E² Cia de Teatro e Dança lança temporada digital de "Agnes & Alice"

E² Cia de Teatro e Dança lança temporada digital de "Agnes & Alice"

Solo de dança protagonizado por Eliana de Santana segue na temática do coletivo, que investiga o sujeito anônimo, que tende a ser invisibilizado e a ocupar papéis restritos e pré-determinados na sociedade contemporânea

Correio do Povo

Diretora e intérprete Eliana de Santana em cena do espetáculo

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É parte da pesquisa realizada pela E² Cia de Teatro e Dança, cujo tema e inspiração - artes plásticas e música - contribuem na construção de uma poética ligada às questões do acaso na criação e à temática do sujeito anônimo. Os temas estão representados pelas figuras da pintora Agnes Martin (1912-2004) e da pianista e compositora Alice Coltrane (1937-2007), ambas artistas que escolheram o isolamento e a busca interior para trabalhar em suas respectivas obras. A performance será veiculada pelo Youtube do Portal Mud (youtube.com/museudadanca) a partir desta sexta, 13 de agosto, às 20h. Até o dia 24 de agosto, o vídeo estará disponível neste mesmo canal em tempo integral. Em cena, está Eliana de Santana, intérprete e diretora da obra.

 A pesquisa para a confecção do espetáculo, cuja dramaturgia é amparada nas ações de um corpo afetado pelo ambiente e o tempo da apresentação, busca traçar um paralelo entre a dança e as artes visuais. Nesta versão online, uma nova figura histórica também passou a fazer parte das inspirações do grupo: trata-se de Vivian Maier, fotógrafa norte-americana que se especializou na chamada street photography. Por muito tempo ela trabalhou como babá, embora andasse sempre acompanhada de uma câmera, que usava durante seus passeios, registrando a vida em Chicago secretamente. Seu trabalho como fotógrafa foi ignorado em vida e, após sua morte, foram encontradas centenas de vídeos e fotos que se tornaram material de referência na área da fotografia. 

No espetáculo, a busca pelo esvaziar-se (no sentido simbólico que os poetas e místicos dão a esta expressão) resulta na construção de um corpo/espaço traduzidos como permanência, feminino, vazio, desaparecimentos. No cenário, Eliana dança entre vasilhames, travessas, jarros e copos de vidro, em variados tamanhos e volumes, contendo leite. Essa escolha, que gera muitas leituras, ressemantiza o próprio uso do copo de leite - um símbolo usado por neonazistas em defesa da ideia de supremacia branca. A obra também revela um contraponto com o momento em que vivemos, em que tudo quer aparecer. É dessa ideia que emergem com mais força as figuras de Agnes Martin e Alice Coltrane. Embora sejam artistas cujos trabalhos tenham alcance e reconhecimento mundial e, portanto, estejam longe de ser consideradas anônimas, a trajetória de ambas rumo a uma vida silenciosa e de um afastamento voluntário interessam como referência para a criação desta obra.

Referências
Agnes Martin foi uma pintora americana nascida no Canadá cuja obra foi definida como um "ensaio com discrição sobre interioridade e silêncio". Martin é considerada uma referência para a pintura abstrata minimalista e seu caminho foi marcado por uma vida dedicada à solidão, o que se reflete em suas obras, influenciadas pela filosofia zen e que apontam para um lugar de desaparecimentos.

Alice Coltrane foi uma artista negra americana, pianista reconhecida como um dos grandes nomes do jazz e da música instrumental, e que, em dado momento, aderindo ao hinduísmo, guiou sua própria sonoridade na direção de escalas e estruturas cada vez mais orientais – apontando para a natureza religiosa que seria o norte de sua vida até seu desaparecimento - criando uma música de ligação com o divino. 

"As duas artistas saíram do turbilhão, se recolheram. Elas escaparam do circuito social em direção ao interior delas mesmas e isso refletiu nas suas obras", conta Eliana. Alice Coltrane, cuja música também inspira a trilha e a fisicalidade de Agnes & Alice, ocupa um lugar poético e sonoro representado por um jazz tênue, com uma presença forte da harpa. Já Agnes é criadora de obras que exigem uma apreciação mais aprofundada. "Para você ver o que ela cria, é preciso se aproximar", reforça Eliana. Em ambas, o desaparecimento no sentido poético fez parte de suas trajetórias. 

E² Cia de Teatro e Dança
Dirigida por Eliana de Santana, atua na cidade de São Paulo desde 1996, realizando uma pesquisa em dança contemporânea, que tem como ponto de partida a referência/inspiração na literatura brasileira e na obra de diversos artistas visuais, investigando poéticas ligadas à temática do sujeito anônimo. Artista da cena, intérprete e coreógrafa, Eliana da Santana iniciou-se no teatro em 1984, estudando e trabalhando com diretores como Antunes Filho (CPT), Antônio Abujamra (“A Serpente”) e Gerald Thomaz (“Un Glauber”). Em 1996 estreiou “Tragédia Brasileira”, seu primeiro trabalho autoral de dança, inspirado em texto homônimo de Manuel Bandeira, pesquisa que teve apoio da Bolsa Rede Stagium. Criou o solo “Das Faces do Corpo”, inspirado na obra fotográfica de Arthur Omar, pesquisa contemplada com a Bolsa Vitae de Artes.  Em 2006 estreiou “Francisca da Silva de Oliveira – Chica da Silva – Um Esboço”, pesquisa contemplada com o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna. Em 2008/2009, criou“... e das Outras Doçuras de Deus”, inspirado em crônicas de Clarice Lispector. Com este espetáculo, recebeu em 2011 o Prêmio APCA na categoria Intérprete Criador em Dança. 

 


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