Em novo livro, Clara Averbuck recupera personagem feminista

Em novo livro, Clara Averbuck recupera personagem feminista

"Toureando o Diabo" foi concebido de maneira independente e terá tiragem de 3 mil exemplares

AE

Clara Averbuck e a ilustradora Eva Uviedo

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Camila começa "Toureando o Diabo" - o novo romance de Clara Averbuck, - retirada em um chalé "no mato", profundamente incomodada com barulho de cigarras que não a deixam escrever. "Por trás de toda grande mulher tem um homem para encher o saco e sugar sua vida e seu tempo", reclama o alter ego da autora, que apareceu nos primeiros romances de Clara, lançados no início do século. E o livro, como a escritora deixa claro na dedicatória, tem um alvo certo: "Para as minas".

Nos seus primeiros romances - "Máquina de Pinball" (2002) e "Vida de Gato" (2004) - a escritora fez a personagem ser "uma mulher forte, que se posicionava, não deixava nada barato e que ia atrás do que queria, porém, ela era construída para ser 'diferente das outras'", diz Clara. "Agora, ela é construída para ser todas as outras." Uma diferença fundamental que confirma a mudança da ficcionista e ajuda a pavimentar - por meio da arte - sua luta diária contra o machismo e a misoginia. E que sofre resistência, muitas vezes agressiva.

"Acho que (essa resistência) vem em parte por ignorância, porque as pessoas não sabem exatamente o que significa, acham que já está tudo resolvido e não precisa mais lutar por nada, e em parte porque vivemos em uma sociedade machista e misógina que não quer nem pensar em rever seus valores ou mexer em sua estrutura", reflete a autora - ela criou e escreve regularmente para o site Lugar de Mulher, ministra oficinas de criação literária para mulheres, recentemente escreveu e lançou um documentário e mantém-se muito ativa nas redes sociais.

Questionada sobre o mar de ódio e preconceito que costuma correr em caixas de comentários e demais interações políticas na web, ela demonstra paciência. "O resultado positivo é muito maior do que qualquer infeliz que queira destilar seu ódio. Para cada pessoa triste que me xinga de feminazi tem 20 mulheres que se beneficiaram com algum texto. E os haters que se afoguem falando sozinhos com seu ódio, porque o problema deles comigo, evidentemente, é deles." Evidentemente. 

A questão das redes passa de raspão pelo romance, que, na verdade, é recheado de sexo - uma chave que a personagem aproveita para avançar e aprender entre um romance e outro, e que cria uma catarse, que, na verdade, também é política. "Ela é uma personagem com nuances; é forte, mas tem fragilidades e as expõem e isso está supervisível nos desenhos. A nudez da personagem tem mais a ver com essa transparência do que com nudez erótica", diz Clara. "A personagem faz e pensa milhões de coisas em relação a tudo, inclusive sobre isso (sexo). Então, no desenho, tentei mostrar de uma forma sutil, não tem nada explícito", explica Eva Uviedo, coautora, ilustradora nascida na Argentina e radicada em São Paulo há anos. 

O livro nasceu de um crowdfunding - a vontade anunciada das duas autoras em ter liberdade total no processo de composição e edição do livro funcionou e o resultado as deixou "felicíssimas", segundo Clara. O livro tem um formato quadrado e na interação contínua entre texto e ilustração mora um de seus grandes trunfos. A ausência de prazos e pressões de um editor possibilitou um trabalho mais concentrado no processo artístico. O desafio, agora, é a logística de vendas e distribuição.

"Estamos vendendo no site, vamos vender em algumas feiras independentes, não vamos distribuir da maneira tradicional", explica Clara. "Só neste mês que estive com o livro na mão e passei um dia na Feira Plana já ganhei mais do que com os seis primeiros meses do meu último romance. É outra lógica." Algumas de suas contas, diz, já serão pagas com o dinheiro do livro - cenário pouco frequente quando se trata de literatura contemporânea no Brasil. A tiragem é de 3 mil exemplares.

"O mercado todo está em transformação. Assim como tem esse movimento de autores e pequenas editoras, há uma cena se formando com feiras e livrarias especializadas em publicações independentes, como a Banca Tatuí e a Monkix, que cobram taxas muito mais razoáveis e têm uma relação melhor com o autor", analisa Eva. Ela explica também que o projeto vai se desdobrar para outros suportes com uma parceria com a loja online Divindade, como papel de parede, quadros e outros objetos relacionados à obra.

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