesia. E também funciona como um abridor de espaço na mente. Às vezes, algumas coisas só param de ser remoídas quando tiro elas de mim”, relata.

Usar a poesia como forma de expressar sentimentos que estão sendo remoídos é, por sinal, uma maneira natural de concebê-la porque, conforme lembra Guto, é uma maneira de manter-se vivo. Sendo assim, é de se esperar que cada poeta ou aspirante, sempre se aproprie dela em causa própria. Isso, contudo, também revela um dos motivos a que o professor credita a vontade dos jovens em investirem no estilo: a vaidade. “Há certa atmosfera charmosa e tola de 'ser poeta', de parecer desencontrado, anacrônico até, de mostrar-se pela linguagem”, afirma, dizendo não ser contra ao comportamento e até sentir-se um pouco parte desse time, do qual de tempos em tempos surge um escritor com grande vocação.

Se todo esse cenário ainda não garante a pulverização massiva do gênero, assegura, pelo menos, a sua sobrevivência. Apesar de alertar que o universo das redes sociais pode reduzir a dimensão da poesia devido à grande quantidade e intensidade de conteúdo a que estamos expostos, Guto destaca que ela está relacionada ao engajamento. Ou seja, a aparente superficialidade da internet gera também certa propagação e dá novo fôlego ao texto lírico, impedindo a sua extinção e trazendo até novos rumos.

O presente e o futuro da poesia continuam sendo discutidos no Caderno de Sábado deste final de semana, que tem a participação de quatro grandes poetas do Rio Grande do Sul. Em artigos, Luiz de Miranda, Armindo Trevisan, Ligia Savio e Gabriela Silva revelam o que os instiga e faz com que continuem se dedicando ao gênero.

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